quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Sobre Cinema

Certa vez eu li no blog Humorragia um post sobre cinema. Até cheguei a comentar, visto que acho que ir ao cinema é um evento além do simples fato de ir ver um filme. Eu, particularmente, não gosto. E depois de assistir Harry Potter há alguns fins de semana, prometi a mim mesma que listaria os motivos que me fazem preferir assistir filmes em casa a ir ao cinema.

- FILAS

Cinema: Detesto qualquer ambiente em que eu tenha que ficar em uma fila. Desejo as mais terríveis atrocidades para as pessoas que estão na minha frente, principalmente se elas forem do tipo que se enrolam pra encontrar as coisas dentro da bolsa ou se são burras demais pra entender instruções simples. Caixas que ficam fofocando, estão em aprendizagem ou são lentos demais pra fazer o serviço progredir em um ritmo aceitável também ganham uma carga de ódio toda especial. E no cinema você pega filas pra ingresso, pra comprar pipoca, pra usar o banheiro, pra entrar na sala de cinema, pra subir as escadas do cinema, pra sair da sala do cinema, etc.

Em casa: Você não pega filas.

- INVESTIMENTO

Cinema: Os preços de ingressos são bem salgados se você for do tipo que assiste muitos filmes. Claro que há os cinemas mais baratos - que possuem qualidade inferior - e os horários promocionais. Só que se você for um trabalhador assalariado como eu, deve estar cansado de saber que você NUNCA está disponível nos horários promocionais porque é exatamente no horário em que você está trabalhando. Isso sem contar o quanto você paga na pipoca, no refrigerante, no chocolate, nas despesas pra se deslocar de casa, etc.

Em casa: Você pode alugar filmes por preços razoáveis em qualquer locadora ou pode fazer como eu e comprar seus filmes favoritos - hoje em dia você encontra uma infinidade de títulos com valores entre 9,99 e 12,99 na Americanas, por exemplo - e assim prestigiar o trabalho feito pagando por ele, com a vantagem ver o filme quantas vezes quiser sem ter que pagar de novo. Há ainda as possibilidades mais baratas como os DVDs piratas e os downloads feitos pela internet. Os comes e bebes também são mais baratos.

- CONFORTO

Cinema: É a velha lei: Você sempre quer por o pé na poltrona da frente, fica puto quando alguém se senta nela e fica mais puto ainda se alguém ousar por o pé na poltrona em que você está sentado. O ar condicionado está sempre muito frio, ou está estragado e aí tá muito quente. Se for uma sessão cheia, você tem que disputar a tapa o encosto do braço com seus vizinhos de poltrona. Ir ao banheiro? Pegar mais pipoca? Tudo bem, só que você vai perder uma parte considerável do filme. Se as poltronas não forem marcadas, você tem que chegar correndo e dando voadora pra tudo quanto é lado pra pegar um lugar bom. E ainda tem sempre o problema dublado x legendado.

Em casa: Você pode por o pé na poltrona, na mesa e até atrás da sua cabeça se você quiser - e conseguir. Você prepara o lugar pra que fique confortável pra você, arrasta colchões, joga almofadas, cava um buraco pra se enterrar, etc. Também manda tanto na questão da iluminação, quanto na questão da temperatura. No máximo, você disputa o melhor lugar com seu irmão, namorado ou amigo. Qualquer coisa, deite em cima deles mesmo e fica tudo bem. Você também pode pausar o filme, voltar, passar em slow motion, repetir cenas que não entendeu e tudo isso sem nem ter que se levantar. E se você quiser assistir o filme em tailandês com legendas em hindi, também pode fazer isso sem desgastar.

- COMPANHIAS

Cinema: Somente em uma sessão à tarde do pior filme do mundo pra você não ter companhia em uma sala de cinema. Mesmo que você seja descolado e independente do tipo "vou ao cinema sozinho", você sempre terá um bando de estranhos compartilhando sua experiência cinematográfica. E esses estranhos podem ser adolescentes histéricas que gritam. Podem ser aquelas tias folgadas que ocupam a poltrona dela e metade da sua. Podem ser aquelas turmas da escola que ficam fazendo piadinhas e comentários durante o filme. Podem ser aqueles pau no cu que vão no cinema só pra dar spoiler. Podem ser aqueles casais de namorados que ficam se agarrando perto de você. Podem ser aqueles comilões que fazem questão de abrir um saco de batata Ruffles no momento crucial do filme. Podem ser aquelas pessoas que não desligam o celular e só colocam no silencioso e depois ficam acendendo a maldita luz do visor durante o filme. Ou pode ser pior e nem no silencioso elas põem. E podem ser todos eles juntos.

Em casa: Você escolhe suas companhias - e se elas forem pentelhas, a culpa é sua - e se você for assistir um filme sozinho, NINGUÉM vai ficar te olhando com cara de compaixão ou com medo de você ser estranho a ponto de não ter ninguém com quem ir ao cinema.

- QUALIDADE DE ÁUDIO E VÍDEO

Cinema: É o único ponto em que o cinema GERALMENTE ganha. Tela grande, sala completamente escura, boa acústica.

Em casa: Esse diferencial do cinema pode ser superado se você tiver como investir em uma boa televisão e em um home theater. Claro que nem todos podem - ou querem. Mas se você é realmente um cinéfilo, poderia se esforçar pra economizar com o que gasta com cinema e montar o seu próprio. Claro, apenas uma sugestão.

- PEGAÇÃO

Cinema: Muito útil principalmente se você está conhecendo a pessoa agora e mais útil ainda se a tal pessoa for dessas guriazinhas novas que o pai e a mãe controlam demais. Também é uma boa pedida para voyeurs. O chato é que dificilmente você vai conseguir passar de uns amasssos calientes.

Em casa: Você pode fazer tudo o que tem direito e sem perder o filme, pois basta pausar ou depois voltar pra cena em que parou de prestar atenção. Além do mais, quem vai querer só uma punhetinha enquanto pode ter serviço completo, não é mesmo?

- ROUPAS ADEQUADAS

Cinema: Existe todo um ritual de se arrumar pra ir ao cinema, escolher a roupa, levar algo pro caso do ar condicionado estar frio demais, etc.

Em casa, eu posso assistir todo e qualquer filme pelada.

I rest my case.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sobre Murphy (e sobre como eu o contornei)

Madrugada de quinta pra sexta e o rompimento de um curto - mas nem por isso, pouco importante - relacionamento. Um coquetel molotov explode na sua cabeça e se reflete em apertos no peito e uma sensação desesperadora de impotência. Quando se está num relacionamento, você inevitavelmente faz alguns planos a médio e longo prazo. Eu planejei meu Ano Novo e de repente, ele não estava mais lá. Eu estava triste, é claro. Mas eu estava principalmente puta. Muito puta.

Expectativas frustradas são de longe, a melhor forma de me deixar de mal com a vida. Por me conhecer bem, evito compromissos e planos sempre que posso, principalmente porque papai e mamãe me ensinaram a honrar todas as minhas promessas. Para não contrariar minha educação, prefiro não prometer. Mas nem eu, que tento ser um pilar de racionalidade, consigo me manter sempre sob controle. Então lá estava a dois fins de semana de 2011, numa sexta em que não precisava trabalhar por causa de uma confraternização em que eu não queria ir, sob dieta rigorosa que me impedia de encher a cara de sorvete ou cerveja (ou os dois), recém-solteira e com passagens marcadas para um lugar para no qual eu não queria estar.

Nessas horas, tudo o que você sabe é que você não sabe de mais nada. O incêndio causado pelo coquetel molotov ainda está queimando lá dentro e é difícil tomar uma atitude ou fazer uma escolha, pois você tem medo de dar errado mais uma vez. E é nessas horas que você percebe que deve ter feito algo de útil na vida e o universo tenta te dar uma compensação. No meu caso, o presente veio na forma do meu amigo muito querido, Mocó, que veio de Brasília só pra me buscar.

Eu estava um lixo. Na maior parte do tempo calada, perdendo tempo entre racionalizar tudo e tentar apagar as memórias. E ainda assim ele permaneceu sereno e tranquilo. Sem aquele olhar de compaixão e sem aquele ânimo exagerado de "vai, vai, se anima, anda, levanta esse astral, vamo, vamo". É aquela ligação mágica que permite que você fique no mais absoluto silêncio perto de uma pessoa sem que isso fique constrangedor.

Mas Murphy é o tipo de pessoa que sempre se faz presente em nossas vidas, não é mesmo? Entre as várias programações bacanas programadas, uma delas era um casamento. E foi um casamento simples, lindo, doce. E eu, que sempre abominei a idéia de me casar - e qualquer um que me conheça bem sabe disso - de repente me vi com o peito apertado imaginando que aquilo jamais ia acontecer comigo, que ninguém me ama, que ninguém me quer e então eu vou tomar sopa de barata.

