sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Sobre a Vida, o Universo e Tudo Mais

Se tem um ano que foi gratificante na minha vida, esse ano foi 2011. Não só pelas conquistas alcançadas, mas principalmente por eu ter tido força, coragem e perseverança de percorrer os caminhos necessários pra se chegar até essas conquistas. Eu sempre fui acomodada e embora negue, me escondi atrás da minha depressão pra justificar meu comportamento mimado e preguiçoso. Esse ano eu mudei. A minha palavra de ordem passou a ser "decisão", e considerando minha personalidade instável, foi um lema difícil de seguir. Mas hoje, faltando um dia pro ano acabar, tenho o prazer de dizer que tirei minha carteira, comprei meu carro (com meu dinheiro e não com o do pai ou da mãe), passei em um concurso federal e me efetivei, terminei meu primeiro ano de Administração e estou onze quilos mais magra. Você quer, você luta, você alcança. Basta verem meus posts no início do ano pra sentir a diferença.

Mas hoje eu não tô aqui pra exaltar minhas vitórias. Hoje eu tô aqui pra exemplificar que a única coisa que podemos realmente mudar nesse mundo, somos nós mesmos. Foi minha forma de enxergar as coisas que refletiu nas minhas ações. Cansei de ocupar meu coração com mágoa, maldade, inveja ou rancor. Aprendi a enxergar a beleza e as qualidades das pessoas, mesmo aquelas que não simpatizo, asim como aprendi a aceitar os defeitos e falhas de quem eu amo. Somos humanos. Somos duais e multidimensionais. Hoje eu sei o que esperar de cada uma das pessoas que me rodeiam. Não tenho mais espaço pra guardar os frutos amargos da raiva e do rancor. Paciência. A aceitação do mundo como ele é não quer dizer que você não pode mudá-lo, e sim que você não deve se frustrar nem desistir quando não conseguir.

Hoje, quero dizer a todos que acham que eu falei mal deles que sim, eu provavelmente falei mesmo. Alguns eu falei na cara, mas a grande maioria das vezes eu falei nas costas mesmo. A algumas pessoas, eu cheguei a desejar mal e com outras, eu ri de suas desgraças. Não posso negar esse meu traço humano. Mas hoje, se vale de algo, vocês têm a minha palavra que muito provavelmente eu vou falar mal de vocês ano que vem, mas que prometo não desejar mais o mal de ninguém e prometo ser solidária nos momentos ruins, mesmo que a pessoa não tenha meu apreço. Prometo que, se eu não for capaz de mandar bons pensamentos pra vocês, também não enviarei pensamentos ruins. Essa é a minha meta de 2012.

Então, peço desculpas atrasadas e antecipadas por todos os comentários maldosos que fiz e que ainda hei de fazer. Também perdôo todos vocês, seja lá qual foram seus pecados para comigo. Não me importa se há arrependimento ou não, o que me importa é que meu coração está em paz. O que passou, passou. E o que não passou, um dia também será passado. Abracem a efemeridade da vida e façam o possível e o impossível pra serem felizes hoje. Amanhã, uma nova vida começa de novo, mesmo que ela seja muito parecida com a vida de hoje.

A quem acha que eu não gosto deles, pode até ser verdade, mas nada é eterno e imutável. Me dêem uma chance que na minha vida sempre há espaço pra quem quer entrar. Pra quem acha que eu os amo, podem ter a certeza que eu muito provavelmente gosto mais de vocês do que cês imaginam e que provavelmente eu não sei demonstrar. Eu sei que não tenho dedicado a todos o tempo que eu gostaria, porque eu sou abençoada em ter um absurdo de gente especial na minha vida, mas eu continuo aqui pra vocês. Eu sempre vou estar aqui pra vocês.

Sei que esse ano meus textos não foram tão engraçados - a melancolia traz meu humor ácido à tona, e esse foi um ano feliz - mas espero que, se eu não os fiz rir, ao menos possa ter trazido alguma sensação boa com o que escrevi. Obrigada A Vida, O Universo e Tudo Mais - ou a Deus, Javé, Buda, sei lá - e obrigada às pessoas que estando ao meu lado, me provaram que eu não sou tão ruim. Afinal, eu não poderia ter tanta gente linda na minha vida se não tivesse algo legal a oferecer.

Feliz ano novo. Um ano novo com mais paz, com mais compreensão, com mais gentileza, com mais harmonia. Eu prometo que em 2012 eu vou ser ainda mais feliz. E prometo que quem precisar, independente de quem seja, pode segurar minha mão. Eu te ajudo, desde que você queira te ajudar.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Sobre Emagrecer

Quem mantém um certo contato comigo, sabe que a vida inteira eu fui gorda. Comecei como uma criança comum, mas com bracinhos e perninhas grossas e com o tempo ganhei ombros e quadris largos, peitos grandes, barriga e dobrinhas de gordura nas costas. Por ter sido esportista durante a adolescência, nunca fui aquelas gordas molengas e a convivência com a minha mãe me ensinou a ter bom senso: vista-se de acordo com o corpo que você tem.

Ainda assim, não dava pra esconder o fato de que eu ocupo mais espaço nesse mundo. O bullying foi mais suave do que a maioria dos gordinhos sofrem, talvez porque eu tenha criado meus próprios mecanismos de defesa, mas nem por isso passei ilesa. Cresci com baixa autoestima e passei a tentar valorizar mais meu intelecto, que por sorte foi a minha maior arma contra a completa falta de amor próprio.

Ser gordo num mundo ditado pelos magros - mesmo eles sendo minoria - é difícil, não preciso chover no molhado. Apesar de vagas tentativas de emagrecer, com o tempo eu mesma decidi que não ia tentar me enquadrar nos padrões que o mundo dita. Pura rebeldia, é claro. Eu queria me encaixar, mas me negava a fazer isso pelos motivos errados.

Quando cheguei em Crixás esse ano, eu tinha chegado no fundo do poço. Sem emprego, a faculdade abandonada e com quase noventa quilos de puro fracasso. Minha vida sexual e amorosa, não preciso nem dizer: saldo negativo. Aos poucos, me recuperei. Iniciei uma nova faculdade aqui mesmo e recomecei a vida. Percebi que sete anos fora não foram um completo desperdício. Não trouxe nada material, mas me ensinou lições que muita gente não aprenderá em toda sua vida.

Aqui eu conheci alguém. No início ele era apenas alguém que queria ficar comigo e eu, alguém desesperada pra se sentir desejada. Mas o tempo transformou a relação e nós dois. Ele encontrou em mim companherismo e compreensão. Eu encontrei nele segurança e o principal, alguém que me achava sinceramente linda, assim, do jeito que eu sou.

Essa relação, mesmo nunca sendo nada sério, foi o gatilho que me faltava. Ter alguém que realmente me fazia me sentir especial me fez acordar. PERAÍ, PORRA! EU REALMENTE SOU ESPECIAL!! Em um mundo superpovoado, eu sei da minha insignificância. Mas isso não me tira o mérito de fazer diferença na vida de alguém. Principalmente na MINHA.

Passei num concurso público e depois de me resolver com relação a ele, decidi que era hora de tirar meus sonhos do papel. Eu sempre almejei muita coisa, mas sempre adiava pensando que primeiro eu tinha que ser rica e independente -Q. Como assim rica e independente se eu não dava nenhum passo nessa direção? Olá, realidade. Meu nome é Gabriela.

Foi aí que eu decidi emagrecer. Não pras outras pessoas, não pra me sentir dentro dos padrões, mas pra mim. Procurei um médico que logo me entupiu de remédios que me ajudariam a emagrecer, mas que a longo prazo, ferrariam com a minha vida. Mas eu estava determinada e comecei a tomar minhas pílulas mágicas. Obviamente, já estou velha pra acreditar em milagres, então associei a medicação com uma dieta de reeducação e exercícios físicos. Foi aí que eu comecei a acertar.

