quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Sobre Cinema

Certa vez eu li no blog Humorragia um post sobre cinema. Até cheguei a comentar, visto que acho que ir ao cinema é um evento além do simples fato de ir ver um filme. Eu, particularmente, não gosto. E depois de assistir Harry Potter há alguns fins de semana, prometi a mim mesma que listaria os motivos que me fazem preferir assistir filmes em casa a ir ao cinema.

- FILAS

Cinema: Detesto qualquer ambiente em que eu tenha que ficar em uma fila. Desejo as mais terríveis atrocidades para as pessoas que estão na minha frente, principalmente se elas forem do tipo que se enrolam pra encontrar as coisas dentro da bolsa ou se são burras demais pra entender instruções simples. Caixas que ficam fofocando, estão em aprendizagem ou são lentos demais pra fazer o serviço progredir em um ritmo aceitável também ganham uma carga de ódio toda especial. E no cinema você pega filas pra ingresso, pra comprar pipoca, pra usar o banheiro, pra entrar na sala de cinema, pra subir as escadas do cinema, pra sair da sala do cinema, etc.

Em casa: Você não pega filas.

- INVESTIMENTO

Cinema: Os preços de ingressos são bem salgados se você for do tipo que assiste muitos filmes. Claro que há os cinemas mais baratos - que possuem qualidade inferior - e os horários promocionais. Só que se você for um trabalhador assalariado como eu, deve estar cansado de saber que você NUNCA está disponível nos horários promocionais porque é exatamente no horário em que você está trabalhando. Isso sem contar o quanto você paga na pipoca, no refrigerante, no chocolate, nas despesas pra se deslocar de casa, etc.

Em casa: Você pode alugar filmes por preços razoáveis em qualquer locadora ou pode fazer como eu e comprar seus filmes favoritos - hoje em dia você encontra uma infinidade de títulos com valores entre 9,99 e 12,99 na Americanas, por exemplo - e assim prestigiar o trabalho feito pagando por ele, com a vantagem ver o filme quantas vezes quiser sem ter que pagar de novo. Há ainda as possibilidades mais baratas como os DVDs piratas e os downloads feitos pela internet. Os comes e bebes também são mais baratos.

- CONFORTO

Cinema: É a velha lei: Você sempre quer por o pé na poltrona da frente, fica puto quando alguém se senta nela e fica mais puto ainda se alguém ousar por o pé na poltrona em que você está sentado. O ar condicionado está sempre muito frio, ou está estragado e aí tá muito quente. Se for uma sessão cheia, você tem que disputar a tapa o encosto do braço com seus vizinhos de poltrona. Ir ao banheiro? Pegar mais pipoca? Tudo bem, só que você vai perder uma parte considerável do filme. Se as poltronas não forem marcadas, você tem que chegar correndo e dando voadora pra tudo quanto é lado pra pegar um lugar bom. E ainda tem sempre o problema dublado x legendado.

Em casa: Você pode por o pé na poltrona, na mesa e até atrás da sua cabeça se você quiser - e conseguir. Você prepara o lugar pra que fique confortável pra você, arrasta colchões, joga almofadas, cava um buraco pra se enterrar, etc. Também manda tanto na questão da iluminação, quanto na questão da temperatura. No máximo, você disputa o melhor lugar com seu irmão, namorado ou amigo. Qualquer coisa, deite em cima deles mesmo e fica tudo bem. Você também pode pausar o filme, voltar, passar em slow motion, repetir cenas que não entendeu e tudo isso sem nem ter que se levantar. E se você quiser assistir o filme em tailandês com legendas em hindi, também pode fazer isso sem desgastar.

- COMPANHIAS

Cinema: Somente em uma sessão à tarde do pior filme do mundo pra você não ter companhia em uma sala de cinema. Mesmo que você seja descolado e independente do tipo "vou ao cinema sozinho", você sempre terá um bando de estranhos compartilhando sua experiência cinematográfica. E esses estranhos podem ser adolescentes histéricas que gritam. Podem ser aquelas tias folgadas que ocupam a poltrona dela e metade da sua. Podem ser aquelas turmas da escola que ficam fazendo piadinhas e comentários durante o filme. Podem ser aqueles pau no cu que vão no cinema só pra dar spoiler. Podem ser aqueles casais de namorados que ficam se agarrando perto de você. Podem ser aqueles comilões que fazem questão de abrir um saco de batata Ruffles no momento crucial do filme. Podem ser aquelas pessoas que não desligam o celular e só colocam no silencioso e depois ficam acendendo a maldita luz do visor durante o filme. Ou pode ser pior e nem no silencioso elas põem. E podem ser todos eles juntos.