Não sendo o suficiente, fomos pra um rodízio de crepe - eu de dieta, lembram? - e lá tínhamos dois recém-casados felizes, além dos vários outros casais. E lá estávamos Mocó e eu, companheiros de downers por motivos diversas. Adivinhem o tema na mesa? Nome de filhos e apelidinhos carinhosos constrangedores. Foi demais pra meu instável estado emocional. Aquela sensação de ser a última pessoa no mundo se apoderou de mim e lá fui eu encher a cara de crepe. No fim da noite, chegando ao prédio do meu amigo e o que tinha no salão de festas? Uma recepção de casamento. Perseguição, trabalhamos. Lá estava aquela sensação de que tudo aquilo era inalcançável pra mim e mimimi bububu.

Então veio o domingo, veio Scott Pilgrim, veio o Matheus lindo demais - sobrinho do Mocó - pra fugir pelo apartamento enquanto eu corria atrás dele, veio o almoço delicioso da tia Cinthia, veio meu afilhado Álvaro, veio sorvete, veio futebol americano, veio a gente sentado na grama curtindo os mosquitos, veio eu comentando do quanto Brasília me assusta, veio o Mocó me levando pra casa, veio planos pro Central RPG, veio chuva e o fim de semana tinha acabado.

Hoje acordei estranhamente bem e fui trabalhar. Eu estava com uma sensação de... alívio. E então eu me lembrei de que eu aprendi a jogar sinuca do nada, das histórias dos colegas de escola do Mocó, do Álvaro catalogando raças de cachorros como se eles fossem pokémons, do Matheus rindo brincando de se esconder comigo, da cadelinha linda que apareceu durante o jogo e correu pra mim, do vídeo sanguinolento e MUITO maneiro que fizeram pro pessoal do rpg live action, do meu Ano Novo que ganhou um novo rumo e que irei passar com minha "família sumareense" + alguns amigos muito queridos, da semana que passarei com minha mãe e minha melhor amiga em Porto Alegre... Me toquei que eu tinha tido um fim de semana incrível e que tinha uma gama de coisas incríveis me esperando ali na frente.

E então, um sms chega ao mesmo tempo que um cara do meu trabalho vem entregar o convite do casamento dele pro meu chefe. E enquanto comentam sobre o assunto, alguém pergunta "E você, Gabriela? Vai casar algum dia?". E depois de ler um "Acho que tô em dívida com você. Será que posso pagar hoje?" a única resposta que eu consegui dar foi "Vai jogar praga em outra, credo!".

Mocó, obrigada por cada abraço, por cada beijo, por cada xêro, por cada colo, por cada ombro amigo, por cada carinho, por cada gentileza, por cada risada, por cada segundo de compreensão, por cada programação divertida e por me trazer de volta pro sol. (P.S.: Mesmo assim, jamais te perdoarei por ter matado aquele Às na sinuca que EU coloquei na boca da caçapa u_u)

Agora galera, adivinhem quem vou publicar esse texto e ir me arrumar pra sair? Acho que tá tudo bem agora, né?

(Além do mais, dívidas são dívidas)

"Até mais e obrigado pelos peixes!"

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sobre Ano Novo

Decidi que quero começar 2011 com o mínimo de pendências possíveis. Claro que não alimento mais aquela ilusão de que posso resolver os problemas de um ano inteiro em apenas um mês, mas sei que posso me esforçar pra dar o meu melhor. Algumas coisas jamais poderei resolver, algumas idéias sobre mim jamais poderei mudar e algumas amizades estão perdidas pra sempre. Lamento, mas não posso sofrer por isso. No momento, vou me dedicar ao que ainda posso resgatar.

A primeira pessoa que eu tô pedindo desculpas, sou eu mesma. Quero fazer as pazes com essas várias nuances de mim que eu abrigo. Ainda vou manter meus conflitos internos - eu não seria humana se os eliminasse por completo. Mas vou me perdoar mais, vou me amar mais, vou me cuidar mais. Fui tão relapsa comigo, em tantos sentidos. Quero riscar a palavra "auto-sabotagem" do meu dicionário.

As próximas pessoas da lista de desculpas, são os amigos que eu tinha próximo a mim e que perdi com o tempo. Alguns foram apenas um afastamento que acontece em muitas relações - e a esses, quero apenas dizer que ainda os amo e que mesmo que talvez nunca mais sejamos tão íntimos, eles sempre serão importantes pra mim. Outros, eu perdi por brigas, desentendimentos e bobagens que poderiam ser resolvidas na época se eu simplesmente tivesse pedido desculpas, mas que por orgulho, não pedi. A esses eu tenho pedido desculpas tardias e dito que gosto muito deles e que gostaria de tê-los perto novamente. Claro que estou pronta pra aceitar que talvez seja tarde pra ser desculpada. Mas eu prefiro arriscar trazer essas pessoas de volta pra minha vida a perdê-las pra sempre porque fiquei com medinho de tentar.

Depois, vem os agradecimentos àqueles que me aguentaram o ano inteiro. Aquelas pessoas lindas e especiais que conseguiram aprender a me amar de novo a cada novo dia. Claro que nem sempre estivemos juntos, mas mesmo na ausência, era nessas pessoas que eu pensava quando tudo dava errado. Não há palavras pra descrever o quão bom é chegar ao fim de mais um ano mantendo os velhos amigos.

E por fim, vem meus novos amores. Gente que eu conheci no decorrer desse ano e que se tornaram fundamentais na minha vida. Preciso agradecê-los por deixar eu entrar na vida deles, por me darem a chance de me deixar conhecer e de os conhecer também. É sempre gostoso saber que o espaço na sua vida pra novas pessoas não tem limites.

Sei que esse post é clichê, ainda mais nessa época do ano. Mas nem por isso deixa de ser válido. Depois de repensar tudo o que perdi em 2010, percebi que a grande maioria das perdas era reversível e que só dependia de mim, que não agi como devia no momento certo. Agora tô tentando remendar os furos que dão pra consertar e tentar não furar tanto daqui pra frente.

Além do mais, eu gosto de clichês. E usando um pra encerrar esse post: "Antes o arrependimento do erro cometido do que a angústia de nunca ter tentado". Nunca se sabe o que nos espera na próxima esquina ;)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sobre Bebedeira I

Caos aéreo, mercado em expansão e a música "Homem Primata" no Media Player. Foi assim que uma determinada companhia aérea decidiu que queriam se diferenciar das outras em todos os sentidos. Preços, acomodações e tratamento. Alguém sugeriu servir bebidas alcoólicas em todos os vôos de todas as classes - "É para deixar os passageiros mais calmos e maleáveis". Num vôo longo lotado de brasileiros, nada poderia deixar as pessoas mais satisfeitas do que cerveja de graça sendo servida por moças de roupa justa e maquiagem exagerada.

- Temos Skol, Brahma e Antártica, senhor.


- Moça, eu comprei passagem para o paraíso, é isso mesmo?

Risadas entre todos. Cerveja pra todo mundo. Piadinhas de "essa rodada é por minha conta" e pessoas tentando convencer as comissárias que afinal, não havia mal nenhum elas tomarem uma cervejinha também. "Somos todos amigos aqui." Aos poucos elas iam se soltando - "Toma um gole na minha aqui então, vai me fazer essa desfeita?" - e logo logo estavam mandando os próprios passageiros irem buscar a cerveja na minúscula cozinha da aeronave.

- E NÃO ESQUECE DE TRAZER UMA PRA MIM TAMBÉM! - Gritavam com a voz embargada causando gargalhadas e gritos em eco de outros passageiros.


E foi aquela alegria, aquele falatório e as pessoas sociabilizando como jamais haviam feito antes em um vôo. Ahhhhh, nada melhor pra nos aproximar de gente estranha do que uma paixão em comum: A cerveja! Logo, todos eram melhores amigos de infância. Alguns se abraçavam e cantavam e "por favor, não vamos perder contato, me passa seu orkut, seu facebook e seu twitter". Outros já combinavam que quando chegassem ao seu destino, iriam apenas tomar um banho e saírem de novo. "Cara, tô feliz demais por ter te conhecido".

Mas como nem tudo são flores, em dado momento filas gigantes se formavam na porta dos banheiros. A alegria já não era tanta pois as pessoas, impacientes, queriam esvaziar a bexiga para poderem enchê-la novamente. Dois rapazes bastante ébrios lutavam com todas as suas forças pra quebrar uma das janelas do avião ignorando todas as leis (fossem físicas, fossem biológicas, fossem jurídicas). - NÓZ VAMZ MIJAR LÁ EMBAIJOOOOO... VAI JOVER MIJO NA GABEZA DAQUELS VACILAAUM!!! - E lá estavam eles com o pingolim de fora e como não conseguiram quebrar as janelas, começaram a mijar no vidro delas mesmo.


A chefe de cabine vomitava escorada em um canto enquanto choramingava pra um senhor que tinha três queixos do namorado que a traiu com um travesti. - EU ZEMPRE AJEI ESQUISI... ICH... ELE GOZTAR GUI EU ME MAGUIAZI TANTO... ICH. - E em meio a vômito e quilos de rímel escorrido, a mão do seu confessor deslizava por suas coxas subindo cada vez mais. - O ZINHOR NÃO GOSDA DE ZE VISDIR DE MUIÉ NÃO, NÉ?