Coloquei em mente que não adianta seguir dietas milagrosas. Comer o que não gosto me deixaria irritada e mais cedo ou mais tarde eu teria recaídas. Aprendi então a viver da comida que gosto, só que ligeiramente modificada.

- Passei a comer frutas, principalmente as ricas em água. Deu vontade de comer, vai uma maçã, vai um morango, vai uma melancia, vai uma laranja.
- Óleo no more. Minha comida passou a ser toda feita no azeite de oliva extravirgem. Não muda o gosto, é mais saudável e é muito menos calórico.
- Arroz e feijão SIM. Essa dupla é fundamental pra mim, não abro mão. A questão foi só diminuir a quantidade pra uma colher e meia de arroz e feijão suficiente apenas pra não deixar o prato seco. Carne, só um pedaço médio. Passei a adicionar as poucas saladas que eu gosto, queijo, cebola (aaaaamo cebola, não me julguem) e dá-lhe água quando um prato não for o suficiente.
- Sem refrigerantes (nem diet), sem sucos artificiais, sem sucos naturais com açúcar e sem bebidas alcoólicas de nenhum tipo.
- Água, muita água. Água quando estiver com sede e água quando não estiver com sede. Água é bom pra pele, pra saúde e pra emagrecer.
- Sem açúcar ou quando consumir, ser moderado. É claro que eu ainda como chocolate. Mas ao invés de devorar uma caixa de bis, como um brigadeiro ou um bombom. A questão é saber saborear e não comer compulsivamente.
- Gengibre. Não fico sem gengibre em cristal. A decisão de emagrecer não me deixou menos ansiosa e então preciso de algo pra me ajudar. O gengibre é termogênico e anti-inflamatório, além do mais, é bom ter algo pra mastigar. Você pode escolher outra coisa se não gostar de gengibre, como Trident.
- Comer a toda hora. É SÉRIO! Escolha frutas pouco calóricas, um pedaço de mussarela, uma bolachinha... Enfim, não coma nada pesado, mas mostre a seu organismo que você está bem e saudável. Isso acelera seu metabolismo.
- Saber mais sobre alimentação. A internet está cheia de informações e além do mais, todo produto industrializado vem com informações nutricionais. Tenha controle sobre o que entra no seu corpo.

Com relação a dieta, basicamente essa foi a que adotei. As duas primeiras semanas foram difíceis, mas logo meu organismo se acostumou. A academia também foi fundamental. Além de queimar calorias, estabeleceu uma rotina e me deixou mais animada. Quando não dava pra ir lá, dá-lhe correr na ruabou malhar em casa mesmo. O importante é não quebrar a rotina, mesmo nos fins de semana. Uma falta e você abre precedentes para outras.

Na segunda semana eu já sentia a diferença. E foi então que dei o golpe mortal: abandonei os remédios antes que meu corpo criasse dependência. Dieta e academia talvez demore mais, mas o efeito é saudável e duradouro. Adicionei à minha rotina massagem redutora com ultrassom e corrente russa e agora caminho em direção não ao corpo perfeito, mas a uma vida mais feliz.

Contei toda essa história aqui porque hoje, dois meses depois do início da dieta, perdi dez quilos e virei referência pra muita gente que quer emagrecer. Ainda sou pesada e gordinha, nunca vou ser magrela, até porque meu porte físico não permite e também sei que nunca vou pesar 60kg. Mas hoje, eu gosto da imagem que vejo no espelho. Tô até meio compulsiva pra comprar roupas, coisa que eu não fazia há anos, porque agora encontro boas peças que me servem. Mudei o cabelo, passei a gostar mais de mim e o principal, passei a não aceitar que me façam me sentir mal ou inferior. Eu sou linda, eu sou gostosa e ninguém pode tirar isso de mim. Não porque eu estou mais magra, mas porque é assim que eu me SINTO.

Então, se você chegou até aqui querendo minha receita do sucesso, primeiro entenda que é preciso trabalhar seu psicológico. Emagreça por você. Nada vem fácil, você ao invés de enxergar isso como um sacrifício, veja como uma adaptação. Não alardeie suas tentativas. Você pode contar seus projetos pra alguém de confiança, mas no mais, se reserve. Existe muita gente invejosa e negativa e é melhor se poupar disso. Encontre novas formas de ser divertir, olhe o mundo de um jeito novo. Mude sua vida e não apenas seus alimentos. E o principal: Coloque na sua cabeça que ser magra agrada os olhos, mas a pessoa que mais me fez sentir especial na vida, foi quem estava comigo na minha pior fase.

Boa sorte e quem precisar de apoio ou ajuda, é só deixar nos comentários. Vamos cultivar o amor próprio =]

P.S.: Quem estiver curioso sobre o cara que mudou minha vida: hoje não estamos mais juntos. Chegou a hora de seguirmos nossos caminhos, mas ele sempre terá um lugar especial nas minhas lembranças. Agora eu estou com um guri que mal reparou que eu emagreci. Ironias da vida, agora que eu tô mais gatinha é que eu finalmente encontro alguém que gostou de mim desde o começo pelo conteúdo.

sábado, 24 de setembro de 2011

Sobre Marketing

"Caro Deus,

Hoje eu estava no ônibus voltando do trabalho, na paz do Goiás, sussa na montanha russa, tranquila na tequila, em pé, lendo meu livro do Joe Hill. Daí do nada brotou um cara e colocou um papelzinho pregando a Sua palavra no meio das páginas que eu estava lendo. Em um estalo, me toquei que aquele podia ser um instrumento que o Senhor usou pra chegar até mim. Durante um bom tempo eu fiquei me perguntando se aquilo era uma mensagem divina, uma forma como o Senhor encontrou para tocar meu coração e me trazer para o Seu lado.

E então, depois de muito meditar, refletir e reviver toda a situação, eu cheguei à única conclusão que eu poderia chegar: O Senhor precisa de um novo gerente de marketing urgentemente.

Com amor,

Gabriela"

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Sobre Mulheres II

- Você tá linda.

Ela ri. Ri com os elogios. Ri com os olhos dele brilhando quando olha pra ela se trocando. Ri quando ele abre aquele sorrisão quando ela chega. Ri quando ele fica encarando ela depois do sexo. Ela ri de tudo, do jeito bobo, do quanto ele é manhoso, dos beijos roubados, das promessas vazias.

Sim, vazias. Porque todas as promessas começam com um "se" antes. E um "se" concretizado, daqueles que só fazem as frases serem impossíveis na realidade e cheias de possibilidades em uma imaginação fértil. Ela diz que não acredita - e eu acredito que em alguma parte dela ela realmente não acredita - mas aquilo entra pelo ouvido e vai perturbar lá no coração. Ela não alimenta esperanças no impossível, mas ela só quer ser especial, sabe?

Ela não quer ser a namorada, não quer andar de mãozinhas dadas, não quer cuidar da casa e dele. Ou pelo menos, ela diz que não quer porque já se conformou com aquilo que não pode ter. Mas ela quer ser querida, quer que ele ligue, quer que ele sinta saudades, quer ser única em alguma coisa. Ela quer que ele a queira. E parece assim às vezes, quando ele liga e diz que tá esperando. Quando ele diz que tava morrendo de saudades. Quando ele pede pra ela ficar com ele ali abraçada até eles dormirem. Só que depois ele some e sabe lá Deus quando aparece de novo, recomeçando o ciclo.

Ela sofre, está confusa. Vai procurar uma amiga, pedir conselhos, pedir uma explicação. E quando ela conta tudo isso, a amiga - realista demais pra se deixar levar pelos risos, olhos brilhando e todas essas definições que ela categoriza como viadice - vê o panorama se formar perfeitamente diante de si e dá o veredicto:

- Amiga, você é só um buraco e te tratar assim é a forma dele te manter como um buraco garantido pra quando ele quiser. - Ela chora, mas a amiga encerra sem piedade - Esperar encontrar alguém que goste de você é um direito, mas esperar que milagres aconteçam é burrice.

