domingo, 20 de fevereiro de 2011

Sobre Adeus

Dia desses reencontrei um dos meus ex-colegas de trabalho e uma semana depois, recebi uma ligação do meu ex-chefe que estava se aposentando naquele dia. O comentário dos dois foi o mesmo: Por que você foi embora sem se despedir de ninguém? Ficou com raiva da gente?

Não, pelo contrário. Eu não me despedi porque não sei dizer adeus ao que eu amo. E eu amava meu trabalho, amava as pessoas com quem eu trabalhava e eu simplesmente não sabia como dizer tchau. Eu não queria uma festa de despedida como tantas pelas que eu passei em quanto estava lá, não queria fazer um discurso enquanto chorava, não queria abraçar todo mundo, não queria encarar o fato de que algo que eu realmente amava tinha acabado. Eu só queria ir embora como eu ia todos os dias. Eu deixei pra trás coisas pessoais minhas que jamais vou buscar, porque assim, enquanto eu saía daquela porta pra sempre, eu tinha a sensação de que na segunda-feira seguinte eu estaria de volta. Assim eu deixei a sensação de que eu ia voltar a qualquer dia.

Agora eu estou com sete malas na sala da minha casa que só será minha casa por mais essa semana, e esse é só o começo. Ainda faltam tantas coisas pra serem embaladas que não sei se conseguirei a tempo. A questão é que eu nunca soube dizer adeus a nada, nem a coisas materiais. Não jogo as roupas velhas fora, não jogo objetos velhos fora, não jogo papéis velhos fora. Eu estou envolta em um furacão de bilhetes antigos, fotos antigas, roupas antigas, cheiros antigas e lembranças antigas.

Eu amei tanta gente e tanta gente me amou. E é tão difícil entender porque não nos amamos mais, porque essas pessoas não fazem mais parte da minha vida e eu não faço parte da vida delas. Eu tenho vinte e três anos e ainda estou aprendendo a aceitar a idéia de que os momentos e a maior parte das pessoas são passageiros. Ainda dói achar bilhetinhos antigos, velhos presentes, velhas embalagens. Eu não sei dizer adeus, mas eu não controlo o destino. Tem coisas que simplesmente tem que ir, mesmo que você não queira.

E eu não sei o que adianta eu levar comigo todos os papéis e fotos quando eu tô deixando pra trás minha casa pra ir pra uma casa que deixou de ser minha há muitos anos. Quando eu tô deixando um dos meus melhores amigos, o cara que mora comigo há mais de um ano. Quando eu tô deixando os sanduíches no meio da tarde, os filmes ruins, as séries que eu ensinei ele a assistir, as cervejas nos butecos perto de casa, o jantar feito à luz da lanterna do celular quando a energia acaba, as constantes visitas, as raivas e as risadas. Quando eu tô deixando meus melhores amigos, minhas melhores histórias e meu melhor eu.

No fim, eu sempre tenho que abandonar tudo que amo. E dessa vez, não vou nem poder deixar minhas coisas pra trás pra fingir que vou voltar. Dessa vez, nenhuma recordação que eu levar vai ser o suficiente. E mesmo que um dia eu volte, nunca vai ser igual. Nunca é. Eu quero que tudo que eu amo dure pra sempre e estou me fodendo se isso é pedir demais, se isso nunca vai acontecer. Eu devia me acostumar, mas eu só tenho a sensação de quanto maior a sua capacidade de amar, maiores as chances de você tomar no cu.

Eu já não ligo mais de ir embora, eu já desisti. Tô pronta pra lidar com meus pais e as pessoas me lembrando de que eu acabei com meu futuro promissor. Mas enquanto eu olho minhas malas e assisto Vingança Entre Assassinos junto com o Jorge na sala daquela que foi minha casa nos últimos dois anos, eu fico apavorada com a idéia de que as pessoas também desistam de mim.