Dois recém-amigos-de-infância agora brigavam porque... Bem, nem os dois sabiam bem o motivo, mas uma rodinha improvisada já havia se formado e os espectadores jogavam nos brigões alguns amendois dos pacotes que alguém havia encontrado. Ninguém sabia o motivo da briga e menos ainda porque jogavam amendoins, mas todos - inclusive os brigões - pareciam estar achando aquilo imensamente divertido.


É claro que ninguém sabe que isso tudo aconteceu e eu que sei, não posso provar, porque de repente um dos passageiros gritou "EU É QUE VOU GIRIGIR (?) EZA BAGAÇA!" e com a ajuda de seus súditos - os anarquistas estão em todos os lugares, lembrem-se disso - conseguiu invadir a cabine de comando, nocauteou o piloto e o co-piloto e assumiu os controles. - ATENZÃO ATENZÃO SENHORES PASSAGEIROS... AQUI VALA O ZEU COMANDANTE, E O ZEU COMANDANTE VALOU PRA TODO MUNDO POR A MÃO NA CABEZAAAA!!!


O avião caiu no meio do mar e seu último contato com a torre foi um coral de pessoas cantando "ÊÊÊÊ MACARENA, AAAI!"

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sobre Forever Alone

Ela puxa o ar até sentir que seus pulmões estão em sua capacidade máxima e olha pra cima abanando os olhos para que as lágrimas sequem antes que escorram e sua maquiagem borre. Então ela solta o ar, pesado, como se cada palavra entalada no peito, como se cada lágrima que secou ali no desespero, como se toda a dor que ela sentia saísse amarrada ao gás carbônico que agora despejava pra fora.

Então ela força um sorriso e diz "bom dia, tudo bom?" pra um daqueles vários chefes do interior que ela não sabia diferir um do outro. E ela faz piadas, e brincam com ela sobre futebol - "e o Corinthians, heim?" -, e lhe contam histórias. E ela ri. E ela responde ("Vai ser campeão!"). E ela ouve. E ela parece normal, mas na verdade ela só está olhando pra cima discretamente rezando pra não chorar agora. E então ela finge que boceja pra uma lagriminha insistente cair e parecer apenas que ela está sonolenta demais.

Ela vai pra casa e está sozinha, porque sua amiga viajou de última hora (como sempre). É sempre assim. Elas combinavam ir juntas, mas surge uma oportunidade imperdível pra amiga - "ah, vai logo e a gente se vê lá" - e então ela vai só. E na maior parte das vezes por uma obrigação social que ela não pode fugir.

E não há nada nem ninguém que realmente aplaque aquele vazio. E ela pensa que talvez as pessoas que entraram na sua vida nos últimos meses possam finalmente preencher o vácuo, mas não. Ela preenche a vida das outras pessoas, mas ninguém preenche a dela - "estão ocupados demais com eles mesmos". Então ela se preenche com a vida de outras pessoas e com risadas de pessoas que talvez tenham morrido e com histórias que ela gostaria que acontecessem a ela. E ela ri e chora, mas quando ela chora ela tem que pausar tudo até que os soluços parem porque agora não há mais ninguém pra quem ela tenha que sorrir.

E então o celular toca e ela limpa as lágrimas e a garganta e alguém do outro lado precisa dela.

- Calma, vai ficar tudo bem. Eu tô aqui.

E sim, ela estava ali e faria tudo pra ficar bem. Uma pena que ela não tivesse ninguém pra fazer isso por ela.

E lá vai ela puxando o ar até sentir que seus pulmões vão explodir...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sobre Melhores Amigos

- Ele terminou comigo.
- Fiquei sabendo. Sinto muito.
- Tô muito mal.
- Não fique, ele não vale a pena.
- Você não pode dizer isso, sempre gostou dele.
- Claro que posso. O fato de eu gostar dele não me impede de saber que ele não era o melhor pra você.
- Como você pode saber?
- Eu simplesmente sei.
- Não comece, te conheço bem demais. Você sabe de algo que não quer me
contar.
- Não começa você, Bu.
- Não me chama de Bu. Ele é que me chamava de Bu.
- Mas eu sempre te chamei de Bu.
- Agora não vai chamar mais.
- Você é louca.
- Ele disse isso.
- Já pensou que ele pode estar certo?
- Obrigada. Era exatamente isso que eu esperava ouvir do meu melhor amigo.
- Desculpe.
- Por que você não disse no início?
- Não disse o que?
- Que ele não era o melhor pra mim.
- Porque eu acreditava que pudesse dar certo.
- Tem algo mais.
- Tá vendo como você é louca?
- Me acusar de algo é a forma que você sempre encontrou pra desviar do assunto.
- Você não desiste, né?
- Isso não devia ser novidade pra você.
- Tudo bem então. Eu não queria te contar isso porque não queria te magoar ainda mais.
- Você já me magoou tanto que uma mágoa a mais ou uma a menos não vai fazer diferença.
- Você é cruel.
- Não, você é cruel. Agora fala logo.
- Ele ficou com a Camila enquanto vocês ainda namoravam.
- O QUE?
- Isso que você ouviu.

Silêncio. Longo. Estúpido. Negativo. Mais real e palpável que os aparelhos de telefone que eles seguravam.

- Cê ainda tá aí?
- Não sei.
- Me perdoa, Bu.
- Não consigo.
- Mas você disse que não ia fazer diferença.
- Não faz como sua ex-namorada.
- Não?
- Não. Isso serviu pra destruir a imagem que eu tinha de você como namorado perfeito, me resgatou o amor-próprio. Feriu meu orgulho, abalou minha confiança, mas ao menos me mostra que realmente você não servia pra mim.
- Então porque você diz que não pode me perdoar?
- Porque você é meu melhor amigo.
- Não tô entendendo a lógica.
- Você nunca escondeu nada de mim, nem mesmo quando ficou bêbado naquela festa do Zóio e a menina que você comeu te fez um fio terra. Você nunca mentiu pra mim, nem mesmo quando o eu perguntei o que você achava do meu vestido favorito e você disse que ele me deixava enorme, ou quando eu perguntei se você havia visto meu pai com outra mulher e você disse que sim e me contou tudo. Mesmo sabendo que eu ia te zoar ou que você ia me ferir, me magoar e me deixar muito, muito triste, você sempre foi franco comigo. E então você virou meu namorado e me traiu...
- Me perdoa...
- ...mas o que me doeu não foi tanto a traição de um namorado. Foi a traição de um amigo. A traição de alguém que sempre esteve comigo e em quem eu confiava cegamente. A traição da pessoa por quem eu pulei o muro do hospital de madrugada pra levar chocolates proibidos. Você não só fez algo que iria magoar sua namorada, mas fez algo que iria machucar sua melhor amiga. Você não levou em consideração isso. A amiga. Em algum momento você esqueceu que o namoro era apenas um adicional do qual poderíamos nos desfazer uma hora ou outra, mas que nossa amizade sempre seria sólida como uma rocha. Você me traiu, me enganou, me magoou e ainda por cima, me escondeu algo sobre você.
- Bu, eu nunca pensei assim. Me perdoa. Meu Deus, eu não posso viver sem você. Você sempre foi um pedaço de mim, a pessoa que eu sempre soube que estaria lá quando eu precisasse. Por favor, fica brava comigo, me tortura, faz qualquer coisa, mas não me deixa.
- Desculpa, não consigo.
- Então é assim? É o fim?
- Sinto muito.
- Sabe o que é curioso? Hoje de manhã repetimos esse diálogo, só que as falas estavam invertidas.
- É. Eu reparei.

Mais um silêncio. Mais suave. Libertador. Desesperadamente libertador a ponto de fazê-los se odiarem por terem errado tanto que estragaram de tal forma que não poderiam consertar.

- Bu, você realmente tá terminando tudo porque eu trai nossa amizade?
- Não.
- Então por que?
- Porque eu não sou obrigada a ser corna, levar um pé na bunda e depois disso tudo ainda continuar sendo a babaca que atura todos os seus problemas enquanto você come outras.
- Mas você disse que...
- EU MENTI, BELEZA? E quer saber do que mais? Vou contar pra todo mundo sobre o fio-terra e vou dizer que você adorava fazer isso quando a gente ia pra cama e esse foi um dos motivos de EU ter terminado com você.

Bateu o telefone na cara dele e chorou.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sobre Azar I

Tem certas coisas que acontecem comigo que me deixam embasbacada com minha capacidade de atrair confusão. Tipo, um ou dois azares consecutivos acontece com todo mundo. Mas uma sucessão de coisas dando errado sequencialmente não dá pra passar desapercebido. Talvez algum dia eu narre aqui sagas do passado, mas hoje tô aqui pra contar pra vocês algo que aconteceu hoje enquanto eu saía do trabalho: A Saga do Pneu.

Tem um colega meu de trabalho que mora perto de onde eu moro e eventualmente me dá carona pra ir pra casa, o Carlos. Beleza, mal começamos a rodar e percebemos que algo tá errado. Quando paramos o carro, adivinha? Um dos pneus dianteiros furados. E quem sabia que um de nós sabíamos trocar pneu? "Não Carlos, uma vez eu vi meus amigos trocando um pneu, não deve ser difícil. Abre lá o porta-mala do carro e vamo pegá a chave de roda e o macaco".