Ela concorda, limpa as lágrimas, dá uma última soluçada e sorri. Começa a fazer mil planos para uma vida sem ele, combina de sair com a amiga, vai comprar uma roupa nova e diz pra si mesma que ele não a merece e que vai esquecê-lo.

Mas quando ele liga mais tarde perguntando porque ela sumiu, ela dá um bolo na amiga, dá um chute no amor próprio e vai dar pra ele.

Parabéns a todos os envolvidos.

sábado, 4 de junho de 2011

Sobre Hoje

Junho de dois mil e onze e cá estou eu, tentando justificar minha ausência. Mês de maio passou e levou junto o aniversário de um ano do blog, o que é uma grande satisfação pra mim, visto que não sou muito boa em manter as coisas por tanto tempo. Uma pena que eu não tenha comemorado. Uma pena que eu não tenha pensado em nenhum texto bacana pra marcar esse momento. Tudo o que posso fazer é escrever esse texto contando um pouco da minha vida nos últimos meses.

Cheguei em Crixás há três meses e ao contrário do que eu imaginava, não voltei pra uma vida que deixei há sete anos atrás. Eu voltei pra um lugar familiar, um lugar confortável, um lugar onde me sinto segura mas definitivamente, um lugar diferente. Em casa as coisas são diferentes. Ao invés da tensão constante de uma esposa e dois filhos escravizados pelo medo e um marido/pai metido a senhor feudal, encontrei um ambiente onde as pessoas amadureceram. Onde os que tinham medo aprenderam a dizer não, a defender seus pontos de vista, a não se deixar intimidar. Onde o que se achava dono do mundo foi obrigado a conviver com a idéia de que ele não mete mais medo como antes, que respeito é conquistado e não imposto. É claro, meu pai ainda consegue ser absolutamente diabólico às vezes. Chegou a tentar me bater uma vez e me ameaçar uma outra. Se ele conseguir efetivar o intento alguma das vezes, é melhor ele se preparar pro estrago que sou capaz de fazer. Ele está avisado. Todos estão. Defini pra mim que não vou permitir que nunca vou aceitar ninguém me oprimir.

Meus amigos agora são outros. É estranho voltar para o interior onde você nasceu e cresceu e descobrir que poucas pessoas sabem quem você é. Hoje, a maioria das pessoas com quem convivo são pessoas que eu não conhecia antes. Ou pessoas que eu achava que conhecia, mas só agora descobri que não era bem assim. Esse tempo que eu morei fora me deu a oportunidade de começar de novo nas minhas próprias origens. Me deu a chance de ser uma pessoa estranha e ao mesmo tempo, familiar. E também me permitiu enxergar melhor pessoas que eu já conhecia e nunca dei o devido valor. Ou que valorizei mais do que deveria.

É claro, os velhos amigos permanecem. Aqueles que mesmo com a distância, fizeram parte da minha vida nos últimos anos. Esses são as constantes da minha vida. Toda a fórmula pode mudar, mas eles permanecem fazendo parte do resultado final.

Comecei a fazer faculdade de Administração, tô trabalhando em um escritório de contabilidade, comprei uma moto, jogo futebol três vezes por semana, saio pra comer e/ou beber uma cervejinha sempre que posso, danço sempre que tenho oportunidade, passo o máximo de tempo que consigo com a minha mãe, ando um pouquinho mais próxima do meu irmão, tô treinando minha paciência com a minha avó, assisto a corrida todos os domingos com meu pai, arrumei uns peguetes novos - e alguns não tão novos assim - e todo dia quando chego em casa tenho três cachorros que vêm me receber no portão e que transformam até os piores dias em algo melhor. Minha vida social é bem agitada por aqui - não que as programações sejam - e todos os dias eu tenho que tirar um tempinho pra ir ver alguém, o que, embora não tenha matado de vez minha vida virtual, mandou a mesma em coma para a UTI sem previsão de melhoras. É por isso que não apareço mais aqui, nas redes sociais e nos mensageiros da vida com muita frequência. Até as longas ligações via celular perderam espaço, me cansam. Depois de tanto tempo, eu tenho uma vida real que me ocupa e o tempo que sobra dedico com todo amor do mundo à minha cama.

Eu me redescobri, redescobri minha cidade, redescobri as pessoas. Eu, que sempre tive fama de metida e intimidadora, tenho recebido comentários de que eu pareço mais tranquila e provavelmente é o reflexo dessa nova postura que tem possibilitado que mais gente se aproxime de mim. Eu tô feliz. Todos os dias, em algum momento, eu me sinto realmente feliz.

Sinto saudades do blog, dos RPGs da vida, de escrever e de sentir o feedback...

... é só que viver consome muito tempo.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sobre União Homoafetiva

Juridicamente falando, hoje o Brasil progrediu. A decisão do STF favorável à união homoafetiva reverte a restrição de 111 direitos aos quais os casais gays não tinham acesso, como a adoção. É passo considerável, principalmente para as pessoas que são abrangidas por essa nova lei. Mas eu não estou aqui pra falar de direito. Aliás, se eu gostasse, teria terminado a faculdade.

Vim aqui pra falar de sentimento. Vim falar de preconceito. Falar de como certas pessoas são capazes de se achar na competência de julgar os direitos alheios. Vim falar de família.

Não se legisla sobre amor. Não há lei, do homem ou divina, que possa restringir sentimentos. O mal da religião sempre foi esse: Tentar nos impor regras sobre aquilo que não podemos controlar. Amor não escolhe nada. Quando a gente sente, a pessoa pode ser feia, boba, mau caráter, pobre, morar longe e perder a havaiana na enxurrada. E ela pode ser do mesmo sexo também.

A gente tem que legislar sobre respeito. Respeito às opiniões alheias. As pessoas tem que aceitar a idéia de que todos os seres humanos são diferentes entre si e suas escolhas são infinitas e que na maioria das vezes, essas escolhas vão ser divergentes das nossas. Os que são contra a homossexualidade tem direito à sua opinião, desde que não queiram impô-las aos que são à favor. O mesmo vale no sentido contrário. Respeito, minha gente. Respeitem o diferente. Não gosta? Não se mistura. Volto ao parágrafo anterior dizendo que não se legisla sobre sentimentos. Ninguém pode obrigar ninguém a gostar ou desgostar. Mas a gente obriga a respeitar. Não se constrói uma sociedade sem respeito.

Preconceito. Pré-conceito. Pessoas que estão presas a dogmas esquecem-se que a verdade é mutável, relativa e muito sem vergonha. Não existe verdade sem opinião e não existe opinião unânime. Pior de tudo é usar de fé - logo uma coisa tão subjetiva - pra argumentarem. Repito algo que disse no twitter hoje: Quem usar os preceitos de "Deus" pra justificar seus atos, por favor apresente a procuração registrada em cartório que ele assinou permitindo que se fale em nome "Dele". O Estado reconhece o direito de todos à sua fé. Essas pessoas deveriam reconhecer o direito de todos a fazer suas escolhas.

Muitos argumentam que uma união gay não pode ser reconhecida como instituição familiar. Por que? Aliás, qual o conceito de família, dessas pessoas? Por que pra mim, família há muito tempo deixou de envolver um pai e uma mãe. Família envolve gente que se ama, gente que se respeita, gente que se apóia, gente que constrói uma história. Tem muito amigo meu que é mais família que meus parentes. Tem muita gente que não tem o mesmo sangue que eu que eu chamo de "irmão". Tem muita família boa por aí que não conta com a estrutura tradicional. E muita família má que segue todos os princípios cristãos.

