segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sobre Despedidas

Eu não podia evitar a angústia que me sufocava enquanto ele continuava com aquele eterno ar de descaso. Nunca o vi olhando ninguém diretamente nos olhos, sempre olhando pro lado, pra algum ponto no infinito. Eu não posso dizer que gostava REALMENTE dele, mas a questão é que ele era tão fundamental pra minha vida quanto o oxigênio. Eu não podia, não posso viver sem ele. E acho que ele sabia disso e é por isso que ria aquele riso sem mostrar os dentes. O riso superior de quem não está nem aí.

- Mas veja bem, minha querida... Eu gosto muito de você, mas não fui feito pra ficar muito tempo com uma pessoa só.

Suspirei. O pior é que eu sabia que ele estava certo. Quantos iguais a ele já passaram por minhas mãos e nunca ficaram? Todos eles iam embora deixando uma satisfação momentânea e posteriormente, a impotência de não ter feito nada para impedi-lo de ir. Meu consolo era saber que era sempre assim com todos e aqueles que tentavam prendê-lo por muito tempo, acabavam infelizes e insatisfeitos, querendo cada vez mais deles. Eu tinha que passá-lo para frente, simples assim.

- Fique mais um pouco... - Sussurrei mais por convenção do que por convicção.

- Você sabe muito bem que isso só depende de você. Mas infelizmente, é impossível eles... - Olhou com enfado para os referidos - ...e eu - Podia-se notar a forma soberba como ele falava de si mesmo - ficarmos juntos em um mesmo lugar por muito tempo. Quando eles entram na vida de alguém, eu simplesmente deslizo para outras mãos que me queiram mais. Prioridades, querida. Prioridades.

Eu odiava a forma como ele estava sempre certo. Odiava a dependência que eu tinha dele. Observei-o e ele mantinha aquele ar complacente de quem não se ressente de entrar e sair da vida das pessoas o tempo inteiro sem nunca se apegar. Homens, mulheres, jovens, velhos, altos, baixos, gordos, magros, brasileiros e às vezes, até estrangeiros. Ele não tinha preconceitos. Ele podia passar anos ou apenas segundos com uma pessoa. Não se importava. Não nutria-lhes nenhuma estima ou raiva. Fora criado com um único objetivo e se atinha a isso. Qualquer outra tentativa seria apenas para causar-lhe uma dor desnecessária. Se bem que eu constantemente me perguntava... Será que ele sentia algo, mesmo que fosse dor?

- Você gostaria de ficar? - Tentativa inútil, eu sabia.

- Mon chéri, eu não tenho vontades aqui. Quem manda é você. Sou apenas seu escravo, disponível para satisfazer-lhe como você bem entender. - Dedicou-me um breve esboço de sorriso - É claro que eu gostaria de ser bem tratado por todos como você me trata. - Suspirou - Você sabe, adoro morar em um lugar requintado, adoro estar rodeado por marcas. Às vezes, sou colocado em lugares tão apertados que até Deus se pergunta como conseguiram me fazer caber lá. Já fui trocado por certas coisas que você se assustaria se eu contasse. Me apertam, me machucam, me puxam e me estragam sem nenhuma consideração. Mas cada um tem que se contentar com o que lhe foi destinado, não é?

- Sim...

Ele assentiu silenciosamente. Sem forças para lutar contra o inevitável, caminhei segurando-o pela mão, pronta para entregá-lo para aquela mulher elegantemente vestida e muito maquiada que sorria ansiosa para tê-lo. Mas eu sabia que ela era apenas uma intermediária. Não era nas mãos dela que ele iria parar. Mas o que me importava o destino dele agora? Ela foi buscar os dois que o substituiriam na minha vida, o motivo por eu entregá-lo. Enquanto eu aguardava, ouvi-o sussurar:

- Não se preocupe, um dia eu poderei voltar pra você. E se eu não voltar, outros iguais a mim virão. Também aparecerão alguns melhores, outros piores. Mas a vida segue seu curso e você vai aproveitar bastante a companhia dos seus dois novos amigos.

Eu sorri. Ele conseguia ser legal, apesar daquele seu ar de superioridade. A moça veio trazendo os gêmeos e eu sei que naquele momento, meus olhos brilharam de excitação e toda a dificuldade em abrir mão do meu antigo companheiro passou. Entreguei-o nas mãos dela e fui embora com duas novas maravilhosas companhias para casa sem olhar pra trás.

Confesso que depois senti falta dele. Me toquei que haviam mil maneiras diferentes de usufruí-lo. Mas então, olho pro meu lindíssimo par de sapatos novo e penso que aquele dinheiro realmente tinha que ser passado adiante.

4 comentários:

  1. preciso falar que amei?
    IUEHUEIEUHIEHUEHEHHEIEHEHIUEHEU


    ri demais <3

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  2. AUSHUAHSUAHSUAHUSHAUHSUAHSUHAU'

    rachei ;P

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  3. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Quantas vezes já disse que vc é um gênio Biela? kkkkk

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  4. Sério, sério mesmo que no começo fiquei com uma postura séria, respeitando o sentimento do texto, quando surgiu os dois novos amigos eu até imaginei cachorros, mas sapatos... totalmente inusitado. Ri muito no final, ótimo texto.
    "o anônimo"

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