O porta-malas não abria.

Roda chave prum
lado, roda pro outro, ativa e desativa o alarme, vai com força, vai com jeitinho e nada. Porta-malas travadão. Abri a porta traseira e falo "Vamos tentar tirar aqui pelo banco de trás mesmo. Carlos, comé que faz pra destravar o banco?" "Ah peraí"

O banco não destrava.

Tudo bem, o port
a-malas não tinha tampa, vamo passar ali por cima. Me debruço pelo banco de trás pra pegar o pneu e as ferramentas.

Não tinha estepe nem ferramentas.


"Peri que vou ligar pro meu pai." *minutos depois* "Debaixo do carpete." Vamo puxare né? Aí me sobe aquele poeirão mas que isso, dá nada, minha rinite alérgica pode sobreviver a isso. Achamos o bendito pneu e as ferramentas e com algum esforço tiramos
tudo e colocamos na calçada.

Como que abre o macaco?

T
ínhamos todo o material disponível mas quem disse que a gente sabia como funcionava o macaco? Eu jurava que ele tava dobrado e que tinha algum botão mágico que fazia ele desdobrar e aí ficava tudo bem. Mas nada. Dá-lhe Carlos ligar pro pai dele de novo e o pai dele explicar que era só girar a chave de roda, mas que primeiro tínhamos que afrouxar os parafusos. Ahhhh tá. Encaixamos a chave de roda nos pneus.

Quem disse que os parafusos afrouxavam?

Carlos, com seu chassi de grilo, não tinha condições físicas. Eu, gorda pero incompetente, quase me caguei fazendo força e nada. Uma tia estacionou o carro ao lado e ofereceu a chave dela porque viu que a nossa era uma bosta. Ela subiu na chave, pulou e nada. "Fazer o que né?". Ela guardou a chave e entrou com um lençol num centro de reabilitação em frente onde estacionamos. -q

Eu ligo pra mãe e peço pra ela entrar no Google pra mim porque a net do meu celular tava travando. Mas né? Mãe nunca sabe procurar no Google o que a gente precisa, daí larguei de mão e fui tentar procurar eu mesma pelo celular. Nisso olho pro carro e tá Carlos lá agachado olhando pra roda muito sério como se ele fosse intimidar os parafusos e eles fossem sair sozinhos.


"Gabriela, tá dando erro no gugol"

Fizemos mais uma tentativa e dessa vez subi na chave de roda e fiquei pulando. O que consegui: Que o ferro de extensão voasse e acertasse o vidro do carro da tia que ajudou a gente. Ainda bem que o carro dela tava tão tenso que um arranhão a mais, um a menos, ela nem ia ver. Sentei num banco na calçada - isso é Goiânia, gente, sempre se arruma um lugar pra sentar - e Carlos decide ir na esquina pedir ajuda e me aparece com dois caras e um refrigerante Mineiro. Os caras conseguiram afrouxar um parafuso e tudo mais, a gente se encheu de esperança.

A chave de roda quebra.


Dá-lhe a gente entrar no centro de recuperação e pedir pra tia emprestar de novo a chave de roda pra ela. No meio tempo o cara que tava com a camisa do Sanduíches Zé Maria ficou mexendo com as monera que passava e eu lá completamente hipnotizada por seu exposto cofrinho super cabeludo. Além do mais eu ficava olhando p
ro pneu encostado no carro e lembrando da minha infância quando reuníamos uma galera na ladeira da pracinha e fazia uma fila, daí um soltava o pneu lá em cima e galera ficava pulando. Pensei em pedir pro Sanduíches Zé Maria jogar o pneu pra eu pular, mas aí eu ia ter que correr pra pegar ele lá embaixo e tudo mais, aí desisti.

"Carlos, sai daí, cê vai morrê"

Finalmente os caras conseguiram afrouxar todos os parafusos, fazer o macaco funcionar, trocar o pneu e tudo mais. E e
nquanto o Carlos fiscalizava o trabalho e os dois faziam força eu aproveitei e tomei uns dois copo do refrigerante Mineiro porque não sou obrigada né? Por fim, deu tudo certo. A tia ficou com a chave de roda completamente empenada e uma marca nova no carro e os caras que resolveram o problema e esperavam uma gratificação financeira ficaram com um "brigadão" e alguns goles a menos no guaraná.

Moral da História: Não ajude as pessoas, essa gente não presta kkk

Flw

"Galera, passa lá pra dar uma força pra esse fera"

sábado, 9 de outubro de 2010

Sobre Amor

(Me disseram que eu só sei escrever pornografia ou com sarcasmo. Aceitei o desafio de fazer algo diferente e o resultado foi o último post + esse)

Venha.

Venha quando estiver disposto a aceitar que a paixão passa. Que aquele sentimento violento, aquela necessidade e todas aquelas lágrimas e sorrisos abundantes, uma hora se esgotam. Que é bom demais estar apaixonado e viver essa paixão, mas que vai acabar. Que construir algo em cima disso é como firmar um prego na areia: Você pode até conseguir mantê-lo em pé por um tempo, mas vai cair inevitavelmente.

Venha quando tiver vivido tudo o que acha que tem pra viver sozinho. Quando estiver satisfeito e talvez cansado. Quando você ainda puder sentar com os velhos amigos e rir do que já fizeram, mas não quando ainda sentir vontade de fazer novamente. Quando tiver conhecido todas as silhuetas e intimidades que você quis e que estiveram ao seu alcance. Quando as programações de solteiros ainda te despertem boas lembranças, mas não a vontade. Que você não sinta que perdeu nada, que abriu mão de nada. Venha quando puder ficar e sentir que é exatamente isso que você queria.

Venha quando descobrir que tudo é relativo. Que existem defeitos que você não pode suportar, mas outras pessoas sim. Quando estiver consciente de seus princípios a tal ponto que sabe o que está disposto a aceitar e o que é inadmissível. Não se sacrifique, faça concessões. Não aceite meus defeitos no início para jogá-los na minha cara depois.

Venha quando puder admitir amizades entre homem e mulher. Quando souber respeitar a idéia de que tenho mais amigos homens por identificação. Quando conseguir ser amigável com eles e quem sabe, até amigo de verdade. Quando estiver disposto a fazer uma interseção entre o meu mundo e o seu. Quando se dispuser a aceitar todas as malas - e os malas - que trago comigo.

Venha quando souber rir. Quando tiver dominado a arte de rir pra não chorar, de achar tudo tão desesperador a ponto de cair na gargalhada. Venha de bom humor. E se não for assim, venha com o espírito preparado para ficar de bom humor a qualquer hora. Venha quando lembrar que pra tudo dá-se um jeito na vida e que não dá pra perder tempo sendo amargurado. Venha pra admitir as piadinhas que inevitavelmente acontecerão. Pra aprender com os erros meus e seus, mas sem se atormentar. Venha pra ser sério quando preciso, mas sem perder a gentileza.

Venha quando gostar de assistir Pulp Fiction e discutir o filme comigo. Ou quando não suportar o filme e mesmo assim assistir do meu lado e rir das minhas teorias. Venha quando entender que não gosto de dar beijo de manhã por causa do hálito. Ou quando estiver disposto a prender meus braços e me beijar mesmo assim, me matando de ódio. Venha quando achar divertido cantar desafinado e em voz alta comigo Have You Ever Seen The Rain enquanto o som está no último volume usando a escova de cabelo como microfone. Ou quando filmar com o celular essa cena e postar pra todos os nossos amigos verem. Venha quando puder ficar do meu lado durante a noite quando tenho que estudar. Ou quando puder me fazer um café com chocolate, me dar um beijo e ir dormir porque você não é obrigado e acordar no meio da noite me procurando na cama.

Venha principalmente quando for o "ou". Muito mais fascinante é alguém que possui os mesmos princípios que eu, mas difere de mim nos detalhes.

Venha quando souber que amor a gente contrói. Quando entender os conceitos de convivência, amizade, confiança, respeito, compreensão e lealdade. Que o amor da sua vida é seu melhor amigo, mesmo que você não conte tudo pra ele. Porque é nele que você vai pensar quando tudo estiver ruim. Porque você vai querer correr pra ele. Porque você vai querer lutar por ele. E você então talvez entenda que você pode amar alguém e se apaixonar por outra pessoa. Mas se você entender como é a paixão como eu disse desde o começo, vai conseguir dominá-la. Porque eu só quero que você venha quando o longo prazo compensar o momentâneo.

Venha quando puder, não tenha pressa. Só venha quando estiver pronto e então, venha pra sempre. E eu te prometo que eu só irei, quando tudo isso também for verdade pra mim.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sobre Dieta

Me toquei que só estou fazendo dieta porque quero me ver livre de você. Por alguma lógica que não entendi, coloquei na cabeça a idéia de que chocolate e você são muito iguais e por isso estou tirando vocês da minha vida por um tempo. Não que eu queira que vocês saiam pra nunca mais voltar. Mas por favor, só voltem quando estar com vocês seja um prazer, não uma necessidade.

