quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sobre Forever Alone

Ela puxa o ar até sentir que seus pulmões estão em sua capacidade máxima e olha pra cima abanando os olhos para que as lágrimas sequem antes que escorram e sua maquiagem borre. Então ela solta o ar, pesado, como se cada palavra entalada no peito, como se cada lágrima que secou ali no desespero, como se toda a dor que ela sentia saísse amarrada ao gás carbônico que agora despejava pra fora.

Então ela força um sorriso e diz "bom dia, tudo bom?" pra um daqueles vários chefes do interior que ela não sabia diferir um do outro. E ela faz piadas, e brincam com ela sobre futebol - "e o Corinthians, heim?" -, e lhe contam histórias. E ela ri. E ela responde ("Vai ser campeão!"). E ela ouve. E ela parece normal, mas na verdade ela só está olhando pra cima discretamente rezando pra não chorar agora. E então ela finge que boceja pra uma lagriminha insistente cair e parecer apenas que ela está sonolenta demais.

Ela vai pra casa e está sozinha, porque sua amiga viajou de última hora (como sempre). É sempre assim. Elas combinavam ir juntas, mas surge uma oportunidade imperdível pra amiga - "ah, vai logo e a gente se vê lá" - e então ela vai só. E na maior parte das vezes por uma obrigação social que ela não pode fugir.

E não há nada nem ninguém que realmente aplaque aquele vazio. E ela pensa que talvez as pessoas que entraram na sua vida nos últimos meses possam finalmente preencher o vácuo, mas não. Ela preenche a vida das outras pessoas, mas ninguém preenche a dela - "estão ocupados demais com eles mesmos". Então ela se preenche com a vida de outras pessoas e com risadas de pessoas que talvez tenham morrido e com histórias que ela gostaria que acontecessem a ela. E ela ri e chora, mas quando ela chora ela tem que pausar tudo até que os soluços parem porque agora não há mais ninguém pra quem ela tenha que sorrir.

E então o celular toca e ela limpa as lágrimas e a garganta e alguém do outro lado precisa dela.

- Calma, vai ficar tudo bem. Eu tô aqui.

E sim, ela estava ali e faria tudo pra ficar bem. Uma pena que ela não tivesse ninguém pra fazer isso por ela.

E lá vai ela puxando o ar até sentir que seus pulmões vão explodir...

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