Minha família, por exemplo, conta com pai, mãe e irmão. Meu pai é um bêbado eventual que decide me agredir quando dá na telha dele. Meu irmão é um omisso que é incapaz de fazer algo pra me proteger ou proteger minha mãe. Mas minha família está aparada pela lei, mesmo que eu tenha que ter saído de casa aos dezesseis anos por não suportar mais as agressões do meu pai. Mesmo que o ambiente em que eu fui criada tenha sido muitas vezes hostil e completamente traumatizante. E é nessas horas que eu me pergunto, por que as pessoas querem impedir que pessoas que se amam, pessoas tão determinadas a criar uma criança num ambiente de amor - a ponto de criar uma criança que não tem seu sangue, - sejam impedidas de conquistar isso apenas por serem do mesmo sexo? Numa realidade onde a instituição familiar tradicional está decadente, por que impedir uma nova modalidade de família? Por que não tentar algo novo, algo que pode dar certo, só por preconceito?

Respeito, minha gente. Respeito. Se houvesse uma lei pra proibir alguém de ficar junto, de criar filhos, de construir uma história, esse alguém deveria ser gente sem caráter, gente sem capacidade de discernimento, gente sem índole, gente incapaz de respeitar o próximo, gente sem nada de bom pra passar pra frente genética e moralmente. Particularmente, eu estou imensamente feliz com essa nova lei. Sei que ainda há muita coisa pra acontecer, não é tão simples assim mudar nossa legislação. Mas cada passo nos deixa mais próximo de um país mais igualitário, mais humano.

E francamente, considerando o pai que eu tenho, eu preferia mil vezes ter tido duas mães.

terça-feira, 22 de março de 2011

Sobre Mulheres I

Desde que vim pro interior, aprendi algumas coisas sobre as mulheres, devido à uma convivência diária com esses seres estranhos - coisa que eu não tinha na minha outra vida, visto que sempre tive mais amigos hominhos. Não sei se o que aprendi vale pra todo mundo, mas ao menos no meu "grupo de pesquisa", algumas coisas são unanimidade. Uma dessas coisas é que o funcionamento essencial da relação romântica entre homem/mulher é sustentado pelo orgulho feminino. Mas não um orgulho real, e sim uma espécie de defesa. Quando os homens contrariam as mulheres, uma única fórmula resolve tudo: Eles pedem desculpas e inventam justificativas e elas - que não querem ouvir a verdade e sim que eles se esforcem pra criar algo que faça com que elas elas se sintam menos culpadas por perdoarem - dizem que não aguentam mais, que aquela é a última vez e então perdoam, prendendo o casal em um looping eterno.

Quando ela se vestiu e saiu sem olhar na cara dele depois dele tê-la ofendido profundamente, tudo o que ela queria, tudo o que ela esperava, era sentir sua mão grande e pesada apertando seu braço e sua voz ainda meio ofegante dizendo "Não vai embora, desculpa". E então ela olharia pra ele com os olhos meio marejados apenas pra que ele a mimasse e eles transariam mais duas ou três vezes naquela noite e ficaria tudo bem.

Eu, como mulher, posso dizer sem nenhuma ressalva: Mulher é tudo burra. Há dentro da gente uma pré-disposição ao perdão quando estamos em um relacionamento. É quase uma necessidade. Sempre que o cara pisa na bola, a garota só está esperando ele ir lá, pedir desculpas, inventar algumas mentiras e parecer sincero quando diz que gosta dela. Antes mesmo dele pensar em uma forma de se aproximar, ela já imaginou exatamente o que espera dele pra que fique tudo bem. O pior é que dificilmente ele atende a essas expectativas, mas só o fato de tentar já é o suficiente pra bobona aceitar. Quando uma mulher diz "nada no mundo me fará perdoá-lo" elas só estão esperando que eles se esforcem pra provar que elas estão erradas. Não há nada mais frustrante para as moças do que um cara que não capricha o suficiente nas desculpas para justificar o perdão.

Quando ela insistiu em não atender as ligações dele depois que ele sumiu durante todo o feriado de carnaval, tudo o que ela queria é que ele fosse atrás dela pessoalmente e dissesse que não sairia de lá até se resolverem. E ela falaria tudo o que estava sentindo, faria acusações e jogaria coisas do passado na cara dele, mas na verdade ela só queria atenção. Ela só queria que ele a abraçasse e dissesse entre seus cabelos "Meu amor, eu nunca ficaria tanto tempo longe de você de propósito, eu tive uma emergência". E mesmo sabendo que estava ouvindo uma mentira deslavada, ela o perdoaria.

Tudo o que as mulheres querem é que o homem faça algum esforço pra compensar o rombo que elas estão fazendo em seu orgulho e amor-próprio. Elas querem poder dizer para si - e quem sabe pras amigas quando elas a criticarem por terem relevado alguma falta grave - que "pelo menos ele se arrependeu e pediu desculpas". Elas querem ter algo pra justificar o injustificável, algo que oculte o fato de que na verdade, eram elas que queriam consertar as coisas. É como se o fato de um cara vir atrás fosse o suficiente pra tornar uma mulher especial. É aquela eterna idéia de "Se ele ainda quer ficar comigo, é porque gosta de mim. Se eu for a melhor mulher do mundo, eu posso mudá-lo e ele não vai mais me magoar."

Quando ele fez alguma coisa que a chateou e não sabe (eles nunca sabem), e ela ficou de costas pra ele na cama e disse que não foi nada quando ele perguntou, tudo o que ela queria era que ele a abraçasse de conchinha e sussurrasse em seu ouvido "Foi alguma coisa sim e você vai me dizer o que é". E então ela choraria e diria um monte de coisas entre soluços que ele não iria entender, mas no fim ela só queria é que ele a beijasse longamente e dissesse que ia ficar tudo bem, que eles resolveriam isso. E então eles transariam de um jeito apaixonado.

Eu estou francamente revoltada. Estou rodeada de mulheres com pontencial pra encontrar caras bacanas, mas todas elas estão amarradas a pseudo-relacionamentos fracassados pelo simples fato de que elas estão dispostas demais a perdoar. Porque elas preferem tentar consertar o que tem enquanto eles preferem tentar algo novo. Elas se comportam como se não merecessem algo bom, como se tivessem que aceitar qualquer coisa só pra não estarem só e é por isso que elas relevam tantas coisas, por isso elas tem tanto medo de perder. Elas permanecem ali, por muito tempo, apenas esperando que eles dêem um motivo pra que elas os perdoe, como se tentassem sustentar o resto do orgulho que sobrou em uma pilastra de desculpas esfarrapadas. Isso é doentio. E sabem o que é pior em tudo isso?

O pior é que elas estão me contaminando.

POR FAVOR AMIGOS HOMENS, VENHAM ME RESGATAR PARA TORMARMOS UMA CERVEJA NO BAR DO ROBSON ANTES QUE SEJA TARDE DEMAIS.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Sobre Lugares

E então eu estou aqui, de volta a uma vida que há sete anos já não era mais a minha. E eu estou feliz, imensamente feliz. Porque no fundo, eu sempre fui interiorana demais, tradicionalista demais, crítica demais. Porque eu acho que sempre gostei de me preocupar com miudezas, com fofoquinhas do dia-a-dia. Porque eu sempre fiz parte daquele grupo que pode até falar horrores de uma pessoa, mas que vai correr pra socorrer quando a coisa ficar feia porque é assim que as coisas funcionam quando se cresce em uma cidade com quinze mil habitantes. Porque eu sempre fui uma mimada rebelde que adorava o conforto mas que queria provar que era independente. Porque no fundo, eu ainda não achei meu lugar, mas ao menos aqui eu me sinto segura pra procurar sem pressa.

Ou talvez eu esteja mentindo descaradamente.

Mas uma coisa de uma coisa eu tenho certeza: Eu não podia ficar. E não faço idéia de pra onde ir.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Sobre Adeus

Dia desses reencontrei um dos meus ex-colegas de trabalho e uma semana depois, recebi uma ligação do meu ex-chefe que estava se aposentando naquele dia. O comentário dos dois foi o mesmo: Por que você foi embora sem se despedir de ninguém? Ficou com raiva da gente?