Eu só tenho medo de me tornar um bilhete amarelado na gaveta de alguém.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sobre Fenômeno

Como corint(h)iana, me vejo na obrigação de uma nota no dia de hoje. Durante todo o tempo do blog, tenho evitado postar sobre futebol. Não para evitar os conflitos e implicâncias típicas, mas para evitar ter que moderar os comentários, visto que esse é um tema que sempre levanta polêmica, além de atrair grosserias que transformam meu esporte favorito - depois de levantamento de copo - em algo vulgar e desagradável.

Somente quando o Corinthians caiu pra segunda divisão e quando eu estava no meio da torcida que lotou o Pacaembu ano passado no jogo do centenário cantando "parabéns pra você" eu senti a emoção que senti hoje ao ver um dos meus heróis dizer que não aguenta mais. Ronaldo Fênomeno, o cara que foi um herói brasileiro, se aposenta acima de tudo, como um herói corintiano. Quando chegou, levantou a moral do time, a fé da torcida e a expectativa de não assistir só um jogo de futebol, mas um show particular.

Com um histórico de lesões, um evidente excesso de peso e uma habilidade incontestável, Ronaldo mostrou que muitos podem aprender a jogar futebol, mas só os fenômenos nascem sabendo. Humilde, bem humorado e guerreiro, jogou muita bola nesse tempo em que esteve representando meu time e eu, como torcedora do Sport Club Corinthians Paulista, lamento muito que agora só poderei vê-lo em campo através dos vídeos que mostrarão para as gerações futuras suas memoráveis performances.

Vai, Ronaldo. Vai, Fenômeno. E obrigada por tudo o que fez por estes trinta e três milhões de loucos que compõe a nação corintiana. Porque podemos não ter uma Libertadores, mas temos o orgulho de termos te ensinado a amar esse time.

Obs.: Comentários ofensivos serão deletados ;)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sobre Evolução

A tarde está quente e não há nada pra fazer. Então escrevi algo que há muito tempo venho pensando. Essa é a introdução do meu livro que eu jamais escreverei.

Lembro-me de um dia em que minha professora de biologia nos falava das possíveis evoluções genéticas humanas nas quais perderíamos partes do corpo meramente estéticas, como o cabelo e o mindinho do pé, pois o corpo descartaria o desnecessário. Não acredito nesse tipo de evolução mais, não a essa altura. Talvez abandonemos os cabelos quando a água potável acabar e seja mais importante sobreviver que tomar banho, e aí já não teremos sapatos para apertarem os mindinhos. Mas será uma opção - ou a falta de uma - e não creio que isso seja uma evolução.

Acredito que eu sou a personificação da evolução humana. Ainda tenho meus cabelos e meus dedinhos, que além de ficarem apertados nos sapatos, possuem um detector natural para quinas de móveis, mas tenho um intelecto superior. Não porque eu seja mais inteligente, esperto ou qualquer um desses outros conceitos subjetivos. A diferença é que eu sou o tipo de humano que mais dista dos animais. Meus instintos são preservados por mera necessidade de sobreviver, mas até hoje, eu nunca os usei. É tudo uma questão de raciocínio e mesmo quando minhas atitudes condizem com os instintos naturais, acredite, eu pensei antes.

Me chamo John. Não que meu nome seja John, mas é assim que eu gosto de me chamar. Isso porque é mais fácil pra você me respeitar se meu nome for John. Jhons são agentes do FBI, são senadores incorruptíveis que ambicionam a presidência dos EUA, são pais de família que se tornam heróis salvando o país de uma grande catástrofe. Se eu dissesse que me chamo João, que imagem você faria? João, meu avô, contador de histórias. João, peão que trabalhou na obra lá de casa. João, seu João. No máximo, eu poderia adicionar um "Pedro" ou "Henrique" na frente do João e então, você me associaria com um mimado playboy carioca que sai à noite socando mulheres em pontos de ônibus.

O nome é muito importante em uma história. Você idolatraria Tyler Durden da mesma forma se o nome dele fosse João Silva? "As pessoas estão sempre me perguntando se eu conheço João Silva." Conheço muito o seu João, porteiro do meu prédio.