Em casa: Você escolhe suas companhias - e se elas forem pentelhas, a culpa é sua - e se você for assistir um filme sozinho, NINGUÉM vai ficar te olhando com cara de compaixão ou com medo de você ser estranho a ponto de não ter ninguém com quem ir ao cinema.

- QUALIDADE DE ÁUDIO E VÍDEO

Cinema: É o único ponto em que o cinema GERALMENTE ganha. Tela grande, sala completamente escura, boa acústica.

Em casa: Esse diferencial do cinema pode ser superado se você tiver como investir em uma boa televisão e em um home theater. Claro que nem todos podem - ou querem. Mas se você é realmente um cinéfilo, poderia se esforçar pra economizar com o que gasta com cinema e montar o seu próprio. Claro, apenas uma sugestão.

- PEGAÇÃO

Cinema: Muito útil principalmente se você está conhecendo a pessoa agora e mais útil ainda se a tal pessoa for dessas guriazinhas novas que o pai e a mãe controlam demais. Também é uma boa pedida para voyeurs. O chato é que dificilmente você vai conseguir passar de uns amasssos calientes.

Em casa: Você pode fazer tudo o que tem direito e sem perder o filme, pois basta pausar ou depois voltar pra cena em que parou de prestar atenção. Além do mais, quem vai querer só uma punhetinha enquanto pode ter serviço completo, não é mesmo?

- ROUPAS ADEQUADAS

Cinema: Existe todo um ritual de se arrumar pra ir ao cinema, escolher a roupa, levar algo pro caso do ar condicionado estar frio demais, etc.

Em casa, eu posso assistir todo e qualquer filme pelada.

I rest my case.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sobre Murphy (e sobre como eu o contornei)

Madrugada de quinta pra sexta e o rompimento de um curto - mas nem por isso, pouco importante - relacionamento. Um coquetel molotov explode na sua cabeça e se reflete em apertos no peito e uma sensação desesperadora de impotência. Quando se está num relacionamento, você inevitavelmente faz alguns planos a médio e longo prazo. Eu planejei meu Ano Novo e de repente, ele não estava mais lá. Eu estava triste, é claro. Mas eu estava principalmente puta. Muito puta.

Expectativas frustradas são de longe, a melhor forma de me deixar de mal com a vida. Por me conhecer bem, evito compromissos e planos sempre que posso, principalmente porque papai e mamãe me ensinaram a honrar todas as minhas promessas. Para não contrariar minha educação, prefiro não prometer. Mas nem eu, que tento ser um pilar de racionalidade, consigo me manter sempre sob controle. Então lá estava a dois fins de semana de 2011, numa sexta em que não precisava trabalhar por causa de uma confraternização em que eu não queria ir, sob dieta rigorosa que me impedia de encher a cara de sorvete ou cerveja (ou os dois), recém-solteira e com passagens marcadas para um lugar para no qual eu não queria estar.

Nessas horas, tudo o que você sabe é que você não sabe de mais nada. O incêndio causado pelo coquetel molotov ainda está queimando lá dentro e é difícil tomar uma atitude ou fazer uma escolha, pois você tem medo de dar errado mais uma vez. E é nessas horas que você percebe que deve ter feito algo de útil na vida e o universo tenta te dar uma compensação. No meu caso, o presente veio na forma do meu amigo muito querido, Mocó, que veio de Brasília só pra me buscar.

Eu estava um lixo. Na maior parte do tempo calada, perdendo tempo entre racionalizar tudo e tentar apagar as memórias. E ainda assim ele permaneceu sereno e tranquilo. Sem aquele olhar de compaixão e sem aquele ânimo exagerado de "vai, vai, se anima, anda, levanta esse astral, vamo, vamo". É aquela ligação mágica que permite que você fique no mais absoluto silêncio perto de uma pessoa sem que isso fique constrangedor.

Mas Murphy é o tipo de pessoa que sempre se faz presente em nossas vidas, não é mesmo? Entre as várias programações bacanas programadas, uma delas era um casamento. E foi um casamento simples, lindo, doce. E eu, que sempre abominei a idéia de me casar - e qualquer um que me conheça bem sabe disso - de repente me vi com o peito apertado imaginando que aquilo jamais ia acontecer comigo, que ninguém me ama, que ninguém me quer e então eu vou tomar sopa de barata.