Não, pelo contrário. Eu não me despedi porque não sei dizer adeus ao que eu amo. E eu amava meu trabalho, amava as pessoas com quem eu trabalhava e eu simplesmente não sabia como dizer tchau. Eu não queria uma festa de despedida como tantas pelas que eu passei em quanto estava lá, não queria fazer um discurso enquanto chorava, não queria abraçar todo mundo, não queria encarar o fato de que algo que eu realmente amava tinha acabado. Eu só queria ir embora como eu ia todos os dias. Eu deixei pra trás coisas pessoais minhas que jamais vou buscar, porque assim, enquanto eu saía daquela porta pra sempre, eu tinha a sensação de que na segunda-feira seguinte eu estaria de volta. Assim eu deixei a sensação de que eu ia voltar a qualquer dia.

Agora eu estou com sete malas na sala da minha casa que só será minha casa por mais essa semana, e esse é só o começo. Ainda faltam tantas coisas pra serem embaladas que não sei se conseguirei a tempo. A questão é que eu nunca soube dizer adeus a nada, nem a coisas materiais. Não jogo as roupas velhas fora, não jogo objetos velhos fora, não jogo papéis velhos fora. Eu estou envolta em um furacão de bilhetes antigos, fotos antigas, roupas antigas, cheiros antigas e lembranças antigas.

Eu amei tanta gente e tanta gente me amou. E é tão difícil entender porque não nos amamos mais, porque essas pessoas não fazem mais parte da minha vida e eu não faço parte da vida delas. Eu tenho vinte e três anos e ainda estou aprendendo a aceitar a idéia de que os momentos e a maior parte das pessoas são passageiros. Ainda dói achar bilhetinhos antigos, velhos presentes, velhas embalagens. Eu não sei dizer adeus, mas eu não controlo o destino. Tem coisas que simplesmente tem que ir, mesmo que você não queira.

E eu não sei o que adianta eu levar comigo todos os papéis e fotos quando eu tô deixando pra trás minha casa pra ir pra uma casa que deixou de ser minha há muitos anos. Quando eu tô deixando um dos meus melhores amigos, o cara que mora comigo há mais de um ano. Quando eu tô deixando os sanduíches no meio da tarde, os filmes ruins, as séries que eu ensinei ele a assistir, as cervejas nos butecos perto de casa, o jantar feito à luz da lanterna do celular quando a energia acaba, as constantes visitas, as raivas e as risadas. Quando eu tô deixando meus melhores amigos, minhas melhores histórias e meu melhor eu.

No fim, eu sempre tenho que abandonar tudo que amo. E dessa vez, não vou nem poder deixar minhas coisas pra trás pra fingir que vou voltar. Dessa vez, nenhuma recordação que eu levar vai ser o suficiente. E mesmo que um dia eu volte, nunca vai ser igual. Nunca é. Eu quero que tudo que eu amo dure pra sempre e estou me fodendo se isso é pedir demais, se isso nunca vai acontecer. Eu devia me acostumar, mas eu só tenho a sensação de quanto maior a sua capacidade de amar, maiores as chances de você tomar no cu.

Eu já não ligo mais de ir embora, eu já desisti. Tô pronta pra lidar com meus pais e as pessoas me lembrando de que eu acabei com meu futuro promissor. Mas enquanto eu olho minhas malas e assisto Vingança Entre Assassinos junto com o Jorge na sala daquela que foi minha casa nos últimos dois anos, eu fico apavorada com a idéia de que as pessoas também desistam de mim.

Eu só tenho medo de me tornar um bilhete amarelado na gaveta de alguém.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sobre Fenômeno

Como corint(h)iana, me vejo na obrigação de uma nota no dia de hoje. Durante todo o tempo do blog, tenho evitado postar sobre futebol. Não para evitar os conflitos e implicâncias típicas, mas para evitar ter que moderar os comentários, visto que esse é um tema que sempre levanta polêmica, além de atrair grosserias que transformam meu esporte favorito - depois de levantamento de copo - em algo vulgar e desagradável.

Somente quando o Corinthians caiu pra segunda divisão e quando eu estava no meio da torcida que lotou o Pacaembu ano passado no jogo do centenário cantando "parabéns pra você" eu senti a emoção que senti hoje ao ver um dos meus heróis dizer que não aguenta mais. Ronaldo Fênomeno, o cara que foi um herói brasileiro, se aposenta acima de tudo, como um herói corintiano. Quando chegou, levantou a moral do time, a fé da torcida e a expectativa de não assistir só um jogo de futebol, mas um show particular.

Com um histórico de lesões, um evidente excesso de peso e uma habilidade incontestável, Ronaldo mostrou que muitos podem aprender a jogar futebol, mas só os fenômenos nascem sabendo. Humilde, bem humorado e guerreiro, jogou muita bola nesse tempo em que esteve representando meu time e eu, como torcedora do Sport Club Corinthians Paulista, lamento muito que agora só poderei vê-lo em campo através dos vídeos que mostrarão para as gerações futuras suas memoráveis performances.

Vai, Ronaldo. Vai, Fenômeno. E obrigada por tudo o que fez por estes trinta e três milhões de loucos que compõe a nação corintiana. Porque podemos não ter uma Libertadores, mas temos o orgulho de termos te ensinado a amar esse time.

Obs.: Comentários ofensivos serão deletados ;)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sobre Evolução

A tarde está quente e não há nada pra fazer. Então escrevi algo que há muito tempo venho pensando. Essa é a introdução do meu livro que eu jamais escreverei.

Lembro-me de um dia em que minha professora de biologia nos falava das possíveis evoluções genéticas humanas nas quais perderíamos partes do corpo meramente estéticas, como o cabelo e o mindinho do pé, pois o corpo descartaria o desnecessário. Não acredito nesse tipo de evolução mais, não a essa altura. Talvez abandonemos os cabelos quando a água potável acabar e seja mais importante sobreviver que tomar banho, e aí já não teremos sapatos para apertarem os mindinhos. Mas será uma opção - ou a falta de uma - e não creio que isso seja uma evolução.

Acredito que eu sou a personificação da evolução humana. Ainda tenho meus cabelos e meus dedinhos, que além de ficarem apertados nos sapatos, possuem um detector natural para quinas de móveis, mas tenho um intelecto superior. Não porque eu seja mais inteligente, esperto ou qualquer um desses outros conceitos subjetivos. A diferença é que eu sou o tipo de humano que mais dista dos animais. Meus instintos são preservados por mera necessidade de sobreviver, mas até hoje, eu nunca os usei. É tudo uma questão de raciocínio e mesmo quando minhas atitudes condizem com os instintos naturais, acredite, eu pensei antes.

Me chamo John. Não que meu nome seja John, mas é assim que eu gosto de me chamar. Isso porque é mais fácil pra você me respeitar se meu nome for John. Jhons são agentes do FBI, são senadores incorruptíveis que ambicionam a presidência dos EUA, são pais de família que se tornam heróis salvando o país de uma grande catástrofe. Se eu dissesse que me chamo João, que imagem você faria? João, meu avô, contador de histórias. João, peão que trabalhou na obra lá de casa. João, seu João. No máximo, eu poderia adicionar um "Pedro" ou "Henrique" na frente do João e então, você me associaria com um mimado playboy carioca que sai à noite socando mulheres em pontos de ônibus.

O nome é muito importante em uma história. Você idolatraria Tyler Durden da mesma forma se o nome dele fosse João Silva? "As pessoas estão sempre me perguntando se eu conheço João Silva." Conheço muito o seu João, porteiro do meu prédio.

