sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Sobre Apocalipse Zumbi


Eu fui criada pra ser uma estrela. Sempre precoce, desde muito novinha eu era uma daquelas crianças que chama a atenção de todo mundo por se comportar como se fosse mais velha. As palavras nunca vieram com errinhos fofinhos, mas eram sempre bem pronunciadas. O raciocínio e a lógica surpreendiam. Eu sempre fui uma menina de futuro promissor. Tão inteligente, com tanto potencial. Gabriela vai ser doutora. Gabriela vai ser um sucesso.

E assim se seguiram os anos da infância e da adolescência. Aluna inteligente - um pouco indisciplinada - e popular, notas altas, aprendizado rápido. Eu era aquela que faria cursos renomados, que iria longe. Com dezesseis anos terminava o terceiro ano e já estaria em uma faculdade pública. Com vinte e dois no máximo já estaria formada e passaria em um concurso público. Meu destino estava traçado. Ascensão meteórica.

Assim foi por muito tempo, até que de repente eu estava em uma faculdade que eu odiava - e quem lê esse blog há algum tempo já cansou de saber essa história. E foi então que eu percebi que tudo o que eu tentei ser, a vida inteira, foi o que as pessoas esperavam de mim.

Pensei que ao abandonar a faculdade - ó, que rebelde - eu tinha mostrado que não iam mandar em mim. Mas ledo engano. Fiquei parada, em estado de choque, sem fazer a menor ideia de quem sou ou o que fazer. Então fiz... Concursos públicos! Eu jurando que fugia do que me diziam que era certo, mas nunca trabalhei em uma empresa privada, acreditam? Estava enraizado em mim que um emprego só valia a pena se fosse com a estabilidade de um concurso público no qual eu deveria passar e ficar o resto da minha vida.

Hoje eu percebo que eu nunca existi. Não existe Gabriela. Existe apenas um fruto das inúmeras expectativas em mim depositadas. Eu nunca pude descobrir o que eu quero, o que eu amo, o que eu gostaria de ter ou ser. Eu vivo pensando no que os outros estão pensando de mim. Tudo o que eu faço não é voltado para satisfação pessoal e sim, para reconhecimento alheio. Eu nem mesmo posso dizer que sou frustrada, porque basicamente, é impossível frustrar alguém que não tem desejos próprios.

Eu queria morrer. Sem dramas ou nada do tipo, mas eu queria por um ponto nisso. Eu nunca existi como pessoa, apenas como um reflexo de vontades alheias. E eu frustrei essas vontades. Nem competência pra isso eu tenho.

Talvez se eu ficar pra sempre aqui trancada no quarto, eu acorde um dia e descubra que o apocalipse zumbi chegou.

Aí sim.