segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sobre Murphy (e sobre como eu o contornei)

Madrugada de quinta pra sexta e o rompimento de um curto - mas nem por isso, pouco importante - relacionamento. Um coquetel molotov explode na sua cabeça e se reflete em apertos no peito e uma sensação desesperadora de impotência. Quando se está num relacionamento, você inevitavelmente faz alguns planos a médio e longo prazo. Eu planejei meu Ano Novo e de repente, ele não estava mais lá. Eu estava triste, é claro. Mas eu estava principalmente puta. Muito puta.

Expectativas frustradas são de longe, a melhor forma de me deixar de mal com a vida. Por me conhecer bem, evito compromissos e planos sempre que posso, principalmente porque papai e mamãe me ensinaram a honrar todas as minhas promessas. Para não contrariar minha educação, prefiro não prometer. Mas nem eu, que tento ser um pilar de racionalidade, consigo me manter sempre sob controle. Então lá estava a dois fins de semana de 2011, numa sexta em que não precisava trabalhar por causa de uma confraternização em que eu não queria ir, sob dieta rigorosa que me impedia de encher a cara de sorvete ou cerveja (ou os dois), recém-solteira e com passagens marcadas para um lugar para no qual eu não queria estar.

Nessas horas, tudo o que você sabe é que você não sabe de mais nada. O incêndio causado pelo coquetel molotov ainda está queimando lá dentro e é difícil tomar uma atitude ou fazer uma escolha, pois você tem medo de dar errado mais uma vez. E é nessas horas que você percebe que deve ter feito algo de útil na vida e o universo tenta te dar uma compensação. No meu caso, o presente veio na forma do meu amigo muito querido, Mocó, que veio de Brasília só pra me buscar.

Eu estava um lixo. Na maior parte do tempo calada, perdendo tempo entre racionalizar tudo e tentar apagar as memórias. E ainda assim ele permaneceu sereno e tranquilo. Sem aquele olhar de compaixão e sem aquele ânimo exagerado de "vai, vai, se anima, anda, levanta esse astral, vamo, vamo". É aquela ligação mágica que permite que você fique no mais absoluto silêncio perto de uma pessoa sem que isso fique constrangedor.

Mas Murphy é o tipo de pessoa que sempre se faz presente em nossas vidas, não é mesmo? Entre as várias programações bacanas programadas, uma delas era um casamento. E foi um casamento simples, lindo, doce. E eu, que sempre abominei a idéia de me casar - e qualquer um que me conheça bem sabe disso - de repente me vi com o peito apertado imaginando que aquilo jamais ia acontecer comigo, que ninguém me ama, que ninguém me quer e então eu vou tomar sopa de barata.

Não sendo o suficiente, fomos pra um rodízio de crepe - eu de dieta, lembram? - e lá tínhamos dois recém-casados felizes, além dos vários outros casais. E lá estávamos Mocó e eu, companheiros de downers por motivos diversas. Adivinhem o tema na mesa? Nome de filhos e apelidinhos carinhosos constrangedores. Foi demais pra meu instável estado emocional. Aquela sensação de ser a última pessoa no mundo se apoderou de mim e lá fui eu encher a cara de crepe. No fim da noite, chegando ao prédio do meu amigo e o que tinha no salão de festas? Uma recepção de casamento. Perseguição, trabalhamos. Lá estava aquela sensação de que tudo aquilo era inalcançável pra mim e mimimi bububu.

Então veio o domingo, veio Scott Pilgrim, veio o Matheus lindo demais - sobrinho do Mocó - pra fugir pelo apartamento enquanto eu corria atrás dele, veio o almoço delicioso da tia Cinthia, veio meu afilhado Álvaro, veio sorvete, veio futebol americano, veio a gente sentado na grama curtindo os mosquitos, veio eu comentando do quanto Brasília me assusta, veio o Mocó me levando pra casa, veio planos pro Central RPG, veio chuva e o fim de semana tinha acabado.