Eu sou homem, ao menos pra contar essa história. Porque histórias assim não podem ser contadas por mulheres. Mulheres são loucas sempre desesperadas por um relacionamento. E quando não, quando estão focadas na carreira, quando gostam de hobbys masculinos, elas estão só tentando se auto-afirmar. Elas estão tentando só provar aos homens que são iguais, que podem ser iguais. Elas não são aquilo, mas elas querem ser admiradas, e aquela é a forma que encontraram pra compensar o fato de que talvez não tenham competência para um relacionamento. Ou talvez elas só prefiram se apegar a algo que só dependa delas do que se amarrarem em uma relação que provavelmente irá fracassar.

Tudo fracassa mais cedo ou mais tarde.

É claro que eu não sei se nada disso é verdade realmente. Mas a verdade não importa aqui. É isso o que eu penso. É isso o que eu penso que você pensa. É isso o que você pensa. O fato é que essa história não pode ser contada por um João ou por uma mulher. Meu nome é John e essa é a história que eu acho que você quer ouvir.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Sobre Felinos

Ele era um gato daqueles comuns, por isso, não era do tipo que as pessoas olhavam com atenção. Era só um gato de rua acinzentado como a própria rua em que morava. Mas era esperto, como os gatos de rua costumam ser. Havia nele algo vivo, algo que gatos caseiros não costumam ter. É claro que todos os gatos são naturalmente espertos, mas os gatos como ele... Ele era um gato que percebeu, quando filhote sozinho e assustado, que ficar miando não ia resolver o problema. Que percebeu que a mesma mão que dá comida e acaricia pode ser aquela que te pega pelo pescoço e te joga contra o muro. Que percebeu que não há compaixão no mundo pela qual valha a pena baixar a guarda. Gatos como ele eram mais que espertos. Eram sobreviventes.

A vida de um gato pode ser bem saborosa, principalmente pela sua essencial falta de obrigação. Encontre comida e água quando precisar e qualquer fio dental pendurado em um lixo pode ser uma diversão de horas. Mas acontece que esse gato era esperto demais. Ele um belo dia se entediou. Depois de finalmente conseguir invadir um apartamento no primeiro andar de um prédio - diversão essa que durou semanas enquanto ele tentava de todas as formas achar o jeito certo de escalar até o eu objetivo - as coisas ficaram meio paradas. Ele precisava de mais.

Atravessava a rua, distraído com seus próprios projetos felinos, foi atropelado e morreu. E então ele se levantou, lambeu a pata esquerda e pulou sobre um muro onde picharam "amor é o caralho". Com sua sabedoria de gato, ele sabia que tinha morrido assim como sabia que um cheiro de peixe vinha de algum lugar ali perto. E então ele foi atrás do peixe e depois, resolveu testar seu novo hobby.

No primeiro dia, ele entrou numa briga com um cachorro gigante. Há muito tempo, ele morria de vontade de arranhar a cara do dito cujo, mas isso custaria sua vida. Custou, mas depois de machucar bastante o adversário e morrer, levantou-se, arrepiou-se inteiro na direção do cão horrorizado e saiu correndo passando pelas grades estreitas do portão. Em seguida, entrou no supermercado da vizinhança a toda velocidade e saiu quicando entre as prateleiras derrubando o máximo de produtos possíveis. A dona do supermercado já havia o enxotado com água várias vezes e ele sabia que a ofenderia profundamente se bagunçasse seu amado comércio. Foi acertado por uma paulada e morreu na hora, sendo jogado no lixo. Acordou satisfeito pois achou comida ali e achou que era o suficiente por um dia. Foi para seu canto no telhado acima do hospital e dormiu.