Eu não quero mais deixar meu pensamento se agarrar à sua imagem com tanta força quando as coisas estão ruins assim como me agarro ao chocolate quando estou de TPM. Acho errado ter você como motivação assim como é errado gostar de ir pro trabalho só porque tem uma loja de chocolates artesanais perto. Porque não posso construir mais uma vez toda uma vida tomando outra pessoa como base que não seja eu. Porque por motivos inconfessáveis nós dois sabemos que só é bom assim, quando é tão impossível que podemos preencher as lacunas com coisas mais impossíveis que fazem tudo ser perfeito.

Acho a paixão uma coisa muito torta pelo simples fato que ela invevitavelmente acaba. O fascínio é temporário. E todos nós somos apenas brinquedos que queríamos muito e depois de usados intensamente são deixados de lado. De vez em quando, brincamos com ele. Falamos que temos um pros amigos. E nunca deixamos que o joguem fora. É preciso muito desapego, e poucos o tem em quantidades necessárias. Sou o Super Nintendo com o cartucho do Zelda que você sempre quis. Você é meu par de patins com rodas rosa-chiclete e verde -imão. Não há dúvidas que nós nos adoramos, mas sou realista demais pra achar que isso é o suficiente.

Tô conseguindo ficar sem chocolate, sem nenhum pedacinho. É mais difícil com você. Eu preciso de migalhas diárias, por mais que eu lute contra isso. Porque eu sei que o chocolate vai estar pronto pra voltar pra mim quando eu quiser. Mas morro de medo que enquanto eu aprendo a viver sem você, você também consiga aprender a viver sem mim.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sobre Futuro Hipotético I

Muitas vezes eu me peguei pensando como seria minha vida se eu tivesse feito escolhas cruciais diferentes das que fiz. E juntando isso a uma conversa com minha mãe e a episódios da série Being Erica, lanço uma nova série no Adulterrado: Being Gabriela. Essa série irá tratar de um dia comum na vida da Gabriela que eu seria se eu tivesse feito algumas escolhas diferentes.

Pra estreiar, apresento a vocês a Gabriela que eu seria se há três anos e meio atrás eu não tivesse escolhido abandonar o curso de Direito. Dedico esse post ao meu pai, porque essa é a Gabriela que ele sempre sonhou que eu fosse.

"Acordo e nem sei que horas são, mas deve ser umas nove, porque é mais ou menos nesse horário que meu corpo desperta, exceto quando estou de ressaca. Fico rolando na cama mais um pouco até que decido desligar o ar condicionado e abrir a porta. Os gatos reclamam com preguiça porque sabem o que isso significa. Logo eu volto pra cama e sou eu, dois gatos e três cachorros. Fico ali mais um pouco me divertindo com meus filhotes até que decido levantar. Todos eles me seguem até o banheiro onde tomo meu banho morno e passo meus cosméticos diários. Tô com quase vinte e três anos, não posso abrir brechas pra que um belo dia a idade chegue e me pregue um soco nas fuças.

Volto pro quarto e o look diário é uma calça social com regata branca e um desses cintos grossos que marcam a cintura. Depois de um bom tempo de academia finalmente consegui ter um corpo razoável, mas nem de longe é o que eu gostaria, por isso preciso usar esses artifícios femininos pra dar uma melhorada na imagem. Mas deixa só eu terminar de pagar meu Corolla que isso vai mudar. Vou poder finalmente fazer aquela lipo dos sonhos. Meu cabelo só precisa de uma chapinha na franja, a maquiagem é leve e o salto do sapato, médio. Afinal, o dia só tá começando e eu vou precisar sorrir muito, andar muito, ser muito sociável e desviar com habilidade das cantadas de boa parte dos homens com quem trabalho. Detesto trabalhar com mulheres e agradeço todos os dias por não ter que lidar com praticamente nenhuma delas.

Dou uma olhada lá dentro de casa - meu quarto é um anexo externo porque curto minha privacidade - e o pai ainda não levantou. Depois que me formei, há quase um ano atrás, e voltei pra casa, ele dorme bem mais. Acho que é aquela idéia de “substituto à altura”. Ele sabe que eu sou tão igual a ele como a genética permite, só que melhorada por um curso superior em Direito e o fato de eu ter peitos. Sim, o “legado” está a salvo comigo.

Tiro o carro da garagem e desço pra Praça da Prefeitura. Na verdade, eu não levaria nem dez minutos indo a pé, mas andar a pé é algo que desconheço desde que voltei pra casa. Lembro quando eu prometi à mãe que quando me formasse nunca deixaria ela andar a pé, mas nunca me lembro disso na hora de levantar as sete da manhã pra levar ela na escola. Mas tudo bem, ela entende. Ela sempre entendeu meu pai, por que é que ela não me entenderia? Apenas a desencargo de consciência, vou passar na Agrovet e comprar umas besteiras pra casa e pegar ela na escola na hora do almoço.

Estaciono o carro e logo na esquina oposta já vejo dois dos “meus rapazes”. Chamo-os assim porque eles ficam envaidecidos, mas o mais jovem deles deve estar com quase quarenta. São os vereadores da cidade, meus “chefes”. Assim que eu me formei, me esforcei ao máximo pra pegar a OAB e poder voltar pra Crixás. Oficialmente, sou apenas uma advogada de um escritório da cidade. Mas quem liga pro oficialmente, não é mesmo? Na verdade eu sou uma arquiteta. Minha vida é elaborar planos que rendam lucros financeiros e atendam aos interesses dos “meus rapazes”. É montar alguns projetos razoáveis – projetos nos quais vamos ter algum lucro, obviamente – para serem postos em votação por um deles e convencer outros quatro a votarem a favor. E pra isso, eu uso de qualquer argumento. O pai não faz idéia, mas tenho bem menos escrúpulos que ele. É geralmente nessas horas que entra a vantagem de saber Direito. Ou de ter peitos.

Converso com os dois vereadores que estão ali, dou uma passadinha no gabinete do prefeito pra ter uma noção do andamento da campanha para deputado pro qual estamos trabalhando – leia-se: saber quanto vamos ganhar – e vou até o escritório. Apesar do meu dinheiro vir mesmo de um trabalho não tão ético quando a advocacia em si, gosto de pegar alguns casos pra me divertir. Não rola nada grandioso em uma cidade de quinze mil habitantes, mas é justamente por isso que me ocupo. Na hora do almoço, pego a mãe na porta do colégio, levo pra casa e conto pra ela dos planos em andamento. Ela não gosta, mas escuta. Só o pai me entende.

Chegamos em casa e almoçamos. O pai já levantou e então conto pra ele com ainda mais detalhes os projetos que tenho em mente. Ele ri e dá algumas sugestões. Nos entendemos a maior parte do tempo, mas quando não entramos em acordo, é um inferno. Ele insiste que sabe mais que eu, que tem mais experiência. Mas eu sou mais inteligente e o que ele levou anos pra aprender, eu praticamente nasci sabendo. Nessas horas eu apenas finjo que concordo com ele e depois faço do meu jeito. Desculpa aí, paizão, mas a sua época já passou.

À tarde temos uma “reuniãnzinha” na Câmara e termina já na hora de eu ir pra academia. Estou satisfeita. Conseguimos aprovar uma votação crucial e é dois milzinhos em caixa até o fim da semana. Fim do dia, yes! Ligo pras meninas e pergunto se não animam de ir em Santa Terezinha, a cidade vizinha, comer algo e tomar uma gelada. Temos tempo limitado, pois a Polly trabalha à noite. Pego elas nas suas respectivas casas e vamos. Volto a tempo de ir jogar uma canastra marota com o pai e o resto da sua gangue de cinquentões. Sou a única mulher, mas nem parece nessas horas. Sou apenas meu pai mais jovem. E detesto perder.

Só vejo meu irmão quando chego à noite. A gente dá umas risadas, ele me conta umas histórias de putaria e sutilmente pede dinheiro. Ele sempre foi assim, um malandro. Mas a gente se acostuma, e ao contrário do meu pai, sou mais generosa. Jogo cenzinho na mão dele e digo que é a última vez. Ambos sabemos que não é, mas cada um tem que cumprir sua parte do scrpit.

Ainda não tá tarde demais e eu não tenho horário pra acordar. Pego o celular e ligo. O cara é casado, mas bom, quem tem compromisso é ele, não eu. Pego ele na porta de casa e vamos pro motel. Não faço muita questão de discrição, sempre consegui driblar bem as fofocas. Mulheres em geral são seres babacas, ainda mais no interior. Acham que o simples fato de casar e ter filhos vai fazer a vida delas completa. Não vai. Enquanto elas ficam lá imaginando onde o marido está, eu estou usando-os e descartando como bem entendo.

Além do mais, eu não tenho nada a perder. Tô com a vida feita, meus amigos. Não tenho nem um ano de formada e tenho carrão do ano, casa confortável, dinheiro pra gastar, vida de rainha. Meu trabalho exige habilidade, mas eu sou tão boa nele que não me preocupo. Consigo o que quero ao preço que tiver que pagar. “Meus rapazes” vão mudar com o tempo, mas eu permaneço lá. Político é tudo igual, gente é tudo igual. Todo mundo tem seu preço e eu sei medir isso só de olhar. O pai quer que eu me candidate na próxima eleição, mas mal sabe ele que estando fora dela eu tenho muito mais a ganhar.

