quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Sobre Dormir no Sofá

Quando você me vê com meus amigos bebendo num boteco, eu sou um vagabundo. Isso não é ambiente prum homem casado decente estar. E quando eu chego em casa cheirando a cerveja e ela me põe pra dormir no sofá, ela tem toda a razão do mundo. Mulher nenhuma é obrigada a dormir ao lado de homem fedendo a cachaça e a ambiente vulgar.

O que ninguém vê é que eu trabalho todos os dias pra sustentar a casa onde ela mora, sabe? Que mesmo nos meus dias de folga, eu tô fazendo bico, procurando um jeito de ganhar mais dinheiro pra manter o padrão de vida que eu me comprometi a dar. E não é só moradia, água e energia. É TV a cabo, é viagem, é roupa, é sapato, é perfume, é óculos escuro, é carro pra ver a mãe todo dia. É comer fora e é conta do celular. E mesmo assim, ela não acha que é o suficiente. A gente devia ter uma empregada doméstica pra cuidar desse lar. Porque ela também trabalha fora, ora essa! E ela não é obrigada a ficar arrumando as coisas só pra eu bagunçar.


Eu era um cara remediado antes dela, sabe? Minha vidinha tava começando a ficar no lugar. Hoje eu tô devendo o banco e o que eu ganho não dá conta de manter a gente. Não dou conta mais de pagar as parcelas do carro e ando de a pé, descendo e subindo morro todo dia pra ir trabalhar. Ela não diz na minha cara, mas as coisas já não são mais as mesmas entre nós. Ela mudou depois que o cinto começou a apertar. A gente briga bem mais que antes e parece que tem um abismo entre mim e ela. Fiquei deprimido, engordei e tô tendo problema capilar.


A convivência tá difícil, às vezes eu penso que devia ir embora. Que depois que ela entrou na minha vida, o trem começou a descarrilar. Mas o pior de tudo é que eu acho que amo mesmo a desgraçada. Porque só de me imaginar sem ela eu já fico sem ar. Pior de tudo é que ela gostava tanto de sexo no início. Eram cinco vezes no dia, sob o sol ou sob o luar. Agora é uma vez a cada duas ou três semanas. E ainda assim, é só se eu implorar.


Mas ela tá certa de me colocar pra dormir na sala. Só porque eu saí com meus amigos pra beber ela já avança na minha jugular. Porque ela é uma mulher decente e eu devia respeitá-la. Porque ela é uma mulher da igreja e tem uma reputação a zelar.


Ainda assim, eu tenho um negócio pra te dizer, minha amada. É que com isso tudo o que tá acontecendo, você nem percebe que você tá quase ficando sem par. Eu não sou homem que trai, que bate ou que xinga. Só que uma hora, eu vou me cansar. Então, eu resolvi voltar a tomar minha cerveja que você tando odeia. Porque é o momento que eu tenho sossego, já que você não frequenta bar. E então eu chego em casa, fedendo cachaça. Mas foi porque esse é o único jeito que eu encontrei pra não deixar de te amar.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Sobre Receita da Felicidade


Há dois anos atrás, perdi quinze quilos e hoje, engordei eles e mais alguns de volta. Já joguei a culpa em mil coisas. Há dois anos atrás, passei em um concurso público federal e hoje, estou passando por problemas profissionais extremamente difíceis. Já joguei a culpa em mil coisas. Há um ano e meio atrás, eu estava vivendo plenamente o melhor momento emocional da minha vida e hoje, estou pensando que morrer nem sempre é uma opção tão ruim. Já joguei a culpa em mil coisas.

Então, eu estava aqui agora lendo sobre novos produtos e dietas que prometem o emagrecimento rápido e indolor quando me toquei que eu já sei a receita mágica. Que eu mesma pude testar, comprovar e usufruir dos resultados. E isso me fez refletir sobre como tenho encarado a vida.

O que eu descobri é que eu sou mimada pra caralho. Eu tive pais incríveis - e mesmo com os nossos problemas monstruosos em alguns setores da vida - e eles, para o bem ou para o mal, sempre fizeram com que eu me sentisse segura DEMAIS. A sensação que meu irmão e eu sempre vivemos é a de que independente da cagada que façamos, sempre teremos pra onde correr. Eu também conto com amigos muito leais, mas a lealdade deles também colabora nessa segurança excessiva que eu sinto. Eu sempre tenho o apoio deles, mesmo quando estou errada - e percebi que eu também sempre os apoio, até mesmo quando não concordo com o que eles estão fazendo. Pra completar, eu sou extremamente inteligente - desculpaê, mas sou mesmo - e isso faz com que eu sinta que posso fazer o que quiser e conseguir o que quiser apenas por me considerar intelectualmente superior. Some tudo isso e vocês descobrirão que na verdade eu sou preguiçosa, irresponsável, acomodada e sem vergonha.

Eu sempre me considerei diferente da maioria e não sei como pude me enganar por tanto tempo. Pessoas diferentes da maioria fazem a diferença e tem muito tempo que eu não sei que sensação é essa. Eu sou só mais uma na multidão, comum e vulgar. Não usei nenhum dos subsídios positivos que a vida me ofereceu pra fazer algo realmente bom, seja por mim, seja pelo mundo. Ocupo mais tempo da minha mente e da minha vida inventando desculpas pra justificar meus fracassos e minha infelicidade do que fazendo algo real.

Consciência é um negócio complicado. Eu sei que eu poderia resolver uma porcentagem considerável dos meus problemas apenas tomando a iniciativa de resolvê-los, mas em algum momento, eu perdi essa capacidade. Hoje, eu evito atender telefonemas sobre problemas, evito falar sobre assuntos sérios, evito refletir sobre os rumos que minha vida estão tomando. Não sei bem quando foi que comecei a ficar tão desprezível e o pior é que não estou me esforçando muito pra mudar isso.


Se meu conselho serve de algo, ouça: Desista dos milagres! Não há fórmula mágica! Se você se sente cansado durante a manhã, durma mais cedo. Se quer emagrecer, feche a boca e malhe. Se quer ter sucesso, rale e se dedique. Abandone esse relativismo moral. Pare de usar sua visão seletiva. Há gerações que dedicação, disciplina e iniciativa geram o mesmo resultado: sucesso. Então não se baseie em exceções. Não culpe Deus, a sociedade capitalista, o sistema opressor e *insira seu clichê aqui*. A culpa é sua. A culpa é toda sua. Recebemos a receita da felicidade há muito tempo e também todos os ingredientes. Se não estamos utilizando-os na medida certa, o problema é nosso.

Você não é responsável eternamente apenas pelo que cativa. Mas também pelo que cultiva. E como cultiva. E já diria Marcos Paulo e Rulian (depois parafraseados pelo Latino, aquele "gênio"): "Quem planta sacanagem colhe solidão. Eu tô plantando comidas calóricas, preguiça, procrastinação, covardia e mágoa.

Ao menos, imagino que esse post seja a primeira semente de vergonha na cara.