Acordou no outro dia determinado a pegar o maior número de pombos que havia na alta torre da igreja. Aqueles pombos eram burros o suficiente para o entreter por horas, mas em algum momento ele despencaria. E despencou. A torre era alta demais até mesmo para seus instintos felinos e lá se foi mais uma vida. Demorou a acordar, mas era cansaço por correr atrás dos pombos. Então se escondeu e esperou passar um senhor que certa vez arrebentara sua perna com uma bengala só porque ele tentou comer seu canário de estimação. Pulou na cara do senhor e afiou suas unhas no rosto sulcado do homem. Foi retirado de cima pela união dos passantes - que também ganharam sua quota de arranhões - e teve seu pescoço quebrado.

Estralando os ossos do pescoço, saiu bamboleando depois de se certificar que as pessoas se dispersaram e a ambulância foi embora. Decidiu que naquela noite seria legal dormir perigosamente e então enfiou-se num aconchegante cano de descarga de caminhão. Há muito tempo sonhava em dormir naquele cano, mas desde que um companheiro de pobreza seu morrera intoxicado ali, nunca quis arriscar. E então dormiu e gostou, morrendo só na manhã seguinte e acordando muito bem disposto.

Por fim, traçou um novo objetivo. O primeiro andar era para os fracos. Queria o décimo, agora. Estudou a estrutura que o levou até o primeiro andar - agora era fácil - e começou a galgar os degraus que o levariam a ser o senhor de todos os gatos. Suas manobras agora eram arriscadas e imprudentes, mas contava com os reflexos de um gato confiante. Alcançou seu objetivo no fim do dia e como presente dos deuses, havia um jantar servido na mesa e a janela estava aberta. Comeu até quase explodir e então, foi enxotado por uma dona de casa indignada e pasma. Pulou pela janela satisfeito e pensando que seria bom uma queda-livre pra chegar lá embaixo mais rápido.

Infelizmente era a última de suas sete vidas e ele morreu pra valer dessa vez. Mesmo sendo um espécime genial de felino, gatos ainda não sabem contar.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sobre Deus