Chego em casa, tomo aquele banho, tiro a maquiagem, passo mais cosméticos e vou dormir com meus dois gatos e três cachorros. A mãe e o pai não deixavam eles dormir com eles, mas desde que cheguei isso mudou. Gosto dos meus bichos. É amor mesmo, sabe? Sincero, felicidade de saber que eu tô em casa, felicidade em ficar perto de mim gratuitamente. São os únicos em quem confio. Neles e na mãe. Ah, a mãe. Boa pessoa, mas de tão boa, é meio boba. Francamente, não sei como ela aguenta o pai e eu. É... melhor pra nós dois.

Já tô quase dormindo e então eu penso como seria se eu tivesse realmente desistido do curso quando percebi que detestava Direito. Provavelmente estaria aí, em algum empreguinho público qualquer, ganhando pouco, andando de ônibus, passando vontade, devendo e com o pai me odiando. Mas não, eu fui esperta. Não fiz o que eu gosto, mas o que era necessário. E afinal, vivendo bem, que mal tem? Posso não estar realizada, mas tenho grana e conforto. E no fim, é isso que conta. Acredito que sou feliz. Pelo menos, não me sobra tempo pra pensar que não sou. Além do mais, fim de semana já tá aí e eu tô com uma viagem marcada pra Caldas Novas com uma galera e eu já encomendei um Blue Label pra pagar de gatinha."

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sobre Meu Pai

"Durante os últimos seis anos, tudo o que eu fiz foi tentar te agradar. Minto. Durante minha vida inteira, meu maior esforço foi agradar você, mais do que a qualquer outra pessoa. Eu sempre tomei as suas expectativas como minhas. Enquanto ninguém esperava muito do Allan, todos esperavam tudo de mim. Que eu fosse uma ótima aluna, que eu passasse em um vestibular numa Federal, que eu me formasse com louvores, que eu passasse em um concurso público, enfim... Que eu fosse um sucesso.


Mas essa não sou eu. Eu tentei durante esses vinte e dois anos ser o que você quer que eu seja, mas desculpa, sou parecida demais com você pra ser o que os outros esperam. Eu só posso ser quem EU quiser, por mais que me doa ter que te decepcionar. E eu não quero me formar em Direito. Eu não quero prestar concurso público. Não quero ser a porra de uma juíza, de uma promotora, de o diabo de ré. Olha, eu posso não saber o que eu quero ser, mas uma coisa eu tenho certeza: Eu sei exatamente o que eu NÃO quero ser.


Por isso, depois de adiar durante anos essa conversa, decidi que não dá mais. Sou teimosa e obstinada demais pra conseguir fazer o que não quero. Não faço. Acho que nós dois sempre soubemos disso e tentamos nos enganar. Infelizmente não funcionou. Prefiro passar o resto da minha vida sendo feliz com meus fracassos do que ser feliz com os sucessos que eu não quero.


Eu sempre fui uma ótima aluna. Eu passei num vestibular concorrido pra uma Federal. Eu passei em um concurso – que não era o que você sonhava, mas ainda assim um concurso público com um número razoável de concorrentes e no qual fiquei bem posicionada e que você pôde usar pra contar vantagem pros seus amigos. Mas eu não vou me formar em Direito. Eu não sou o filho do Zé Romão que é sei-lá-o-quê em sei-lá-onde. Eu sou a sua filha e sou uma cópia sua e é por isso mesmo que eu vou ser o que eu quiser onde eu quiser. Foi isso o que você fez a vida inteira e a vida foi dura, mas não tente negar pra mim: Você só é feliz porque sempre fez o que queria fazer. E só pôde fazer isso porque não tinha seu pai tentando te obrigar a ser o que você não queria e porque tinha sua mãe pra te apoiar em tudo. Você sempre foi livre, pai e por mais que a vida não seja um mar-de-rosas, DUVIDO que você tivesse escolhido outra se pudesse.


Eu sinto muito mesmo por não ser o que você quer. Sinto de verdade. E saiba que eu tentei. Muito mais do que eu tenha tentado qualquer coisa por qualquer outra pessoa. Mas não dá. E já que eu não vou conseguir te agradar, vou seguir minha vida. Desisti de Direito e agora vou me dedicar a procurar outro rumo. Talvez eu volte pra casa com o rabinho entre as pernas daqui um tempo e me sinta ridícula, mas foda-se, eu nunca vou saber se não tentar. Não tenho medo de ter que começar tudo de novo um milhão de vezes e herdei isso de você.


Espero que me apóie. E se não puder fazer isso, fique com as lembranças do que eu conquistei por você. Agora eu estou indo atrás do que posso fazer por mim.


Eu te amo e te admiro por sua coragem, e não por seus feitos.
Torço pra que um dia possa dizer o mesmo de mim.

Att.
Gabi"

Daí eu enviei esse e-mail pro meu pai hoje e ele me mandou um sms dizendo que tem vergonha de mim e que eu não valho nada.

Um bom setembro a todos.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Sobre Desculpas

(Esse é o segundo texto da coletânea "Adulterrando o mundo ao seu redor e resolvendo problemas". Esse texto foi inspirado nos tweets sensacionais da Manoella Furtado (@xylocaina - sigam-na) e em conversas com amigos sobre a banalização do perdão. Curtam aí e me sigam no twitter @bielabagacera porque tá frio e eu preciso de amor).

As pessoas tem a mania de acreditar que independente do que façam, um pedido de desculpas é o suficiente pra colocar as coisas no lugar. Não é. O perdão é muito mais complexo do que um simples "Tá tudo bem, vamos esquecer isso.". O perdão exige um altruísmo genuíno da parte do ofendido. Exige uma alma elevada capaz de esquecer e relevar. No meu caso, o perdão exige algo em troca. Porque convenhamos: Eu não sou obrigada, né? Como diria minha amiga Samantha em um de seus momentos de sabedoria "Gente, 'desculpa' não é nem uma palavra difícil de se dizer. Se fosse ao menos paralelepípedo.".

Então, venho aqui nesse segundo post da série "Adulterrando o mundo ao seu redor e resolvendo problemas" sugerir que mudemos nossa forma de se redimir. Tudo bem que a melhor maneira de evitar essa situação é não cometer erros, mas cagadas acontecem então, temos que encontrar um novo modo de pedir perdão. Algo que de alguma forma compense a pessoa que se sentiu lesada. Acho que todo pedido de desculpas deve vir acompanhado de uma punhetinha.

"- Eu arranhei seu dvd d'O Poderoso Chefão sem querer. Me desculpa?
- Não.
- Por favor, por favor, por favor.
*punhetinha*
- Me desculpa?
- Tá tudo bem agora."

"- Cara, bati seu carro.
- O QUE?
- Posso bater uma punhetinha pra compensar.
- Okay."

Viu gente? Imaginem só o quanto o mundo seria mais feliz se além de nos arrependermos e pedirmos desculpas, nós também usássemos a masturbação pra compensar nossas cagadas? A pessoa ia relaxar, o número de homens sem sexo e mulheres mal comidas ia diminuir e se rolar um clima quem sabe a coisa pode até evoluir. Por que não? Pensem com carinho nessa proposta.

Agora, avancemos um pouco nesse projeto porque infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade repressora em que a Igreja CatólzzzZzzzZzzzz ~ronc. Tem muita mulher que não gosta de uma punhetinha. Mulher que ainda não descobriu o interruptorzinho do prazer que veio acoplado ao mijadouro. Mulher que não foi apresentada às maravilhas que a técnica "homem-aranha" pode realizar. Então, pedir desculpas e oferecer uma punhetinha para essas moças mal comidas castas pode piorar a coisa pro seu lado. Então, nesse caso, quando for pedir desculpas, compre coisas pra ela. E tenha pelo menos o trabalho de se preocupar em comprar algo que ELA goste.

"- Amor, esqueci de dar comida pro seu gato e ele morreu de fome.
- BUÉ VOCÊ NÃO SE IMPORTA COMIGO NEM COM AS COISAS QUE EU GOSTO BUÉ VOCÊ É UM INSENSÍVEL BUÉ VOU TE DENUNCIAR PRA SOCIEDADE PROTETORA DOS ANIMAIS BUÉ...
- Calma, amor. Consegui comprar um Clube da Luta novinho traduzido pro português. Cê lembra que eu te disse que só houve uma edição aqui no Brasil e também comprei a camisa especial do centenário do Corinthians e...
- BUÉ BLZ SAI DA MINHA CASA."

Tá errado, gente.

"- Amor, eu andei tão preocupado esses dias, pensando em como ganhar dinheiro pra gente poder viajar junto pro exterior que acabei me desligando do mundo ao meu redor e não lembrei de dar comida pro seu gato.
- E... E... O que aconteceu com ele?
- Amor... Eu sinto muito.
- BUÉ MAS VOCÊ PROMETEU CUIDAR DELE BUÉ VOCÊ SABE O QUANTO ELE ERA IMPORTANTE PRA MIM BUÉ...
- Calma, meu amor. Eu imaginei que você ia ficar muito sentida, então passei no shopping e comprei esse Carmen Steffens aqui pra você e aproveitei o embalo e te trouxe essa calça da Colcci porque eu achei que ela ia deixar esse seu bumbum lindo ainda melhor."