Não sendo o suficiente, fomos pra um rodízio de crepe - eu de dieta, lembram? - e lá tínhamos dois recém-casados felizes, além dos vários outros casais. E lá estávamos Mocó e eu, companheiros de downers por motivos diversas. Adivinhem o tema na mesa? Nome de filhos e apelidinhos carinhosos constrangedores. Foi demais pra meu instável estado emocional. Aquela sensação de ser a última pessoa no mundo se apoderou de mim e lá fui eu encher a cara de crepe. No fim da noite, chegando ao prédio do meu amigo e o que tinha no salão de festas? Uma recepção de casamento. Perseguição, trabalhamos. Lá estava aquela sensação de que tudo aquilo era inalcançável pra mim e mimimi bububu.

Então veio o domingo, veio Scott Pilgrim, veio o Matheus lindo demais - sobrinho do Mocó - pra fugir pelo apartamento enquanto eu corria atrás dele, veio o almoço delicioso da tia Cinthia, veio meu afilhado Álvaro, veio sorvete, veio futebol americano, veio a gente sentado na grama curtindo os mosquitos, veio eu comentando do quanto Brasília me assusta, veio o Mocó me levando pra casa, veio planos pro Central RPG, veio chuva e o fim de semana tinha acabado.

Hoje acordei estranhamente bem e fui trabalhar. Eu estava com uma sensação de... alívio. E então eu me lembrei de que eu aprendi a jogar sinuca do nada, das histórias dos colegas de escola do Mocó, do Álvaro catalogando raças de cachorros como se eles fossem pokémons, do Matheus rindo brincando de se esconder comigo, da cadelinha linda que apareceu durante o jogo e correu pra mim, do vídeo sanguinolento e MUITO maneiro que fizeram pro pessoal do rpg live action, do meu Ano Novo que ganhou um novo rumo e que irei passar com minha "família sumareense" + alguns amigos muito queridos, da semana que passarei com minha mãe e minha melhor amiga em Porto Alegre... Me toquei que eu tinha tido um fim de semana incrível e que tinha uma gama de coisas incríveis me esperando ali na frente.

E então, um sms chega ao mesmo tempo que um cara do meu trabalho vem entregar o convite do casamento dele pro meu chefe. E enquanto comentam sobre o assunto, alguém pergunta "E você, Gabriela? Vai casar algum dia?". E depois de ler um "Acho que tô em dívida com você. Será que posso pagar hoje?" a única resposta que eu consegui dar foi "Vai jogar praga em outra, credo!".

Mocó, obrigada por cada abraço, por cada beijo, por cada xêro, por cada colo, por cada ombro amigo, por cada carinho, por cada gentileza, por cada risada, por cada segundo de compreensão, por cada programação divertida e por me trazer de volta pro sol. (P.S.: Mesmo assim, jamais te perdoarei por ter matado aquele Às na sinuca que EU coloquei na boca da caçapa u_u)

Agora galera, adivinhem quem vou publicar esse texto e ir me arrumar pra sair? Acho que tá tudo bem agora, né?

(Além do mais, dívidas são dívidas)

"Até mais e obrigado pelos peixes!"

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Sobre Ano Novo

Decidi que quero começar 2011 com o mínimo de pendências possíveis. Claro que não alimento mais aquela ilusão de que posso resolver os problemas de um ano inteiro em apenas um mês, mas sei que posso me esforçar pra dar o meu melhor. Algumas coisas jamais poderei resolver, algumas idéias sobre mim jamais poderei mudar e algumas amizades estão perdidas pra sempre. Lamento, mas não posso sofrer por isso. No momento, vou me dedicar ao que ainda posso resgatar.

A primeira pessoa que eu tô pedindo desculpas, sou eu mesma. Quero fazer as pazes com essas várias nuances de mim que eu abrigo. Ainda vou manter meus conflitos internos - eu não seria humana se os eliminasse por completo. Mas vou me perdoar mais, vou me amar mais, vou me cuidar mais. Fui tão relapsa comigo, em tantos sentidos. Quero riscar a palavra "auto-sabotagem" do meu dicionário.