Esses dias, Deus chegou aqui.
- Oi.
Quase morri de susto, mas como de praxe, fingi que era perfeitamente normal uma entidade divina aparecer na minha frente e forcei um ar de naturalidade.
- Oi.
Eu não sei como, mas eu sabia quem ele era. Acho que quando se está diante de Deus, você não tem dúvidas. É claro que você se sente compelido a pedir que ele divida a água empoçada na pia entupida, multiplique aquele último pedaço de torta e transforme a água da geladeira em tequila. E eu acho que ele sabe disso, pois ele me encarou com uma cara tão pouco encorajadora que eu desisti.
- Preciso conversar.
- E?
- Quero que você me escute.
- Eu? Mas a que devo a honra? - Ironia, trabalhamos.
- Não sei, acho que é o fato de você ser egocêntrica o suficiente pra achar que eu tenho tempo pra me dedicar a ficar atormentando a sua vida por diversão.
- E não tem?
- Tenho todo o tempo do mundo.
Arqueei a sobrancelha e fiquei olhando pra cara dele como se minha expressão pudesse dizer que aquela conversa deveria se encerrar ali. Mas ele parecia não se importar. Na verdade ele parecia muito chateado.
- Porque eu deveria te escutar? - Desisti de intimidá-lo - Sempre que eu tento falar com você, você simplesmente me ignora. O que na verdade, é até melhor do que quando você me escuta e faz exatamente o contrário do que eu pedi.
- Porque eu sou Deus.
Fiz uma careta. Não tinha uma resposta para aquilo.
- Okay, fala.
- Estou confuso.
- Oh really?
Ele estreitou os olhos pra mim, mas logo voltou ao seu ar aturdido inicial.
- Sim. É muito difícil lidar com vocês, sabe? Sempre exigindo demais de mim, querendo que eu seja O Senhor dos Exércitos e o Pai da Misericórdia ao mesmo tempo. É sempre "Por favor, Deus" quando querem algo e "Meu Deus!" quando acham algo absurdo ou assustador. Sei lá, tô meio cansado de levar o peso do mundo nas costas.
- Então porque simplesmente não acaba com tudo?
- Porque aí eu ficaria entediado.
- Meu Deus! - Ele levantou os olhos pra mim como se esperasse um comentário e então eu completei desajeitadamente - Você é tão... humano!
- Imagem e semelhança, lembra?
- Ô.
Ele ficou em um silêncio perplexo por alguns instantes e enquanto isso, minha cabeça trabalhava a mil tentando descobrir uma forma de ficar amiga dele e quem sabe descolar uns benefícios.
- Sabe, eu tenho a sensação de que existem mil eus espalhados por aí, independentes e simultâneos. Todos estão cientes das ações dos outros, mas estão preocupados demais com as próprias funções para interferirem. E então tem os anjos e eu às vezes não aguento mais o Miguel querendo declarar guerra e o Gabriel perguntando quando teremos um novo evento porque ele já está cansado de jogar xadrez com São Pedro...
- Acho que você é meio esquizofrênico.
- Igual ao Tarso da novela?
- Hmm... Sim. Mas acho que seu distúrbio de múltiplas personalidades é mais acentuado.
- Você é psicóloga?
- Não, assisto muitos filmes.
- Eu gosto de filmes.
- Pensei que já tivesse de tudo nessa vida e acabasse enjoando dessa constante re-reciclagem de idéias.
- Não tenho boa memória.
- Está explicado.
- O que?
- O motivo de você ainda manter esse mundo, mesmo do jeito que as coisas andam. O motivo do livre arbítrio ainda existir. O motivo de você não ter se entediado e criado coisa melhor.
- Mas eu estou entediado. Vocês são como meu The Sims, só que eu já cheguei naquele momento em que você cansa do jogo, quando fazer o pai de família transar com as empregadas não tem mais graça, quando jogar seu vizinho folgado na piscina e deletar a escadinha não tem a mesma emoção, quando ter todo um trabalho pra fazer um Sim bem-sucedido, família e popular te dá preguiça e sono...
- Não dá pra usar um motherlode em mim?
- Não uso cheats.
- Em duas palavras: Eike Batista.
- Okay, você ganhou essa.
Ao menos eu posso dizer que já ganhei de Deus alguma vez.
- Mas enfim, se está entediado, porque não deleta o jogo e cria algo melhor?
- O melhor que existe sou Eu.
- Já sei, imagem e semelhança.
- É, você entendeu.
E então eu fui tomada por uma desolação sem fim.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sobre Aniversários


Aniversário é a sua comemoração pessoal de ano novo, então, deveria ter fogos de artifício, champagne e festas legais pra você escolher ir. Devia ser tipo Natal - que também é um aniversário - e então as pessoas cantariam pra você. Acho legal pessoas cantando pra mim. Principalmente se elas cantarem bem ou estiverem bêbadas tentando fazer um coral. Elas também comemorariam seu aniversário, mesmo com você estando longe. Eu acho simplesmente genial a idéia de você ser uma desculpa pras pesso
as se divertirem mesmo que você não esteja com elas.

Mas não, aniversário é um cu. As pessoas ficam te cobrando uma festa, um evento, cortesias, comida, bebida. E pode ser pior. No seu aniversário, ao invés de você relaxar, ser a estrela do dia e todas as pessoas que gostam de você tentarem te agradar, você tem que ficar se preocupando em fazer alguma comemoração pra essas pessoas. Você tem que comprar bebida, tem que providenciar comida e no dia seguinte, ainda tem que limpar a casa. As pessoas deviam estar fazendo algo por você e pagando a rodada no bar, mas é o contrário. É o seu dia. Dia de servir de escravo pra todo mundo em troca de presentes ruins - isso quando você ganha presente - e um abraço xoxo.