Eu sou homem, ao menos pra contar essa história. Porque histórias assim não podem ser contadas por mulheres. Mulheres são loucas sempre desesperadas por um relacionamento. E quando não, quando estão focadas na carreira, quando gostam de hobbys masculinos, elas estão só tentando se auto-afirmar. Elas estão tentando só provar aos homens que são iguais, que podem ser iguais. Elas não são aquilo, mas elas querem ser admiradas, e aquela é a forma que encontraram pra compensar o fato de que talvez não tenham competência para um relacionamento. Ou talvez elas só prefiram se apegar a algo que só dependa delas do que se amarrarem em uma relação que provavelmente irá fracassar.

Tudo fracassa mais cedo ou mais tarde.

É claro que eu não sei se nada disso é verdade realmente. Mas a verdade não importa aqui. É isso o que eu penso. É isso o que eu penso que você pensa. É isso o que você pensa. O fato é que essa história não pode ser contada por um João ou por uma mulher. Meu nome é John e essa é a história que eu acho que você quer ouvir.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Sobre Felinos

Ele era um gato daqueles comuns, por isso, não era do tipo que as pessoas olhavam com atenção. Era só um gato de rua acinzentado como a própria rua em que morava. Mas era esperto, como os gatos de rua costumam ser. Havia nele algo vivo, algo que gatos caseiros não costumam ter. É claro que todos os gatos são naturalmente espertos, mas os gatos como ele... Ele era um gato que percebeu, quando filhote sozinho e assustado, que ficar miando não ia resolver o problema. Que percebeu que a mesma mão que dá comida e acaricia pode ser aquela que te pega pelo pescoço e te joga contra o muro. Que percebeu que não há compaixão no mundo pela qual valha a pena baixar a guarda. Gatos como ele eram mais que espertos. Eram sobreviventes.

A vida de um gato pode ser bem saborosa, principalmente pela sua essencial falta de obrigação. Encontre comida e água quando precisar e qualquer fio dental pendurado em um lixo pode ser uma diversão de horas. Mas acontece que esse gato era esperto demais. Ele um belo dia se entediou. Depois de finalmente conseguir invadir um apartamento no primeiro andar de um prédio - diversão essa que durou semanas enquanto ele tentava de todas as formas achar o jeito certo de escalar até o eu objetivo - as coisas ficaram meio paradas. Ele precisava de mais.

Atravessava a rua, distraído com seus próprios projetos felinos, foi atropelado e morreu. E então ele se levantou, lambeu a pata esquerda e pulou sobre um muro onde picharam "amor é o caralho". Com sua sabedoria de gato, ele sabia que tinha morrido assim como sabia que um cheiro de peixe vinha de algum lugar ali perto. E então ele foi atrás do peixe e depois, resolveu testar seu novo hobby.

No primeiro dia, ele entrou numa briga com um cachorro gigante. Há muito tempo, ele morria de vontade de arranhar a cara do dito cujo, mas isso custaria sua vida. Custou, mas depois de machucar bastante o adversário e morrer, levantou-se, arrepiou-se inteiro na direção do cão horrorizado e saiu correndo passando pelas grades estreitas do portão. Em seguida, entrou no supermercado da vizinhança a toda velocidade e saiu quicando entre as prateleiras derrubando o máximo de produtos possíveis. A dona do supermercado já havia o enxotado com água várias vezes e ele sabia que a ofenderia profundamente se bagunçasse seu amado comércio. Foi acertado por uma paulada e morreu na hora, sendo jogado no lixo. Acordou satisfeito pois achou comida ali e achou que era o suficiente por um dia. Foi para seu canto no telhado acima do hospital e dormiu.

Acordou no outro dia determinado a pegar o maior número de pombos que havia na alta torre da igreja. Aqueles pombos eram burros o suficiente para o entreter por horas, mas em algum momento ele despencaria. E despencou. A torre era alta demais até mesmo para seus instintos felinos e lá se foi mais uma vida. Demorou a acordar, mas era cansaço por correr atrás dos pombos. Então se escondeu e esperou passar um senhor que certa vez arrebentara sua perna com uma bengala só porque ele tentou comer seu canário de estimação. Pulou na cara do senhor e afiou suas unhas no rosto sulcado do homem. Foi retirado de cima pela união dos passantes - que também ganharam sua quota de arranhões - e teve seu pescoço quebrado.

Estralando os ossos do pescoço, saiu bamboleando depois de se certificar que as pessoas se dispersaram e a ambulância foi embora. Decidiu que naquela noite seria legal dormir perigosamente e então enfiou-se num aconchegante cano de descarga de caminhão. Há muito tempo sonhava em dormir naquele cano, mas desde que um companheiro de pobreza seu morrera intoxicado ali, nunca quis arriscar. E então dormiu e gostou, morrendo só na manhã seguinte e acordando muito bem disposto.

Por fim, traçou um novo objetivo. O primeiro andar era para os fracos. Queria o décimo, agora. Estudou a estrutura que o levou até o primeiro andar - agora era fácil - e começou a galgar os degraus que o levariam a ser o senhor de todos os gatos. Suas manobras agora eram arriscadas e imprudentes, mas contava com os reflexos de um gato confiante. Alcançou seu objetivo no fim do dia e como presente dos deuses, havia um jantar servido na mesa e a janela estava aberta. Comeu até quase explodir e então, foi enxotado por uma dona de casa indignada e pasma. Pulou pela janela satisfeito e pensando que seria bom uma queda-livre pra chegar lá embaixo mais rápido.

Infelizmente era a última de suas sete vidas e ele morreu pra valer dessa vez. Mesmo sendo um espécime genial de felino, gatos ainda não sabem contar.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sobre Deus

Esses dias, Deus chegou aqui.
- Oi.
Quase morri de susto, mas como de praxe, fingi que era perfeitamente normal uma entidade divina aparecer na minha frente e forcei um ar de naturalidade.
- Oi.
Eu não sei como, mas eu sabia quem ele era. Acho que quando se está diante de Deus, você não tem dúvidas. É claro que você se sente compelido a pedir que ele divida a água empoçada na pia entupida, multiplique aquele último pedaço de torta e transforme a água da geladeira em tequila. E eu acho que ele sabe disso, pois ele me encarou com uma cara tão pouco encorajadora que eu desisti.
- Preciso conversar.
- E?
- Quero que você me escute.
- Eu? Mas a que devo a honra? - Ironia, trabalhamos.
- Não sei, acho que é o fato de você ser egocêntrica o suficiente pra achar que eu tenho tempo pra me dedicar a ficar atormentando a sua vida por diversão.
- E não tem?
- Tenho todo o tempo do mundo.
Arqueei a sobrancelha e fiquei olhando pra cara dele como se minha expressão pudesse dizer que aquela conversa deveria se encerrar ali. Mas ele parecia não se importar. Na verdade ele parecia muito chateado.
- Porque eu deveria te escutar? - Desisti de intimidá-lo - Sempre que eu tento falar com você, você simplesmente me ignora. O que na verdade, é até melhor do que quando você me escuta e faz exatamente o contrário do que eu pedi.
- Porque eu sou Deus.
Fiz uma careta. Não tinha uma resposta para aquilo.
- Okay, fala.
- Estou confuso.
- Oh really?
Ele estreitou os olhos pra mim, mas logo voltou ao seu ar aturdido inicial.
- Sim. É muito difícil lidar com vocês, sabe? Sempre exigindo demais de mim, querendo que eu seja O Senhor dos Exércitos e o Pai da Misericórdia ao mesmo tempo. É sempre "Por favor, Deus" quando querem algo e "Meu Deus!" quando acham algo absurdo ou assustador. Sei lá, tô meio cansado de levar o peso do mundo nas costas.
- Então porque simplesmente não acaba com tudo?
- Porque aí eu ficaria entediado.
- Meu Deus! - Ele levantou os olhos pra mim como se esperasse um comentário e então eu completei desajeitadamente - Você é tão... humano!
- Imagem e semelhança, lembra?
- Ô.
Ele ficou em um silêncio perplexo por alguns instantes e enquanto isso, minha cabeça trabalhava a mil tentando descobrir uma forma de ficar amiga dele e quem sabe descolar uns benefícios.
- Sabe, eu tenho a sensação de que existem mil eus espalhados por aí, independentes e simultâneos. Todos estão cientes das ações dos outros, mas estão preocupados demais com as próprias funções para interferirem. E então tem os anjos e eu às vezes não aguento mais o Miguel querendo declarar guerra e o Gabriel perguntando quando teremos um novo evento porque ele já está cansado de jogar xadrez com São Pedro...
- Acho que você é meio esquizofrênico.
- Igual ao Tarso da novela?
- Hmm... Sim. Mas acho que seu distúrbio de múltiplas personalidades é mais acentuado.
- Você é psicóloga?
- Não, assisto muitos filmes.
- Eu gosto de filmes.
- Pensei que já tivesse de tudo nessa vida e acabasse enjoando dessa constante re-reciclagem de idéias.
- Não tenho boa memória.
- Está explicado.
- O que?
- O motivo de você ainda manter esse mundo, mesmo do jeito que as coisas andam. O motivo do livre arbítrio ainda existir. O motivo de você não ter se entediado e criado coisa melhor.
- Mas eu estou entediado. Vocês são como meu The Sims, só que eu já cheguei naquele momento em que você cansa do jogo, quando fazer o pai de família transar com as empregadas não tem mais graça, quando jogar seu vizinho folgado na piscina e deletar a escadinha não tem a mesma emoção, quando ter todo um trabalho pra fazer um Sim bem-sucedido, família e popular te dá preguiça e sono...
- Não dá pra usar um motherlode em mim?
- Não uso cheats.
- Em duas palavras: Eike Batista.
- Okay, você ganhou essa.
Ao menos eu posso dizer que já ganhei de Deus alguma vez.
- Mas enfim, se está entediado, porque não deleta o jogo e cria algo melhor?
- O melhor que existe sou Eu.
- Já sei, imagem e semelhança.
- É, você entendeu.
E então eu fui tomada por uma desolação sem fim.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sobre Aniversários