Hoje acordei estranhamente bem e fui trabalhar. Eu estava com uma sensação de... alívio. E então eu me lembrei de que eu aprendi a jogar sinuca do nada, das histórias dos colegas de escola do Mocó, do Álvaro catalogando raças de cachorros como se eles fossem pokémons, do Matheus rindo brincando de se esconder comigo, da cadelinha linda que apareceu durante o jogo e correu pra mim, do vídeo sanguinolento e MUITO maneiro que fizeram pro pessoal do rpg live action, do meu Ano Novo que ganhou um novo rumo e que irei passar com minha "família sumareense" + alguns amigos muito queridos, da semana que passarei com minha mãe e minha melhor amiga em Porto Alegre... Me toquei que eu tinha tido um fim de semana incrível e que tinha uma gama de coisas incríveis me esperando ali na frente.

E então, um sms chega ao mesmo tempo que um cara do meu trabalho vem entregar o convite do casamento dele pro meu chefe. E enquanto comentam sobre o assunto, alguém pergunta "E você, Gabriela? Vai casar algum dia?". E depois de ler um "Acho que tô em dívida com você. Será que posso pagar hoje?" a única resposta que eu consegui dar foi "Vai jogar praga em outra, credo!".

Mocó, obrigada por cada abraço, por cada beijo, por cada xêro, por cada colo, por cada ombro amigo, por cada carinho, por cada gentileza, por cada risada, por cada segundo de compreensão, por cada programação divertida e por me trazer de volta pro sol. (P.S.: Mesmo assim, jamais te perdoarei por ter matado aquele Às na sinuca que EU coloquei na boca da caçapa u_u)

Agora galera, adivinhem quem vou publicar esse texto e ir me arrumar pra sair? Acho que tá tudo bem agora, né?

(Além do mais, dívidas são dívidas)

"Até mais e obrigado pelos peixes!"

7 comentários:

  1. Ah, Gêmea. Já te disse o quão incrível é essa habilidade que você tem de narrar histórias como se estivesse contando um filme, e então fazer com que todos imaginem, e se identifiquem, com o que cê vive? Já devo ter dito, sim.
    Espero que você e essa sua amiga aí se divirtam em Porto Alegre. Dizem que o Rio Grande do Sul é um terra ótima, só tem gente linda.
    Bêjo e xêro!

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  2. E a família sumareense sou EU, ok.
    <3 -q

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  3. Adoro o jeito claro que você escreve as coisas. Um dia ainda domarei meu consciente caótico e incoerente para escrever um uma coisa linda como essa: "Então lá estava a dois fins de semana de 2011, numa sexta em que não precisava trabalhar por causa de uma confraternização em que eu não queria ir, sob dieta rigorosa que me impedia de encher a cara de sorvete ou cerveja (ou os dois), recém-solteira e com passagens marcadas para um lugar para no qual eu não queria estar."

    tão fluido. até parece gente

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  4. Vô chorar (Vô não, pq sou mutchomacho). Mas eu é que agradeço por ter jogado tudo pro alto e ter vindo me acompanhar nesse fim de semana corrido.
    Sempre que quiser, pode vir. As portas (de casa e do carro rs), estão sempre abertas pra você. =]
    Desculpa ter feito vc sair da dieta, mas a verdade é que eu tava pouco me fudendo pra ela. Tava me dando agonia você só na soda light, fala sério. rs

    Bjoo, Biela. Tamo junto! S2

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  5. Até crise nos relacionamente a gente escolhe o final de semana pra ter, é muito amor.

    Sabe que sempre pode se refugiar no Império Baiano, né?

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  6. Pô, Biela..
    acho legais seus post's..
    Massa ver as amizades que você tem..
    Grande abraço!!

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  7. Sim eu catalogo muito bem cachorros =D
    E foi ótimo te ver, mesmo que só por uma tarde, e de um jeito ou outro a gente sempre ri com os nossos comentários bobos e pensamentos iguais.
    Te amo mto !

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