E é por isso que eu não gosto de aniversários. Eu acho a data maneira, mas não acho certo a forma como comemoramos. Eu nem lembro das minhs comem
orações, acho que lembro mais de festas de aniversário alheias do que minhas. Na infância, eu não tinha aquelas festinhas mirabolantes, achava mais legal escolher um presente bem foda e pedir pra minha mãe fazer docinhos e salgados só pra mim (a esperteza taí desde cedo).

De qualquer forma, vou citar pra vocês os que eu consegui lembrar.

Aniversário de sete anos: Meus pais resolveram fazer uma festinha pra mim na escola. Não lembro bem dos detalhes, mas lembro que foi uma bosta e que eu ganhei umas calcinhas muito feias. Daí eu catei meu irmão pela mão (que tinha quatro anos) e a gente foi pra casa da mãe de um amigo do meu pai, que ficava na mesma rua
da escola e lá ela fez pão-de-queijo pra gente e nos deixou assistir televisão. Voltamos no fim da festa pra escola, todo mundo louco atrás da gente e então comemos o resto do bolo.

Aniversário de quinze anos: Não quis festa, não quis book. Eu quis foi dinheiro e liberdade pra ir numa festa que tinha na cidade e na qual minha melhor amiga na época ia desfilar. A festa foi horrível e eu adorei porque foi engraçado, acabou a energia na cidade inteira, voltamos pra casa com dois amigos meus, paramos no bar e bebemos à luz de velas e depois ficamos na pracinha da minha casa até as cinco da manhã dando risada. Foi maneiro.

Aniversário de dezoito anos: Fui assaltada dois dias antes e implorei pro assaltante não levar as cortesias. Fomos pro finado Café Cancun (Minha amiga
que morava comigo, um amigo que tava de visita e alguns colegas de faculdade), ganhei de presente umas doses de tequila com tequileiro, ganhei um bolo de sorvete do bar e gente cantando parabéns e batendo panela. Curti muito o tequileiro, acho que fui nele umas cinco vezes.

Aniversário de dezenove anos: O pessoal da faculdade foi lá pra casa, enchemos a cara, cantaram aniversário do taiada pra mim, todo mundo ficou meio l
ouco e fim. Não converso com mais ninguém que esteve lá.

Aniversário de vinte anos: Combinei uma festa num bar em Goiânia, mas tava apaixonada por um guri que tava em Crixás. O aniversário era na sexta e eu tinha vindo de Crixás pra Goiânia na quarta. Pois depois de mandar recado no orkut pra todo mundo e organizar os detalhes, larguei tudo e voltei sexta à noite pra Crixás pra passar meu aniversário com o tal guri (essa é pra vocês que acham que eu não posso ser romântica u_u). Foi legal porque tinha seresta no clube nessa época, daí eu ganhei umas músicas dedicadas, uns parabéns maneiros, uns abraços meio suspeitos e dinheiro de um amigo do meu pai (o mesmo do meu aniversário de seis anos). E é claro, adorei a cara do guri por quem eu era apaixonada quando me viu e ganhei uma ótima noite de presente. Pena que duas semanas depois eu tinha desencutido do guri, mas é uma boa história.

Aniversário de vinte e dois anos: Fiz um almoço lá em casa só para mulheres, o almoço se prorrogou para uma caixa de cerveja e eu dormi bêbada e tudo indica aniversários similares a esse nos próximos anos.

Enfim... Todo esse texto é obviamente motivado porque esse é o meu primeiro aniversário depois que criei esse blog. Cá estou eu, completando vinte e três anos com uma vida amorosa fracassada e um currículo profissional medíocre. Mas acreditem ou não, eu estou feliz. Já tive dias melhores, é claro, mas ainda assim eu sou do tipo que a
credita que a vida sorri pra mim.

