quarta-feira, 22 de junho de 2011

Sobre Mulheres II

- Você tá linda.

Ela ri. Ri com os elogios. Ri com os olhos dele brilhando quando olha pra ela se trocando. Ri quando ele abre aquele sorrisão quando ela chega. Ri quando ele fica encarando ela depois do sexo. Ela ri de tudo, do jeito bobo, do quanto ele é manhoso, dos beijos roubados, das promessas vazias.

Sim, vazias. Porque todas as promessas começam com um "se" antes. E um "se" concretizado, daqueles que só fazem as frases serem impossíveis na realidade e cheias de possibilidades em uma imaginação fértil. Ela diz que não acredita - e eu acredito que em alguma parte dela ela realmente não acredita - mas aquilo entra pelo ouvido e vai perturbar lá no coração. Ela não alimenta esperanças no impossível, mas ela só quer ser especial, sabe?

Ela não quer ser a namorada, não quer andar de mãozinhas dadas, não quer cuidar da casa e dele. Ou pelo menos, ela diz que não quer porque já se conformou com aquilo que não pode ter. Mas ela quer ser querida, quer que ele ligue, quer que ele sinta saudades, quer ser única em alguma coisa. Ela quer que ele a queira. E parece assim às vezes, quando ele liga e diz que tá esperando. Quando ele diz que tava morrendo de saudades. Quando ele pede pra ela ficar com ele ali abraçada até eles dormirem. Só que depois ele some e sabe lá Deus quando aparece de novo, recomeçando o ciclo.

Ela sofre, está confusa. Vai procurar uma amiga, pedir conselhos, pedir uma explicação. E quando ela conta tudo isso, a amiga - realista demais pra se deixar levar pelos risos, olhos brilhando e todas essas definições que ela categoriza como viadice - vê o panorama se formar perfeitamente diante de si e dá o veredicto:

- Amiga, você é só um buraco e te tratar assim é a forma dele te manter como um buraco garantido pra quando ele quiser. - Ela chora, mas a amiga encerra sem piedade - Esperar encontrar alguém que goste de você é um direito, mas esperar que milagres aconteçam é burrice.

Ela concorda, limpa as lágrimas, dá uma última soluçada e sorri. Começa a fazer mil planos para uma vida sem ele, combina de sair com a amiga, vai comprar uma roupa nova e diz pra si mesma que ele não a merece e que vai esquecê-lo.

Mas quando ele liga mais tarde perguntando porque ela sumiu, ela dá um bolo na amiga, dá um chute no amor próprio e vai dar pra ele.

Parabéns a todos os envolvidos.

sábado, 4 de junho de 2011

Sobre Hoje

Junho de dois mil e onze e cá estou eu, tentando justificar minha ausência. Mês de maio passou e levou junto o aniversário de um ano do blog, o que é uma grande satisfação pra mim, visto que não sou muito boa em manter as coisas por tanto tempo. Uma pena que eu não tenha comemorado. Uma pena que eu não tenha pensado em nenhum texto bacana pra marcar esse momento. Tudo o que posso fazer é escrever esse texto contando um pouco da minha vida nos últimos meses.

Cheguei em Crixás há três meses e ao contrário do que eu imaginava, não voltei pra uma vida que deixei há sete anos atrás. Eu voltei pra um lugar familiar, um lugar confortável, um lugar onde me sinto segura mas definitivamente, um lugar diferente. Em casa as coisas são diferentes. Ao invés da tensão constante de uma esposa e dois filhos escravizados pelo medo e um marido/pai metido a senhor feudal, encontrei um ambiente onde as pessoas amadureceram. Onde os que tinham medo aprenderam a dizer não, a defender seus pontos de vista, a não se deixar intimidar. Onde o que se achava dono do mundo foi obrigado a conviver com a idéia de que ele não mete mais medo como antes, que respeito é conquistado e não imposto. É claro, meu pai ainda consegue ser absolutamente diabólico às vezes. Chegou a tentar me bater uma vez e me ameaçar uma outra. Se ele conseguir efetivar o intento alguma das vezes, é melhor ele se preparar pro estrago que sou capaz de fazer. Ele está avisado. Todos estão. Defini pra mim que não vou permitir que nunca vou aceitar ninguém me oprimir.

Meus amigos agora são outros. É estranho voltar para o interior onde você nasceu e cresceu e descobrir que poucas pessoas sabem quem você é. Hoje, a maioria das pessoas com quem convivo são pessoas que eu não conhecia antes. Ou pessoas que eu achava que conhecia, mas só agora descobri que não era bem assim. Esse tempo que eu morei fora me deu a oportunidade de começar de novo nas minhas próprias origens. Me deu a chance de ser uma pessoa estranha e ao mesmo tempo, familiar. E também me permitiu enxergar melhor pessoas que eu já conhecia e nunca dei o devido valor. Ou que valorizei mais do que deveria.

É claro, os velhos amigos permanecem. Aqueles que mesmo com a distância, fizeram parte da minha vida nos últimos anos. Esses são as constantes da minha vida. Toda a fórmula pode mudar, mas eles permanecem fazendo parte do resultado final.

Comecei a fazer faculdade de Administração, tô trabalhando em um escritório de contabilidade, comprei uma moto, jogo futebol três vezes por semana, saio pra comer e/ou beber uma cervejinha sempre que posso, danço sempre que tenho oportunidade, passo o máximo de tempo que consigo com a minha mãe, ando um pouquinho mais próxima do meu irmão, tô treinando minha paciência com a minha avó, assisto a corrida todos os domingos com meu pai, arrumei uns peguetes novos - e alguns não tão novos assim - e todo dia quando chego em casa tenho três cachorros que vêm me receber no portão e que transformam até os piores dias em algo melhor. Minha vida social é bem agitada por aqui - não que as programações sejam - e todos os dias eu tenho que tirar um tempinho pra ir ver alguém, o que, embora não tenha matado de vez minha vida virtual, mandou a mesma em coma para a UTI sem previsão de melhoras. É por isso que não apareço mais aqui, nas redes sociais e nos mensageiros da vida com muita frequência. Até as longas ligações via celular perderam espaço, me cansam. Depois de tanto tempo, eu tenho uma vida real que me ocupa e o tempo que sobra dedico com todo amor do mundo à minha cama.

Eu me redescobri, redescobri minha cidade, redescobri as pessoas. Eu, que sempre tive fama de metida e intimidadora, tenho recebido comentários de que eu pareço mais tranquila e provavelmente é o reflexo dessa nova postura que tem possibilitado que mais gente se aproxime de mim. Eu tô feliz. Todos os dias, em algum momento, eu me sinto realmente feliz.

Sinto saudades do blog, dos RPGs da vida, de escrever e de sentir o feedback...

... é só que viver consome muito tempo.