Aniversário é a sua comemoração pessoal de ano novo, então, deveria ter fogos de artifício, champagne e festas legais pra você escolher ir. Devia ser tipo Natal - que também é um aniversário - e então as pessoas cantariam pra você. Acho legal pessoas cantando pra mim. Principalmente se elas cantarem bem ou estiverem bêbadas tentando fazer um coral. Elas também comemorariam seu aniversário, mesmo com você estando longe. Eu acho simplesmente genial a idéia de você ser uma desculpa pras pesso
as se divertirem mesmo que você não esteja com elas.

Mas não, aniversário é um cu. As pessoas ficam te cobrando uma festa, um evento, cortesias, comida, bebida. E pode ser pior. No seu aniversário, ao invés de você relaxar, ser a estrela do dia e todas as pessoas que gostam de você tentarem te agradar, você tem que ficar se preocupando em fazer alguma comemoração pra essas pessoas. Você tem que comprar bebida, tem que providenciar comida e no dia seguinte, ainda tem que limpar a casa. As pessoas deviam estar fazendo algo por você e pagando a rodada no bar, mas é o contrário. É o seu dia. Dia de servir de escravo pra todo mundo em troca de presentes ruins - isso quando você ganha presente - e um abraço xoxo.

E é por isso que eu não gosto de aniversários. Eu acho a data maneira, mas não acho certo a forma como comemoramos. Eu nem lembro das minhs comem
orações, acho que lembro mais de festas de aniversário alheias do que minhas. Na infância, eu não tinha aquelas festinhas mirabolantes, achava mais legal escolher um presente bem foda e pedir pra minha mãe fazer docinhos e salgados só pra mim (a esperteza taí desde cedo).

De qualquer forma, vou citar pra vocês os que eu consegui lembrar.

Aniversário de sete anos: Meus pais resolveram fazer uma festinha pra mim na escola. Não lembro bem dos detalhes, mas lembro que foi uma bosta e que eu ganhei umas calcinhas muito feias. Daí eu catei meu irmão pela mão (que tinha quatro anos) e a gente foi pra casa da mãe de um amigo do meu pai, que ficava na mesma rua
da escola e lá ela fez pão-de-queijo pra gente e nos deixou assistir televisão. Voltamos no fim da festa pra escola, todo mundo louco atrás da gente e então comemos o resto do bolo.

Aniversário de quinze anos: Não quis festa, não quis book. Eu quis foi dinheiro e liberdade pra ir numa festa que tinha na cidade e na qual minha melhor amiga na época ia desfilar. A festa foi horrível e eu adorei porque foi engraçado, acabou a energia na cidade inteira, voltamos pra casa com dois amigos meus, paramos no bar e bebemos à luz de velas e depois ficamos na pracinha da minha casa até as cinco da manhã dando risada. Foi maneiro.

Aniversário de dezoito anos: Fui assaltada dois dias antes e implorei pro assaltante não levar as cortesias. Fomos pro finado Café Cancun (Minha amiga
que morava comigo, um amigo que tava de visita e alguns colegas de faculdade), ganhei de presente umas doses de tequila com tequileiro, ganhei um bolo de sorvete do bar e gente cantando parabéns e batendo panela. Curti muito o tequileiro, acho que fui nele umas cinco vezes.

Aniversário de dezenove anos: O pessoal da faculdade foi lá pra casa, enchemos a cara, cantaram aniversário do taiada pra mim, todo mundo ficou meio l
ouco e fim. Não converso com mais ninguém que esteve lá.

Aniversário de vinte anos: Combinei uma festa num bar em Goiânia, mas tava apaixonada por um guri que tava em Crixás. O aniversário era na sexta e eu tinha vindo de Crixás pra Goiânia na quarta. Pois depois de mandar recado no orkut pra todo mundo e organizar os detalhes, larguei tudo e voltei sexta à noite pra Crixás pra passar meu aniversário com o tal guri (essa é pra vocês que acham que eu não posso ser romântica u_u). Foi legal porque tinha seresta no clube nessa época, daí eu ganhei umas músicas dedicadas, uns parabéns maneiros, uns abraços meio suspeitos e dinheiro de um amigo do meu pai (o mesmo do meu aniversário de seis anos). E é claro, adorei a cara do guri por quem eu era apaixonada quando me viu e ganhei uma ótima noite de presente. Pena que duas semanas depois eu tinha desencutido do guri, mas é uma boa história.

Aniversário de vinte e dois anos: Fiz um almoço lá em casa só para mulheres, o almoço se prorrogou para uma caixa de cerveja e eu dormi bêbada e tudo indica aniversários similares a esse nos próximos anos.

Enfim... Todo esse texto é obviamente motivado porque esse é o meu primeiro aniversário depois que criei esse blog. Cá estou eu, completando vinte e três anos com uma vida amorosa fracassada e um currículo profissional medíocre. Mas acreditem ou não, eu estou feliz. Já tive dias melhores, é claro, mas ainda assim eu sou do tipo que a
credita que a vida sorri pra mim.

Eu sou aquela que capotou um carro. Mas o carro tinha seguro e ninguém se machucou além de arranhões. Eu sou aquela que caiu de um carro em movimento. Mas o carro era um fusca e eu só dei umas ralada maneira, umas cambalhotas pra trás e parei em pé (Highlander não faria melhor). Eu já me meti numa briga feia. Mas eu só ganhei um olho roxo, foi o bobo do Chris que saiu lá da Bahia pra me ver que tomou o tiro (te amo, seu baiano blasé lindo)

Vinte e três anos e nenhuma conquista tradicional. E daí? Vinte e três anos recheados de amigos que me marcaram e foram embora e de amigos que eu sei que vão ficar pra sempre. De gente tão incrível que eu jamais poderia descrever o quanto eu sou privilegiada. Vinte e três anos de histórias que poucas pessoas com o dobro da minha idade tem. Vinte e três anos de lágrimas, risadas, gritos e muito mais risadas. Posso conquistar um curso superior, um maridinho razoável ou qualquer outra dessas porras a qualquer momento. Mas quero ver alguém conquistar uma cicatriz de facada no joelho e ter uma história mais engraçada que a minha sobre como a consegui.