Pronto. Você resolveu seu problema. Ficou algumas centenas de reais mais pobre, mas pensa bem né amg: Você matou o gato dela.

Ressalvas:
- Se você for homem hetero e fez uma cagada com teu amigo homem hetero, manda ele criar vergonha na cara que esse negócio de ficar de "mimimimi não desculpo" é coisa de viado. Se não quiser ser tão agressivo, paga uma puta pra dar uma punhetinha pra ele no seu lugar e tá tudo bem agora.
- Se você for mulher hetero e fez uma cagada com tua amiga mulher hetero, relaxa. Mulher é um bicho tão desgraçado que mesmo que se você desse o mundo pra ela, ela ainda ia falar mal de você.

Então, mais uma vez vou ficando por aqui deixando essa dica pra vocês guardarem no seu coração. Só queria ressaltar que tanto uma punhetinha, como uma edição em português do Clube da Luta, como a camisa do centenário do Corinthians, como sapatos Carmen Steffens, como uma calça da Colcci me agradariam muitíssimo caso você seja filha da puta comigo. Eu sei. Sou muito amor, perdôo muito fácil. É claro que se você matar um dos meus gatos eu vou querer tudo isso e ainda vou te empalar.

Fiquem na santa paz.

Att.
Biela
Usando a pornografia pelo bem da humanidade.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sobre Liberdade e Conservadorismo

Gente, esse mundo tá muito errado. Eu sei lá se é minha criação interiorana ou se é minha natureza que tende ao conservadorismo do século passado, - aquela do tipo "toda putaria é liberada desde que você faça escondido e cumpra sua função social como esposa, marido, filho, etc." - mas o fato é que eu não ando conseguindo acompanhar essas tendência do mundo moderno. Me chamem de retrô, mas ainda sou a favor do tempo em que a galero preocupava-se DE VERDADE em mostrar para a sociedade o que a sociedade esperava dela e fazia o que bem entendia nos bastidores. Se você quer ter o cabelo estranho, dar o cu e usar calças coloridas coladas, faça isso na discrição do seu lar e não em rede nacional, okay?

Essa liberdade que tomou conta do mundo criou uns tipos andrógenos que não dá pra ignorar. Toda a bizarrice agora é comum e o pior é que você é obrigado a fingir que acha que tudo é normal, mesmo que no fundo você pense "Se meu filho virar uma dessas coisas eu juro que bato nele com um gato morto até o gato miar. E se alguém vier com essa porra de Lei da Palmatória pra cima de mim, apanha também.". Se você manifesta uma opiniãozinha contrária, você é machista, você é homofóbico, você é estúpido, você é agressivo, etc, etc, etc. Marcelo Dourado foi chamado de todas essas coisas e mais além e ganhou o Big Brother. Sabe por que? Porque no fundo, a maioria das pessoas concorda com ele.

É isso mesmo. TAPA NA CARA DA SOCIEDADE! Se você ainda se pergunta como um cara como aquele ganha um programa de tanta repercurssão, é simples: Nunca na história desse país (Lula, te dedico seu lindo) uma pessoa representou tão bem a mentalidade brasileira. Nós ainda somos um país conservador, que embora tente acompanhar o ritmo de "liberdade pra dentro da cabeça", continua se incomodando em ser forçado a aceitar tudo como se fosse natural. Não é. Talvez se torne um dia, mas eu duvido. A maior idiotice da atualidade é tentar ir contra a natureza do ser humano. É achar que vai ser diferente porque temos tecnologia, porque estamos na era da modernidade e do progresso. A massa será sempre a massa, e taí o já obsoleto caso Geyse Arruda como exemplo: Um grupo de alunos relativamente jovens surta porque uma mulher estava com um vestido muito curto. Histeria coletiva vai se tornar algo cada vez mais comum. Dorme com essa Brasil.

Provavelmente eu vou ser atacada por causa desse post. Todos os grupos que defendem uma bandeira de minorias vão se sentir pessoalmente ofendidos. E a única coisa que tenho a dizer sobre isso é: ME CHUPEM! Eu sou gorda e nem por isso tô aí defendendo a idéia de que vocês devem achar os gordos lindos. Nem por isso eu tô usando blusa curtinha e justa pra obrigar vocês a conviverem com minha obesidade. Eu sou mulher e nem por isso tô querendo ir pra obra dar uma de peão pra provar que mulheres e homens são iguais. Nem por isso dispenso o ideal de um cara que ganhe mais que eu e que me faça me sentir segura.

Não adianta dizer que o mundo anda menos hipócrita. É impossível conviver em sociedade sem sê-lo (ai gente, eu ri da sonoridade dessa frase). A questão agora é que precisamos ser hipócritas com relação a muito mais coisas que antes. Mas nosso preconceito continua aí, latente. Ou você acha que um dos caras que xingou a Geyse não dá a bundinha pro amiguinho? Ou que uma das meninas que a chamou de puta não tem caso com o professor?

Enfim, DIREITOS HUMANOS MEU CU. Democracia é para fracos. Nasci no século errado, tenho certeza. Tô cansada das pessoas fazendo questão de que nós saibamos sobre sua sexualidade, sobre seu mau gosto para roupas, sobre suas tendências suicidas, sobre seus problemas financeiros, sobre teus erros do passado... Gente, eu me mato pra não tentar expor nenhuma das minhas “fraquezas” e galero aí se esforçando ao máximo pra expor as suas. Gente, acho uma falta de dignidade sem tamanho. Mas eu sei que logo logo entramos em colapso e regrediremos lindamente, basta ver os sinais. E deusu, se você existe, permita que eu esteja aqui pra soltar um tipicamente aquariano "Eu avisei.".

Att.
Adolf Hitler Goiano.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Sobre Verborragia

Hoje eu não tô afim de me preocupar com meu português, com a pontuação ou com uma introdução decente. Quero poucas vírgulas pra poder falar tudo que vem na cabeça exatamente como vem porque é como se de repente eu tivesse sido possuída por uma verborréia incontrolável e eu tenho uma rima e uma piada que poderia ser encaixados aqui mas eu não sou obrigada a falar algo tão ruim. Em primeiro lugar eu queria dizer que eu estou muito feliz que você tenha voltado pra minha vida mas às vezes preferia que você se mantivesse longe porque há muito tempo eu me acostumei com a idéia de que você nunca fica pra sempre, apenas por tempo o suficiente pra fazer com que eu me envolva e depois você vai embora de novo porque você tem uma vida e mesmo eu tendo uma eu não conseguiria me desligar de você e eu acho isso muito injusto. Eu não sei bem eu sempre tentei explicar racionalmente o que eu sinto por você mas nunca consegui e eu não entendo direito porque sempre que eu tento pensar nisso é como se minha cabeça tivesse sido apagada igual naquele filme com a Julianne Moore em que o filho dela foi abduzido por ets e ninguém lembra disso. Você simplesmente sempre significou mais do que deveria, mais do qualquer outro que foi muito mais presente, importante ou relevante na minha vida e eu não sei se misturei as coisas mas a questão é a cada palavra de carinho que você diz eu me derreto toda e começo a fazer mil planos que não vão se realizar e então eu vejo que vai ser sempre assim porque esse tipo de coisa que faz você parecer idiota você não escolhe a não ser que você seja a Eliza Samudio.

O pior de tudo é que já tem uns cinco anos que é tudo desse jeito e eu pensei que quando eu crescesse e fosse mulher eu pudesse encarar isso com muita fé mas não! Nada mudou com relação a nós dois porque quando eu dou por mim é do mesmo jeito e você finge que se entrega mas não é verdade e eu finjo que não me entrego porque se eu me entregasse eu ficaria vulnerável demais e para o bem ou para o mal eu não sei me vulnerabilizar. Acontece mesmo é que eu nunca tive ninguém pra cuidar de mim e eu sei que quando um homem de quase cem quilos tenta me espancar eu não tenho um herói pra tentar impedi-lo então eu tenho que resolver isso sozinha porque é assim que as coisas funcionam pra mim e assim que sempre vai funcionar. Eu sou o apoio de tanta gente que eu já nem me lembro mais e é quando as coisas ficam horríveis que eu percebo que eu tô carregando todo o peso do mundo sozinha e não tenho ninguém pra me ajudar e que eu não tenho ninguém pra me defender e que eu tenho que ser forte física e psicologicamente porque na verdade eu tô sozinha e é melhor eu me acostumar a isso porque toda vez em que eu me iludi que tinha alguém pra cuidar de mim eu tomei no cu porque além de estar sozinha fui pega desprevenida. E eu sequer tenho alguém pra conversar de verdade porque tá todo mundo ocupado demais com seus problemas pra se preocupar de verdade com alguém. Atlas, me add.

