domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sobre Evolução

A tarde está quente e não há nada pra fazer. Então escrevi algo que há muito tempo venho pensando. Essa é a introdução do meu livro que eu jamais escreverei.

Lembro-me de um dia em que minha professora de biologia nos falava das possíveis evoluções genéticas humanas nas quais perderíamos partes do corpo meramente estéticas, como o cabelo e o mindinho do pé, pois o corpo descartaria o desnecessário. Não acredito nesse tipo de evolução mais, não a essa altura. Talvez abandonemos os cabelos quando a água potável acabar e seja mais importante sobreviver que tomar banho, e aí já não teremos sapatos para apertarem os mindinhos. Mas será uma opção - ou a falta de uma - e não creio que isso seja uma evolução.

Acredito que eu sou a personificação da evolução humana. Ainda tenho meus cabelos e meus dedinhos, que além de ficarem apertados nos sapatos, possuem um detector natural para quinas de móveis, mas tenho um intelecto superior. Não porque eu seja mais inteligente, esperto ou qualquer um desses outros conceitos subjetivos. A diferença é que eu sou o tipo de humano que mais dista dos animais. Meus instintos são preservados por mera necessidade de sobreviver, mas até hoje, eu nunca os usei. É tudo uma questão de raciocínio e mesmo quando minhas atitudes condizem com os instintos naturais, acredite, eu pensei antes.

Me chamo John. Não que meu nome seja John, mas é assim que eu gosto de me chamar. Isso porque é mais fácil pra você me respeitar se meu nome for John. Jhons são agentes do FBI, são senadores incorruptíveis que ambicionam a presidência dos EUA, são pais de família que se tornam heróis salvando o país de uma grande catástrofe. Se eu dissesse que me chamo João, que imagem você faria? João, meu avô, contador de histórias. João, peão que trabalhou na obra lá de casa. João, seu João. No máximo, eu poderia adicionar um "Pedro" ou "Henrique" na frente do João e então, você me associaria com um mimado playboy carioca que sai à noite socando mulheres em pontos de ônibus.

O nome é muito importante em uma história. Você idolatraria Tyler Durden da mesma forma se o nome dele fosse João Silva? "As pessoas estão sempre me perguntando se eu conheço João Silva." Conheço muito o seu João, porteiro do meu prédio.

Eu sou homem, ao menos pra contar essa história. Porque histórias assim não podem ser contadas por mulheres. Mulheres são loucas sempre desesperadas por um relacionamento. E quando não, quando estão focadas na carreira, quando gostam de hobbys masculinos, elas estão só tentando se auto-afirmar. Elas estão tentando só provar aos homens que são iguais, que podem ser iguais. Elas não são aquilo, mas elas querem ser admiradas, e aquela é a forma que encontraram pra compensar o fato de que talvez não tenham competência para um relacionamento. Ou talvez elas só prefiram se apegar a algo que só dependa delas do que se amarrarem em uma relação que provavelmente irá fracassar.

Tudo fracassa mais cedo ou mais tarde.

É claro que eu não sei se nada disso é verdade realmente. Mas a verdade não importa aqui. É isso o que eu penso. É isso o que eu penso que você pensa. É isso o que você pensa. O fato é que essa história não pode ser contada por um João ou por uma mulher. Meu nome é John e essa é a história que eu acho que você quer ouvir.

3 comentários:

  1. Odiei ele. Nega os instintos, porco imundo.

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  2. Eu, por outro lado, adorei. Pessoas assim me interessam, mas de forma meio distante...
    Enfim, talvez pela falta de pingos de humor que tu costuma fazer, eu nunca adivinharia que esse texto era seu, Bi.

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  3. Talvez a maioria não lembre dos nomes de quem fez a História. Talvez a minoria se lembre de quem não fez a História. Se John fosse Da Vinci, ou se fosse um tal de Pedro que deu um grito pela Independência de um paisinho desses de terceiro mundo, talvez não teriam o mesmo destino. Talvez as mesmas decisões não seriam tão perfeitamente calculadas, precisas. Hoje John, a vida é mais que uma metáfora. É conveniente a gente viver o agora e fugir do amanhã. É o medo da gente acordar e perceber fatidicamente que crescemos. Que quem dá as cartas agora somos nós. Talvez há mais tempo que vemos. Mas amanhã John, espero que acorde João ou Gabriela. Espero que acorde a sua faceta mais sincera ou, a menos confusa. Hoje abrimos o teatro ao público, para não esperar o drama que você tanto já suportou. Hoje não sou mais o Contador de Histórias. Mas ontem eu também não era. E amanhã, John, meu caro John, a gente discute sobre ser. Tudo que é complexo, um dia se transluz simples, porém verdadeiro. De complexidades ambos entendemos, certo?

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