Eu não gosto de aniversários, mas gosto de viver. A cada cerveja tomada, a cada momento passado junto com quem eu amo, a cada virada de jogo qu
ando a vida me passa uma rasteira, eu estou comemorando. Não preciso de anos novos. Todo dia é meu aniversário. Todo dia é o primeiro e o último dia da minha vida.

Feliz aniversário pra mim, gente. Agora vou postar esse texto, limpar a bunda e dar descarga. Acho muito simbólico passar a virada do aniversário cagando e escrevendo essa história pra vocês. Vinte e três anos fazendo merda real e metafórica.

Tô esperando vocês me buscarem pra me pagar a cerveja.
Update: Ganhei esse presente do Mauro e queria compartilhar

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Sobre Fuuuuuuuu

Eu sei que estou triste quando eu perco a vontade de discutir, de lutar. Quando eu sou ofendida e ao invés de revidar, eu só sinto vontade de chorar. É nesse momento que os absurdos se tornam verdade, que se você falar que eu tenho o pinto pequeno eu vou achar que é um dos maiores xingamentos que escutei na vida. Eu tô tão machucada, tão magoada, não dolorida, que até mesmo a compaixão alheia me ofende. Tudo é uma crítica, tudo é cobrança, tudo é falta de compreensão. As pessoas perguntam se está muito quente em Goiânia e minha vontade é começar a chorar e gritar perguntando porque ela fica jogando na minha cara que eu moro num lugar quente. q

A questão é que eu já não sei mais até onde eu acredito em mim. Eu tenho a sensação de que guardo milhares de Gabrielas dentro da minha cabeça, cada uma com personalidade e responsabilidades diferentes. E a Gabriela que está no comando no momento está ficando louca porque a Gabriela que devia estar na sessão de sentimentos está dormindo em cima da mesa, a Gabriela que devia estar no setor de soluções práticas está bê
bada, a Gabriela que cuida da coragem se demitiu e por aí segue-se a zona.

Eu sinto uma vontade imensa de desistir, mas a questão é: Desistir do que? Eu não preciso nem desistir, porque eu perco tudo antes de ter a oportunidade de escolher seguir adiante ou não. Eu só faço as escolhas erradas, não vou nem citar aqui porque já basta o meu constrangimento comigo mesma.

Pra piorar, achei um nódulo do meu seio esquerdo. Porque né? Perder o peito e o cabelo que são as duas coisas que eu mais gosto em mim é exatamente o q
ue estava faltando pra completar. Gente, eu tenho medo de a qualquer momento receber uma ligação me dizendo que minha família toda morreu e que quando meus amigos estavam vindo me avisar pessoalmente, sofreram um acidente e morreram também.

É claro que tudo isso pode ser só drama. É claro que o nódulo pode ser um inchaço bobo, é claro que eu posso receber uma ligação me chamando pro emprego que eu queria, é claro que eu posso ganhar na megasena. Mas gente, com a sorte que eu tenho, querem apostar quanto que meu presente de aniversário vai ser um câncer?

Vou é jogar DC Universe Online que pelo menos lá eu tenho superpoderes. Ooops! O download ainda não terminou.


domingo, 30 de janeiro de 2011

Sobre Lar

Uma ótima forma de começar o ano, é começar perdendo. Perdendo o pseudo-namorado, o emprego, a chance de escolher uma boa faculdade e o direito de morar sozinha. Pior ainda, me dando conta que perdi pessoas que não vou conseguir recuperar. Tô tentando seguir a filosofia "durdeniana" de que "é somente depois de perder tudo que você está livre pra fazer tudo" e agora, eu tô livre pra fazer tudo. Mas na boa, enfiem a liberdade no cu.

Querem me arrastar de volta pro interior. Abandonei a faculdade, meu concurso era temporário, o Enem cancelou minha redação e "Porra, Gabriela, você já brincou de casinha nos últimos seis anos e meio e não fez nada de útil. Já tivemos paciência demais, te damos todo esse tempo pra você escolher o que queria e veja bem, você não está no mesmo lugar em que estava quando saiu daqui aos dezesseis. A única diferença, é que você está velha." Claro, eles não dizem isso. Mas eu posso ler nas entrelinhas. Eu posso dizer isso a mim, faz todo sentido.

Eu não fiz oposição, afinal, eles estão certos. Até tentei me convencer de que queria ir pra casa, de que seria bom não ter que arrumar minha cama, fazer minha comida ou limpar minha casa. De que seria legal poder passar mais tempo com minha mãe e com meus cachorros e que seria até engraçado aturar meu pai e meu irmão. Eu acreditei que seria bom poder voltar a sair todos os dias com minhas amigas de tanto tempo, que ia ser legal ir nas festas nas cidades vizinhas como antes, que ia ser bom não ter que andar de ônibus. Eu estava quase feliz em ir embora. Eu não teria mais que ser forte, eu só seria a filha fracassada com um futuro promissor jogado no lixo. Eu poderia conviver com isso.

Só que então eu percebi que apesar de toda a verdade até agora, tem algo errado. Eu não estou no mesmo lugar que estava aos dezesseis. Eu posso não ter as conquistas que esperavam como um curso superior e um emprego lindo. Mas eu conquistei experiência. Eu conheci a realidade da faculdade, eu capotei um carro, eu descobri o que é trabalhar pra se sustentar, eu viajei o Brasil, eu aprendi a jogar RPG de fórum, eu conheci gente maravilhosa, eu me apaixonei e me desapaixonei, eu entrei numa briga em que meu amigo tomou um tiro e eu ganhei um olho roxo, eu criei um blog e o mantive, eu perdi vôos, eu conheci o mar, eu trouxe quem eu quis pra dormir na minha casa, eu ganhei famílias adotivas, eu adotei gatos, eu fui no Pacaembu ver o jogo do centenário do Corinthians, eu hospedei um colombiano, eu dei festas, eu fui intensamente feliz e infeliz...

Eu não quero ir embora. Eu não sei mais dormir em cama de solteiro, minha mãe ocupou todo meu guarda-roupa, eu não aceito ordens de ninguém, eu não gosto de dar satisfações sobre onde vou. Eu gosto de saber que minha casa é um porto-seguro pros meus amigos, que eles podem correr pra cá se algo de errado. Eu descobri coisas demais sobre o mundo pra conseguir voltar pra dentro do meu casulo e viver feliz nele.

Além do mais... Além do mais, eu descobri o que é ter internet de 3mb e não saberei viver num mundo com internet a 56kb.

Socorro, gente!

Update 03.02.11: Pra completar a sequência de derrotas, o Corinthians me perde pro Trollima na Pré-Libertadores. PQP VCS HEIM?

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sobre Nada

Há tempos estou me preparando pro primeiro post do ano, mas acontece que não consegui pensar em nada. Não me sinto apta pra compartilhar nada com ninguém, nem surtos neuróticos, nem histórias engraçadas, nem contos e crônicas nonsenses. Me sinto apática, um estado que tem se tornado bem recorrente na minha vida e que às vezes eu identifico como uma forma que encontrei para lidar com a depressão. Eu não me deprimo. Eu simplesmente deixo de sentir.

Mas não vou deixá-los órfãos de mim, para o bem ou para o mal. Mas é que no momento eu estou me dedicando a uma teoria sobre o tédio, sobre a necessidade desesperada de se fazer algo e da preguiça que dá quando encontramos esse algo pra fazer. Estou relacionando esse sentimento com a sensação de felicidade e vou ganhar dinheiro com isso.

Ou talvez eu esteja só me enganando pra justificar o fato de que não faço nada e esse é um pecado imperdoável no capitalismo.

Feliz 2011, babes. Be right back.