E daí que eu me toquei que eu realmente sou adulta e é até por isso que criei esse blog e então não adiantou muita coisa porque ser adulta é uma merda principalmente porque você decide viver um ano imaginário como adulta e sabe que no final dele você só volta a ser medíocre. E eu simplesmente comecei a me conformar com o fato de que na minha vida nada é fácil e de que eu me lamentar não adianta nada mas às vezes é muito difícil manter esse pensamento porque vejam bem, até meu irmão foi pro Amapá e meu irmão é burro, mas tem um emprego no Amapá. Eu não sei se teria um emprego no Amapá mesmo sendo mais inteligente que o meu irmão porque até pra ele que tem tudo pra ser tão fodido quanto eu as coisas são fáceis e eu me pergunto: DEUS POR QUE EU?

O interessante é que minha família é tão estranha que eu só soube que meu irmão ia pro Amapá porque ele pediu pra eu olhar o preço das passagens pra Belo Horizonte (?). Nesse meio tempo eu já liguei pra minha mãe pra pedir dinheiro duas vezes e ela nem comentou nada do tipo "Sabia que seu irmão foi pro Amapá" porque sei lá né gente, super normal as pessoas se mudarem pro Amapá quando têm 19 anos super comum acontece o tempo todo. Meu pai também me ligou e a gente falou do Corinthians e de política e dos cachorros mas não falamos que meu irmão foi pro Amapá porque acho que a gente nem lembrou na verdade eu nem tava lembrando até me tocar que meu irmão tem um emprego e que eu fiquei intrigada por ele ter um emprego e não porque ele foi pro Amapá. Curiosamente a Nathi foi embora essa semana pra Curitiba e todo mundo quase morreu e a gente chorou e se despediu dela pela janela do meu quarto no nono andar e aquilo foi muito emocionante e a tia Dulce ficou surtada porque ela foi embora e disse pra Mayanny que precisava ter uma filha mesmo que a Nathane só tenha mudado de cidade e não morrido e mesmo que ela tenha a Juliana com aquele cabelo ruivo natural que muito me dá inveja. E eu mandei um monte de mensagem pra Nathi porque realmente sentirei falta da nudez dela mas eu sequer comentei com meus amigos que meu irmão se mudou pro Amapá porque eu não lembrei e eu me pergunto se minha vida vale realmente a pena quando se tem valores tão deturpados.

E eu acho que só disse isso tudo mesmo porque tô apavorada com um futuro que não consigo deslumbrar e uma carreira que não consigo escolher enquanto até as pessoas que eu conheci quando eu tava na faculdade e elas no colégio estão se formando. E também não suporto mais as pessoas dizendo que eu sou inteligente e que tô desperdiçando minha mente porque elas não fazem a menor idéia do quanto é cruel você sempre fazer as pessoas criarem expectativas porque você sabe que nunca vai poder cumprir por mais que se dedique ALÔ PAI! E eu não sei o que quero de mim e às vezes eu queria muito muito morrer ou então ganhar na megasena porque parece que só os extremos me servem uma vez que eu venho vivendo no mediano a vida inteira e vejam bem que eu não estou muito feliz. E eu tô triste, tô velha e a cada dia que passa eu estou mais covarde e não vejo motivação porque eu sou um fracasso e não consigo colocar essa idéia na cabeça alimentando a ilusão de que eu sou alguma coisa hahaha, não sou! E eu sei lá só sei que meu irmão tem um emprego no Amapá e minha mãe me socorre como pode porque ela não é forte como eu mas ela é forte de outras formas e eu admiro muito por isso só que acho que nós duas somos só duas metades doentes de uma mesma fruta podre amarradas aos nossos fracassos e nos enganando durante o meio tempo que separa as situações em que nós nos tocamos que no fim mesmo nada é como disseram pra nós que seria e não há muito o que possamos fazer e que ela sendo passiva e silenciosa e eu explosiva e determinada no fim não deu em nada porque se existe uma força universal ela nos odeia e talvez seja por isso que eu não quero uma filha mulher porque eu acho que seria muita maldade da minha parte por alguém no mundo pra passar por isso que eu passo.

E eu queria dizer que eu queria muito que você ficasse definitivamente dessa vez mas eu sei que logo outra coisa vai te chamar a atenção e você vai embora de novo aos pouquinhos até que eu perceba que fiquei sem você de novo e que por mais que meu psicológico esteja acostumado com isso meu emocional ainda vai se partir em pedaços e eu vou viver normalmente o intervalo que se cria até que você resolva aparecer de novo e bagunçar tudo outra vez pra ir embora outra vez.

Agora que eu terminei isso não sei se realmente quero ler e no fim eu ainda acho que ficou muita coisa a ser dita mas afinal eu só sei dizer o que não tenho medo que mais ninguém saiba então fica aqui dentro a fragilidade real e aqui fora o apelo desesperado de quem só pede socorro por esporte porque realmente a maldita esperança é a última que morre.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sobre Despedidas

Eu não podia evitar a angústia que me sufocava enquanto ele continuava com aquele eterno ar de descaso. Nunca o vi olhando ninguém diretamente nos olhos, sempre olhando pro lado, pra algum ponto no infinito. Eu não posso dizer que gostava REALMENTE dele, mas a questão é que ele era tão fundamental pra minha vida quanto o oxigênio. Eu não podia, não posso viver sem ele. E acho que ele sabia disso e é por isso que ria aquele riso sem mostrar os dentes. O riso superior de quem não está nem aí.

- Mas veja bem, minha querida... Eu gosto muito de você, mas não fui feito pra ficar muito tempo com uma pessoa só.

Suspirei. O pior é que eu sabia que ele estava certo. Quantos iguais a ele já passaram por minhas mãos e nunca ficaram? Todos eles iam embora deixando uma satisfação momentânea e posteriormente, a impotência de não ter feito nada para impedi-lo de ir. Meu consolo era saber que era sempre assim com todos e aqueles que tentavam prendê-lo por muito tempo, acabavam infelizes e insatisfeitos, querendo cada vez mais deles. Eu tinha que passá-lo para frente, simples assim.

- Fique mais um pouco... - Sussurrei mais por convenção do que por convicção.

- Você sabe muito bem que isso só depende de você. Mas infelizmente, é impossível eles... - Olhou com enfado para os referidos - ...e eu - Podia-se notar a forma soberba como ele falava de si mesmo - ficarmos juntos em um mesmo lugar por muito tempo. Quando eles entram na vida de alguém, eu simplesmente deslizo para outras mãos que me queiram mais. Prioridades, querida. Prioridades.

Eu odiava a forma como ele estava sempre certo. Odiava a dependência que eu tinha dele. Observei-o e ele mantinha aquele ar complacente de quem não se ressente de entrar e sair da vida das pessoas o tempo inteiro sem nunca se apegar. Homens, mulheres, jovens, velhos, altos, baixos, gordos, magros, brasileiros e às vezes, até estrangeiros. Ele não tinha preconceitos. Ele podia passar anos ou apenas segundos com uma pessoa. Não se importava. Não nutria-lhes nenhuma estima ou raiva. Fora criado com um único objetivo e se atinha a isso. Qualquer outra tentativa seria apenas para causar-lhe uma dor desnecessária. Se bem que eu constantemente me perguntava... Será que ele sentia algo, mesmo que fosse dor?

- Você gostaria de ficar? - Tentativa inútil, eu sabia.

- Mon chéri, eu não tenho vontades aqui. Quem manda é você. Sou apenas seu escravo, disponível para satisfazer-lhe como você bem entender. - Dedicou-me um breve esboço de sorriso - É claro que eu gostaria de ser bem tratado por todos como você me trata. - Suspirou - Você sabe, adoro morar em um lugar requintado, adoro estar rodeado por marcas. Às vezes, sou colocado em lugares tão apertados que até Deus se pergunta como conseguiram me fazer caber lá. Já fui trocado por certas coisas que você se assustaria se eu contasse. Me apertam, me machucam, me puxam e me estragam sem nenhuma consideração. Mas cada um tem que se contentar com o que lhe foi destinado, não é?

- Sim...

Ele assentiu silenciosamente. Sem forças para lutar contra o inevitável, caminhei segurando-o pela mão, pronta para entregá-lo para aquela mulher elegantemente vestida e muito maquiada que sorria ansiosa para tê-lo. Mas eu sabia que ela era apenas uma intermediária. Não era nas mãos dela que ele iria parar. Mas o que me importava o destino dele agora? Ela foi buscar os dois que o substituiriam na minha vida, o motivo por eu entregá-lo. Enquanto eu aguardava, ouvi-o sussurar:

- Não se preocupe, um dia eu poderei voltar pra você. E se eu não voltar, outros iguais a mim virão. Também aparecerão alguns melhores, outros piores. Mas a vida segue seu curso e você vai aproveitar bastante a companhia dos seus dois novos amigos.

Eu sorri. Ele conseguia ser legal, apesar daquele seu ar de superioridade. A moça veio trazendo os gêmeos e eu sei que naquele momento, meus olhos brilharam de excitação e toda a dificuldade em abrir mão do meu antigo companheiro passou. Entreguei-o nas mãos dela e fui embora com duas novas maravilhosas companhias para casa sem olhar pra trás.

Confesso que depois senti falta dele. Me toquei que haviam mil maneiras diferentes de usufruí-lo. Mas então, olho pro meu lindíssimo par de sapatos novo e penso que aquele dinheiro realmente tinha que ser passado adiante.