As próximas pessoas da lista de desculpas, são os amigos que eu tinha próximo a mim e que perdi com o tempo. Alguns foram apenas um afastamento que acontece em muitas relações - e a esses, quero apenas dizer que ainda os amo e que mesmo que talvez nunca mais sejamos tão íntimos, eles sempre serão importantes pra mim. Outros, eu perdi por brigas, desentendimentos e bobagens que poderiam ser resolvidas na época se eu simplesmente tivesse pedido desculpas, mas que por orgulho, não pedi. A esses eu tenho pedido desculpas tardias e dito que gosto muito deles e que gostaria de tê-los perto novamente. Claro que estou pronta pra aceitar que talvez seja tarde pra ser desculpada. Mas eu prefiro arriscar trazer essas pessoas de volta pra minha vida a perdê-las pra sempre porque fiquei com medinho de tentar.

Depois, vem os agradecimentos àqueles que me aguentaram o ano inteiro. Aquelas pessoas lindas e especiais que conseguiram aprender a me amar de novo a cada novo dia. Claro que nem sempre estivemos juntos, mas mesmo na ausência, era nessas pessoas que eu pensava quando tudo dava errado. Não há palavras pra descrever o quão bom é chegar ao fim de mais um ano mantendo os velhos amigos.

E por fim, vem meus novos amores. Gente que eu conheci no decorrer desse ano e que se tornaram fundamentais na minha vida. Preciso agradecê-los por deixar eu entrar na vida deles, por me darem a chance de me deixar conhecer e de os conhecer também. É sempre gostoso saber que o espaço na sua vida pra novas pessoas não tem limites.

Sei que esse post é clichê, ainda mais nessa época do ano. Mas nem por isso deixa de ser válido. Depois de repensar tudo o que perdi em 2010, percebi que a grande maioria das perdas era reversível e que só dependia de mim, que não agi como devia no momento certo. Agora tô tentando remendar os furos que dão pra consertar e tentar não furar tanto daqui pra frente.

Além do mais, eu gosto de clichês. E usando um pra encerrar esse post: "Antes o arrependimento do erro cometido do que a angústia de nunca ter tentado". Nunca se sabe o que nos espera na próxima esquina ;)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sobre Bebedeira I

Caos aéreo, mercado em expansão e a música "Homem Primata" no Media Player. Foi assim que uma determinada companhia aérea decidiu que queriam se diferenciar das outras em todos os sentidos. Preços, acomodações e tratamento. Alguém sugeriu servir bebidas alcoólicas em todos os vôos de todas as classes - "É para deixar os passageiros mais calmos e maleáveis". Num vôo longo lotado de brasileiros, nada poderia deixar as pessoas mais satisfeitas do que cerveja de graça sendo servida por moças de roupa justa e maquiagem exagerada.

- Temos Skol, Brahma e Antártica, senhor.


- Moça, eu comprei passagem para o paraíso, é isso mesmo?

Risadas entre todos. Cerveja pra todo mundo. Piadinhas de "essa rodada é por minha conta" e pessoas tentando convencer as comissárias que afinal, não havia mal nenhum elas tomarem uma cervejinha também. "Somos todos amigos aqui." Aos poucos elas iam se soltando - "Toma um gole na minha aqui então, vai me fazer essa desfeita?" - e logo logo estavam mandando os próprios passageiros irem buscar a cerveja na minúscula cozinha da aeronave.

- E NÃO ESQUECE DE TRAZER UMA PRA MIM TAMBÉM! - Gritavam com a voz embargada causando gargalhadas e gritos em eco de outros passageiros.


E foi aquela alegria, aquele falatório e as pessoas sociabilizando como jamais haviam feito antes em um vôo. Ahhhhh, nada melhor pra nos aproximar de gente estranha do que uma paixão em comum: A cerveja! Logo, todos eram melhores amigos de infância. Alguns se abraçavam e cantavam e "por favor, não vamos perder contato, me passa seu orkut, seu facebook e seu twitter". Outros já combinavam que quando chegassem ao seu destino, iriam apenas tomar um banho e saírem de novo. "Cara, tô feliz demais por ter te conhecido".

Mas como nem tudo são flores, em dado momento filas gigantes se formavam na porta dos banheiros. A alegria já não era tanta pois as pessoas, impacientes, queriam esvaziar a bexiga para poderem enchê-la novamente. Dois rapazes bastante ébrios lutavam com todas as suas forças pra quebrar uma das janelas do avião ignorando todas as leis (fossem físicas, fossem biológicas, fossem jurídicas). - NÓZ VAMZ MIJAR LÁ EMBAIJOOOOO... VAI JOVER MIJO NA GABEZA DAQUELS VACILAAUM!!! - E lá estavam eles com o pingolim de fora e como não conseguiram quebrar as janelas, começaram a mijar no vidro delas mesmo.