Eu sou aquela que capotou um carro. Mas o carro tinha seguro e ninguém se machucou além de arranhões. Eu sou aquela que caiu de um carro em movimento. Mas o carro era um fusca e eu só dei umas ralada maneira, umas cambalhotas pra trás e parei em pé (Highlander não faria melhor). Eu já me meti numa briga feia. Mas eu só ganhei um olho roxo, foi o bobo do Chris que saiu lá da Bahia pra me ver que tomou o tiro (te amo, seu baiano blasé lindo)

Vinte e três anos e nenhuma conquista tradicional. E daí? Vinte e três anos recheados de amigos que me marcaram e foram embora e de amigos que eu sei que vão ficar pra sempre. De gente tão incrível que eu jamais poderia descrever o quanto eu sou privilegiada. Vinte e três anos de histórias que poucas pessoas com o dobro da minha idade tem. Vinte e três anos de lágrimas, risadas, gritos e muito mais risadas. Posso conquistar um curso superior, um maridinho razoável ou qualquer outra dessas porras a qualquer momento. Mas quero ver alguém conquistar uma cicatriz de facada no joelho e ter uma história mais engraçada que a minha sobre como a consegui.

Eu não gosto de aniversários, mas gosto de viver. A cada cerveja tomada, a cada momento passado junto com quem eu amo, a cada virada de jogo qu
ando a vida me passa uma rasteira, eu estou comemorando. Não preciso de anos novos. Todo dia é meu aniversário. Todo dia é o primeiro e o último dia da minha vida.

Feliz aniversário pra mim, gente. Agora vou postar esse texto, limpar a bunda e dar descarga. Acho muito simbólico passar a virada do aniversário cagando e escrevendo essa história pra vocês. Vinte e três anos fazendo merda real e metafórica.

Tô esperando vocês me buscarem pra me pagar a cerveja.
Update: Ganhei esse presente do Mauro e queria compartilhar

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Sobre Fuuuuuuuu

Eu sei que estou triste quando eu perco a vontade de discutir, de lutar. Quando eu sou ofendida e ao invés de revidar, eu só sinto vontade de chorar. É nesse momento que os absurdos se tornam verdade, que se você falar que eu tenho o pinto pequeno eu vou achar que é um dos maiores xingamentos que escutei na vida. Eu tô tão machucada, tão magoada, não dolorida, que até mesmo a compaixão alheia me ofende. Tudo é uma crítica, tudo é cobrança, tudo é falta de compreensão. As pessoas perguntam se está muito quente em Goiânia e minha vontade é começar a chorar e gritar perguntando porque ela fica jogando na minha cara que eu moro num lugar quente. q

A questão é que eu já não sei mais até onde eu acredito em mim. Eu tenho a sensação de que guardo milhares de Gabrielas dentro da minha cabeça, cada uma com personalidade e responsabilidades diferentes. E a Gabriela que está no comando no momento está ficando louca porque a Gabriela que devia estar na sessão de sentimentos está dormindo em cima da mesa, a Gabriela que devia estar no setor de soluções práticas está bê
bada, a Gabriela que cuida da coragem se demitiu e por aí segue-se a zona.

Eu sinto uma vontade imensa de desistir, mas a questão é: Desistir do que? Eu não preciso nem desistir, porque eu perco tudo antes de ter a oportunidade de escolher seguir adiante ou não. Eu só faço as escolhas erradas, não vou nem citar aqui porque já basta o meu constrangimento comigo mesma.

Pra piorar, achei um nódulo do meu seio esquerdo. Porque né? Perder o peito e o cabelo que são as duas coisas que eu mais gosto em mim é exatamente o q
ue estava faltando pra completar. Gente, eu tenho medo de a qualquer momento receber uma ligação me dizendo que minha família toda morreu e que quando meus amigos estavam vindo me avisar pessoalmente, sofreram um acidente e morreram também.

É claro que tudo isso pode ser só drama. É claro que o nódulo pode ser um inchaço bobo, é claro que eu posso receber uma ligação me chamando pro emprego que eu queria, é claro que eu posso ganhar na megasena. Mas gente, com a sorte que eu tenho, querem apostar quanto que meu presente de aniversário vai ser um câncer?

Vou é jogar DC Universe Online que pelo menos lá eu tenho superpoderes. Ooops! O download ainda não terminou.