A chefe de cabine vomitava escorada em um canto enquanto choramingava pra um senhor que tinha três queixos do namorado que a traiu com um travesti. - EU ZEMPRE AJEI ESQUISI... ICH... ELE GOZTAR GUI EU ME MAGUIAZI TANTO... ICH. - E em meio a vômito e quilos de rímel escorrido, a mão do seu confessor deslizava por suas coxas subindo cada vez mais. - O ZINHOR NÃO GOSDA DE ZE VISDIR DE MUIÉ NÃO, NÉ?


Dois recém-amigos-de-infância agora brigavam porque... Bem, nem os dois sabiam bem o motivo, mas uma rodinha improvisada já havia se formado e os espectadores jogavam nos brigões alguns amendois dos pacotes que alguém havia encontrado. Ninguém sabia o motivo da briga e menos ainda porque jogavam amendoins, mas todos - inclusive os brigões - pareciam estar achando aquilo imensamente divertido.


É claro que ninguém sabe que isso tudo aconteceu e eu que sei, não posso provar, porque de repente um dos passageiros gritou "EU É QUE VOU GIRIGIR (?) EZA BAGAÇA!" e com a ajuda de seus súditos - os anarquistas estão em todos os lugares, lembrem-se disso - conseguiu invadir a cabine de comando, nocauteou o piloto e o co-piloto e assumiu os controles. - ATENZÃO ATENZÃO SENHORES PASSAGEIROS... AQUI VALA O ZEU COMANDANTE, E O ZEU COMANDANTE VALOU PRA TODO MUNDO POR A MÃO NA CABEZAAAA!!!


O avião caiu no meio do mar e seu último contato com a torre foi um coral de pessoas cantando "ÊÊÊÊ MACARENA, AAAI!"

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sobre Forever Alone

Ela puxa o ar até sentir que seus pulmões estão em sua capacidade máxima e olha pra cima abanando os olhos para que as lágrimas sequem antes que escorram e sua maquiagem borre. Então ela solta o ar, pesado, como se cada palavra entalada no peito, como se cada lágrima que secou ali no desespero, como se toda a dor que ela sentia saísse amarrada ao gás carbônico que agora despejava pra fora.

Então ela força um sorriso e diz "bom dia, tudo bom?" pra um daqueles vários chefes do interior que ela não sabia diferir um do outro. E ela faz piadas, e brincam com ela sobre futebol - "e o Corinthians, heim?" -, e lhe contam histórias. E ela ri. E ela responde ("Vai ser campeão!"). E ela ouve. E ela parece normal, mas na verdade ela só está olhando pra cima discretamente rezando pra não chorar agora. E então ela finge que boceja pra uma lagriminha insistente cair e parecer apenas que ela está sonolenta demais.

Ela vai pra casa e está sozinha, porque sua amiga viajou de última hora (como sempre). É sempre assim. Elas combinavam ir juntas, mas surge uma oportunidade imperdível pra amiga - "ah, vai logo e a gente se vê lá" - e então ela vai só. E na maior parte das vezes por uma obrigação social que ela não pode fugir.

E não há nada nem ninguém que realmente aplaque aquele vazio. E ela pensa que talvez as pessoas que entraram na sua vida nos últimos meses possam finalmente preencher o vácuo, mas não. Ela preenche a vida das outras pessoas, mas ninguém preenche a dela - "estão ocupados demais com eles mesmos". Então ela se preenche com a vida de outras pessoas e com risadas de pessoas que talvez tenham morrido e com histórias que ela gostaria que acontecessem a ela. E ela ri e chora, mas quando ela chora ela tem que pausar tudo até que os soluços parem porque agora não há mais ninguém pra quem ela tenha que sorrir.

E então o celular toca e ela limpa as lágrimas e a garganta e alguém do outro lado precisa dela.

- Calma, vai ficar tudo bem. Eu tô aqui.

E sim, ela estava ali e faria tudo pra ficar bem. Uma pena que ela não tivesse ninguém pra fazer isso por ela.

E lá vai ela puxando o ar até sentir que seus pulmões vão explodir...